segunda-feira, 30 de abril de 2018

Ricardo Noblat: Em busca de um cadáver. Ou de mais de um

- Blog do Noblat | Veja

A quem interessa aprofundar a divisão política do país entre nós e eles?

Fácil de responder: aos extremos do espectro político que apostam no quanto pior, melhor. A um lado, para mascarar as dificuldades que enfrenta depois de ter perdido o poder. Ao outro, para tentar chegar ao poder uma vez que lhe faltam votos para tanto. Aos dois interessam o acirramento de ânimos, os atentados à bala, e um cadáver ou mais.

Bom dia, delirantes de todas as cores, assassinos frustrados que dispararam contra ônibus da caravana do PT no Rio Grande do Sul, criminosos que aos gritos de “Bolsonaro” feriram duas pessoas no acampamento de Curitiba. Bom dia, Lula, e uma parte dos seus defensores que incitam ao ódio enquanto fingem defender a democracia.

Os tiros falam por seus autores ainda anônimos. Pelos outros, fala gente conhecida com acesso à mídia que diz tanto abominar. Do tipo:

+ “Para prender o Lula, vai ter que prender muita gente, mas, mais do que isso, vai ter que matar gente. Aí, vai ter que matar”. (Gleisi Hoffman, senadora e presidente do PT);

+ “Ao saírem daqui, cada um de vocês cuspa naquela faixa”. (João Pedro Stédile, líder do MST, sobre uma faixa onde estava escrito: “Moro, juiz imoral, porco imperialista”);

+ “Vivemos em um estado de exceção. Prenderam o Lula e agora querem assassinar os que o apoiam. Não passarão!”. (Jandira Feghali, deputada do PC do B do Rio, depois de culpar “a Globo, os seguidores do Bolsonaro e o governo golpista pelo clima de intolerância e ódio instaurado no país”);

+ “Chega de esquerda frouxa. Temos que nos preparar para um período de enfrentamento. Temos que aprender com os erros. Precisamos de outra esquerda, mais preparada para o enfrentamento”. (Lindbergh Farias, senador do PT do Rio);

+ “O regime de exceção é o ovo da serpente. É parido pelos golpes, alimentado com tiros em acampamento pacífico e cresce com o arbítrio da condenação e prisão em solitária de pessoa inocente, Lula”. (Dilma Rousseff, ex-presidente da República);

+ “A responsabilidade por essa violência é do Bolsonaro, que propaga ódio, da Rede Globo e também de Carmen Lúcia, que permite que Moro pratique uma justiça facciosa como tem praticado”. (Paulo Teixeira, deputado do PT de São Paulo).

De dentro da cadeia, sem falar do que disse nos últimos anos a respeito da Justiça e dos seus desafetos, Lula voltou a atacar no último fim de semana o juiz Sérgio Moro, a quem culpa por suas desgraças – desta vez para acusá-lo de não cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal de desconsiderar trechos da delação dos executivos da Odebrecht.

“Que país é esse em que uma instância inferior desacata a superior, em que um juiz de primeira instância desacata os ministros da suprema corte?” – provocou Lula, mentindo. Moro não desatacou ordem alguma do Supremo. Aguarda que seja publicado o acórdão com a decisão para cumpri-la de imediato. É só o que lhe cabe fazer.

O que pretendeu Lula com a mentira? Mais uma vez desgastar a imagem de Moro junto aos que desconhecem os ritos judiciais, e fazer-se de vítima outra vez. Logo ele, que tanto preza a Justiça em todas as suas instâncias… Já tentou comprar votos de ministros do Supremo para livrar a cara dos mensaleiros do PT. Já chamou o Supremo de “corte acovardada”.

Porta-vozes de Lula dizem que uma epidemia de ódio se alastra pelo país no embalo da Lava Jato e dos seus aliados na mídia. E perguntam por que a sociedade não se manifesta contra isso. Talvez não se manifeste porque discorda do anunciado. Talvez porque entenda que é preferível manifestar-se nas eleições de outubro próximo.

O fenômeno da intolerância e da divisão política não é coisa nossa. O mundo está assim. Entre 27 países recém-pesquisados pelo Instituto Ipsos, o Brasil é o sétimo no ranking de intolerância, empatado com os Estados Unidos, a Polônia e a Espanha. A Sérvia, o primeiro. A Argentina, o segundo. Aqui, 84% das pessoas veem o país dividido.

“É um momento de falta de segurança sobre os caminhos políticos a serem seguidos, é um momento em que modelos antigos se provam ineficazes e que a transição, principalmente em função de globalização e aumento de tecnologia, proporciona novos caminhos que a gente não conhece”, explica Marcos Calliari, presidente do Instituto Ipsos.

Só 10% dos brasileiros entrevistados admitiram sua confiança nos noutros. Só 29% acham que somos tolerantes com pessoas de culturas ou de pontos de vista diferentes. Alimentar o ódio com palavras e atos é apostar na tragédia anunciada. Não é vida que segue.

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