sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Um Nobel para Trump? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Presidente americano já se voluntariou para receber comenda da Paz

Se plano para Gaza se mostrar mais do que um cessar-fogo, Agente Laranja terá realizado uma proeza

Escrevo estas linhas menos de 24 horas antes da divulgação do prêmio Nobel da Paz. Donald Trump voluntariou-se para a comenda, mas será que ele a merece?

Não creio que os noruegueses sejam loucos o bastante para galardoar Trump por uma iniciativa de paz que pode não durar mais do que alguns dias, mas, se o plano do presidente americano para Gaza se mostrar mais sólido do que um cessar-fogo com troca de reféns por prisioneiros, então não há dúvida de que seria uma façanha digna de Nobel.

É claro que isso seria só parte da história. Essa e outras iniciativas pacifistas do Agente Laranja teriam de ser cotejadas com coisas que ele também fez e que vão no sentido oposto. Trump vem dando passos firmes para sabotar a ordem internacional do pós-guerra, que, ainda que muito imperfeitamente, tornava o mundo um lugar mais seguro.

É uma conta difícil de fazer. Tendo a valorizar mais arranjos institucionais permanentes do que empreendimentos de sucesso isolados, mas reconheço que são os segundos que geram boas manchetes. Isso estabelecido, quais são as chances reais do plano? Eu diria que são baixas, mas não iguais a zero.

Ainda que por razões diferentes, nem o governo do premiê Binyamin Netanyahu nem o Hamas querem a paz. Talvez eu exagere no cinismo, mas penso que tanto Netanyahu como o Hamas aceitaram a proposta torcendo para que o outro lado a rejeitasse. Ficariam com a guerra e sem o ônus de dizer não. É claro que isso ainda poderá acontecer. Não faltarão ocasiões para um lado acusar o outro de descumprimento e cair fora.

A chave para que isso não aconteça é pressão política. Trump a usou de forma inédita sobre Netanyahu e também conseguiu fazer com que países árabes pressionassem o Hamas. A conjuntura ajuda. Israel nunca esteve tão isolado diplomaticamente. Já o Hamas foi quase aniquilado militarmente e viu o Irã, seu principal financiador, sofrer pesados reveses.

Não sou louco de apostar dinheiro em paz no Oriente Médio, mas não custa sonhar que desta vez possa ser diferente.

 

 

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