Folha de S. Paulo
Empresas terão de pedir permissão para
negociar produtos e tecnologia relacionadas
Comércio do produto está no centro do
conflito econômico entre americanos e chineses
A China vai fechar a
porteira da venda e do uso de terras raras e de tecnologias
relacionadas. Empresas e indivíduos, em especial estrangeiros, terão de pedir
permissão para negociar terras raras e produtos que contenham terras raras
chinesas. Ou que sejam produzidos no exterior e utilizem "tecnologias
originárias da China para mineração, fundição e separação de terras raras,
fundição de metais, fabricação de materiais magnéticos ou reciclagem de
recursos secundários de terras raras".
É o que diz um comunicado desta quinta do Ministério do Comércio da China. Vendas para uso militar desses produtos serão vetadas; para a fabricação de chips, estarão sujeitas à análise caso a caso.
A decisão pode abalar a produção de tecnologia avançada
no mundo, chips de inteligência artificial inclusive. É pelo menos um movimento
forte, ameaça, no conflito geoeconômico. O investimento em IA, o americano em
especial, e vendas de produtos relacionados são ora o fator principal de crescimento
da economia e do comércio do mundo.
No final do mês, Donald Trump e
Xi Jinping devem se encontrar. No começo de novembro, vence a trégua da guerra
comercial entre EUA e China. Terras raras estão no centro da
disputa econômica entre os dois países.
Depois de abril, do megatarifaço trumpiano, a
China segurou as exportações do produto, prejudicando fábricas nos EUA e na
Europa. Foi um motivo que levou Trump a aliviar o ataque econômico à China.
Terras raras
são 17 elementos químicos até em geral abundantes, mas de extração e
processamento difíceis e caros, processos que de resto produzem resíduos radioativos.
A China agora limitou de modo estrito e formal a venda ou o uso de 12 desses
elementos. Extrai cerca de 60% das terras raras do mundo, processa uns 90%.
O país reage de modo similar a ameaças
americanas de limitar ainda mais a exportação de tecnologia de fabricação de
chips para a China, entre outras sanções. Informalmente, chineses impedem
também a emigração de especialistas no assunto.
Semicondutores usados em inteligência
artificial dependem de terras raras. Equipamentos de alta tecnologia dependem
de produtos feitos com terras raras: aviões de guerra, mísseis, drones, motores
elétricos, robôs, turbinas eólicas, partes de automóveis, celulares, aparelhos
de ressonância magnética, radares, lasers, discos rígidos, alto-falantes. Dá
para entender o tamanho do problema.
As restrições entram em vigor nos dias 8 de
novembro e 1º de dezembro. Afetariam os Estados
Unidos e quase qualquer país de economia mais avançada, União
Europeia, Japão, Taiwan, Coreia do Sul. Afetaram Nvidia e Apple.
Diz-se que o Brasil poderia fazer um acordo
com os EUA em torno de terras raras, sabe-se lá qual. Lula 3 diz que não quer
apenas extrair esses elementos da terra. Quer industrializá-los.
Apenas agora começa no país a extração em
escala significativa. Quanto a processamento, que dirá fabricação de produtos,
vamos ficando para trás.
EUA e UE constroem fábricas para processar e
desenvolver produtos de terras raras. Deve levar uns anos até que estejam
produzindo na capacidade projetada. Mas precisam de matérias primas. Querem uma
cadeia econômica "ocidental" livre da China.
O Brasil poderia se beneficiar dessa
confusão, pois tem terras raras, a segunda reserva mundial. Por ignorância,
descaso com ciência e tecnologia, atraso geral e falta de noção de seu lugar no
mundo, não se beneficia.
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