Folha de S. Paulo
As famílias muitas vezes entram e saem dessa
condição de maneira cíclica
O combate à pobreza abrange a promoção da
equidade racial, o acesso à justiça e a inclusão racial
A pobreza não é um fracasso pessoal, é uma falha
sistêmica, uma negação da dignidade e dos direitos humanos. A afirmação feita
pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, no Dia Internacional para a Erradicação
da Pobreza (17/10), diz muito sobre a realidade do povo brasileiro.
Pessoas negras (pretos e pardos) representam a maioria dos que se encontram em situação de pobreza no nosso país. Para se ter uma ideia, entre 2012 e 2023, mais de 60% dos negros tinham renda de no máximo um salário mínimo. Nesse período, a renda média nos domicílios com pretos e pardos foi menos da metade da auferida nos domicílios sem negros (Cedra).
No Brasil, a expectativa de vida de mulheres
e homens negros chega a ser seis anos menor do que a dos brancos
em razão de fatores decorrentes da pobreza, que expõe os mais pobres a doenças
ligadas à falta de saneamento
básico, à alimentação inadequada e à violência urbana.
Quem vive em situação de pobreza experimenta
múltiplas privações que se conectam reforçando as carências e dificultando o
acesso efetivo a direitos e garantias constitucionais. Um rol exemplificativo
inclui o direito à moradia digna, nutrição adequada, trabalho decente,
inclusão social, educação de qualidade e saúde.
Verdade que o país entrou num ciclo de
redução da pobreza e da desigualdade nos últimos quatro anos, o que permitiu
que quase 9 milhões de pessoas deixassem a chamada linha da pobreza (IBGE). Mas
é muito importante lembrar que a pobreza é dinâmica, ou seja, as famílias
muitas vezes entram e saem dessa condição de maneira cíclica.
Nesse sentido, impedir que as pessoas voltem
para a pobreza é tão importante quanto tirá-las dessa condição.
E é aí que entram programas sociais de
transferência de renda e políticas públicas de redução das desigualdades. O
combate à pobreza abrange a promoção da equidade racial, o acesso à justiça e a inclusão racial. Afinal de contas, pobreza não é um
fracasso pessoal.
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