sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Uma bomba para Lula. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Votação abriu rombo nas contas do governo para ajudar bets e fintechs a pagarem menos imposto

A oposição lançou uma bomba fiscal no caminho da reeleição de Lula. A nova derrota do governo na Câmara deve abrir um rombo de R$ 46 bilhões nas contas públicas. O dinheiro fará falta no ano eleitoral de 2026.

A derrubada da Medida Provisória mostra que a melhora nas pesquisas não resolveu a vida do presidente no Congresso. Sem base parlamentar sólida, Lula continua exposto a sustos e rasteiras. Na noite de quarta, levou uma das maiores deste terceiro mandato.

Os 251 votos contra o Planalto indicam que a aliança entre Centrão e bolsonarismo continua firme. Em setembro, a dobradinha aprovou a PEC da Blindagem e acelerou a anistia aos golpistas. Agora complica os planos da Fazenda de cumprir a meta fiscal via elevação de receita.

O principal beneficiário da bomba é Tarcísio de Freitas, virtual candidato das direitas. Ontem ele tentou negar sua participação na derrota do governo. Foi desmentido pelos próprios aliados. Da tribuna, o líder do PL, Sóstenes Cavalcante, agradeceu “todo o seu empenho” em cabalar votos pelo telefone.

Cercado, Lula foi ao ataque. “Não derrotaram o governo. Derrotaram o povo brasileiro”, discursou, após acusar o Congresso de proteger os ricos que não querem pagar imposto. Seguiu-se um bate-boca entre a Fazenda e o Palácio dos Bandeirantes. Fernando Haddad acusou Tarcísio de “ proteger a Faria Lima”, e o governador mandou o ministro cortar gastos e tomar “vergonha”.

Por trás do chumbo trocado, o Legislativo deu mais uma vitória bilionária para a banca e as bets. As fintechs continuarão a pagar menos impostos que os bancos tradicionais. As casas de apostas conseguiram barrar outra tentativa de elevar sua tributação, que hoje é de módicos 12%.

Na tentativa de salvar a MP, o governo cedeu ao Centrão e topou retirar do pacote a taxação das apostas on-line. Perdeu a votação e pode ter perdido o discurso. Depois do acordo frustrado, ficará mais difícil criticar o lobby da jogatina virtual.

 

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