O Estado de S. Paulo
Lula embola Justiça, Congresso e 2026 ao preencher a vaga de Barroso no STF
Com a aposentadoria do ministro Luís Roberto
Barroso, perdem o Brasil, o Supremo e também o presidente Lula, quando a
polarização ainda domina a política e ele parecia navegar de vento em popa, mas
a ventania da oposição veio mais rápida e mais forte do que o previsto. A
derrubada da MP que aumentaria a arrecadação bateu no bolso, ou melhor, nas
contas do governo. Uma derrota e tanto.
Barroso, indicado para o STF por Dilma Rousseff, em 2013, antecipou sua aposentadoria em oito anos e se despediu muito emocionado, deixando um legado de firmeza, convicções, defesa contundente da democracia e, particularmente, de discursos vivos e brilhantes. Ouvi-lo é um aprendizado e um prazer.
Lula tem o desafio de nomear um jurista à
altura, “terrivelmente democrático”, técnico, firme e corajoso, para enfrentar
até golpistas e presidentes infames de potências alhures. É cedo para certezas,
mas quem lidera a lista é o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco, seguido
pelo ministro do TCU Bruno Dantas e o atual advogado-geral da União, Jorge
Messias.
Messias não é estreante como candidato, mas
seu trunfo é também seu obstáculo: é o nome do PT, quando Lula prioriza a
ampliação de apoios para além do partido e da própria esquerda. O AGU só será
escolhido se prevalecer o mesmo critério que levou Cristiano Zanin à toga: a
lealdade inquestionável a Lula.
Pacheco e Dantas têm em comum a proximidade
do trio que dá as cartas no STF, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Flávio
Dino. Mas Pacheco tem um plus, o aval do atual presidente do Senado, Davi
Alcolumbre, que é uma mão na roda para Lula no Congresso e, de quebra, do lado
amigo do União Brasil, que rompeu com o governo, mas está rachado.
Logo, a escolha do sucessor de Barroso
envolve uma ampla frente de pressões, como sempre, e embola ideologia,
política, apoio no Congresso e, como tudo agora, a eleição de 2026. Pacheco,
inclusive, está nos planos de Lula, seja para o STF, seja para as eleições em
Minas.
Para quem vai a nova toga? Lula será
cuidadoso na escolha, até porque recuperou popularidade, aproximou-se de Trump,
conquistou as bandeiras da soberania e do IR e hoje bate todos adversários nos
dois turnos e até fala e se movimenta como candidato único, mas o Centrão tem
seu preferido, Tarcísio de Freitas, e, assim como lhe dá vitórias, também impõe
derrotas.
Lula, que já estava subindo no salto alto,
teve de descer e não vai desprezar o fator 2026 ao preencher a vaga de Barroso.
Ao contrário, vai privilegiá-lo e escolher a peça que lhe seja mais conveniente
no tabuleiro jurídico, mas principalmente no político e eleitoral. •
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