Folha de S. Paulo
Há meses a oposição avisara que não aprovaria
mais nada que implicasse cobrança de novos tributos
Quando o governo insistiu em apostar na
arrecadação, assumiu o risco de perder no Congresso
A derrubada
da medida provisória alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF) era uma fava contada. Surpreendente foi o governo acreditar
que pudesse ganhar.
Os sinais da derrota estavam à vista de todos. A começar pelo aviso dado meses atrás de que o Congresso não aprovaria mais nada que implicasse novas cobranças de tributos. Tanto que em junho invalidou o decreto de aumento do IOF, depois parcialmente recuperado no Supremo Tribunal Federal.
Na retomada do tema, a recusa ficou
demonstrada na demora do exame da MP, deixado para o último dia do prazo legal.
Na véspera, a medida passou raspando pela comissão especial mista, com a
irrisória vantagem de um voto.
A cigana, portanto, não enganou ninguém. Foi o Palácio do Planalto que se
deixou enganar, talvez pela suposição de que o bom momento do governo fizesse a
oposição mudar de ideia, diante da significativa recuperação da popularidade do
presidente da República, registrada na pesquisa Genial/Quaest
divulgada na manhã de quarta-feira (8).
Em reação à derrota, o governo ameaça suspender a liberação de emendas
parlamentares e apresentar novas medidas para assegurar o aumento de
arrecadação.
Vai entrar numa nova queda de braço perdida, mas é do jogo de quem optou desde
o início por uma política fiscal de muitos gastos e poucos cortes.
Temerária, contudo, é outra parte da resposta: a tentativa de jogar o Congresso
contra a população, dizendo, como fez o presidente Lula (PT),
que a recusa da proposta é uma ação contra
o país. Com isso, enveredou pelo perigoso terreno da antipolítica, no qual
viceja o populismo.
A expressão da vontade da maioria do Parlamento é prerrogativa do colegiado,
não uma ação de lesa-pátria a ser assim considerada quando o governo de turno
sofre uma derrota.
O repúdio a mais medidas de arrecadação estava posto lá atrás e foi feito com
clareza. Portanto, a insistência revelou-se no mínimo imprudente e as
reclamações posteriores, improcedentes.
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