sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Os três 'culpados', segundo o governo pela queda da MP e a volta à prancheta. Por Míriam Leitão

O Globo

Em conversas com integrantes do governo, a avaliação é de que a derrubada da Medida Provisória 1303 pode ser atribuída a três pessoas: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o secretário Gilberto Kassab, presidente do PSD, e também o senador Ciro Nogueira.

— Há digitais dos três por todo o Congresso —disse essa fonte.

A articulação da oposição junto a parlamentares teve como argumento central o impacto da medida nas receitas do governo em 2026, ano eleitoral. Isso mostra que não houve análise técnica — e que 2026, para o jogo político, já começou.

Com o arquivamento da MP, a equipe econômica voltou para a prancheta — foi o que ouvi no Ministério da Fazenda após o arquivamento da MP 1303. A busca agora é por alternativas que possam prescindir do Congresso, porque o ambiente político está muito difícil. Para este ano, o impacto deve ser minimizado com o IOF, como sinalizou o ministro Fernando Haddad na chegada ao Ministério da Fazenda nesta manhã.

Há uma grande hipocrisia na narrativa da oposição ao dizer, como fez o deputado Sóstenes Cavalcante, que a MP aumentaria impostos “sobre o povo”. Não havia imposto sobre o povo previsto na medida. Havia, sim, aumento de tributação sobre as bets, uma atividade com impactos negativos já bem documentados — inclusive na saúde financeira de pessoas mais vulneráveis. Esse foi o lobby mais forte. A pressão foi tamanha que o governo, na tentativa de salvar a medida, acabou abrindo mão do aumento da taxação sobre as plataformas de apostas.

A proposta também previa também impostos sobre grandes fintechs que já funcionam como bancos, mas pagam menos tributos que instituições financeiras tradicionais. Outro ponto era a tributação dos títulos isentos — LCI, LCA, CRIs e CRAs. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, classificou como absurdo o fato de esses papéis não serem taxados, pois geram distorções no mercado.

Essa análise da MP 1303 foi tudo, menos técnica. E definitivamente não foi uma reação contra impostos “sobre o povo”. Ao enterrar a MP, a oposição também enterrou propostas que permitiriam em 2026 o corte de R$ 10 bilhões em gastos públicos e frustrou uma arrecadação potencial de R$ 20 bilhões — tudo isso com base em lobby de setores que hoje pagam pouco ou nenhum imposto.

— Tínhamos perdido cerca de R$ 3 bilhões com as negociações feitas até terça-feira — explica a fonte.

Com o arquivamento da MP, de um lado, venceram os lobbies — alguns, claramente indecorosos. De outro, fez-se política. Afinal, as pesquisas já mostram melhora na popularidade do governo Lula, o que muda o jogo.

 

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