Alta dependência do governo e do governante de turno atesta imaturidade do país
O governo de Dilma Rousseff acabou em 12 de maio de 2016, quando o Senado a afastou do cargo para julgar o impeachment. O do seu vice e sucessor, Michel Temer, terminou de fato 370 dias depois, com a eclosão do escândalo das gravações feitas pelo empresário Joesley Batista e das malas de dinheiro da JBS.
Desde então, o Brasil espera solução para o colapso no vértice do poder.
As energias do mandatário foram todas canalizadas para vencer as três batalhas que lhe ameaçaram o trono. O emedebista escapou por um triz da foice no Tribunal Superior Eleitoral e, com margem mais ampla, das duas denúncias julgadas pelo plenário da Câmara dos Deputados.
A Polícia Federal, cujos brios autonomistas Temer ajudou a atiçar com uma mexida desastrada na cúpula da corporação, está no seu encalço e não se descarta uma terceira denúncia da Procuradoria-Geral. Sua nova chefe talvez precise disso para responder às críticas difusas de que teria sido indicada a fim de facilitar as coisas para o presidente.
O abandono da agenda reformista na Previdência foi subproduto da sobrevivência do presidente enfraquecido. Os parasitas do corporativismo voltam a atacar sorrateiramente o organismo enfermo do Tesouro Nacional e aumentam a carga sobre os ombros das futuras gerações.
A implosão no centro do poder não se restringiu a anular a capacidade do presidente de influenciar a eleição. Temer tornou-se polo radioativo a contaminar quem se aproxima dele. O sistema político na Nova República harmoniza-se em torno de um presidente agregador. Quando essa figura desaparece, toma o palco uma desordem ancestral.
O estilhaçamento do quadro eleitoral agora abala as expectativas para a economia. Um risco inesperado de estagnação precoce bate à porta.
A elevada dependência do governo e do governante atesta a nossa imaturidade. Poderosos capazes de produzir guinadas em assuntos da coletividade já deveriam ser tema apenas das aulas de história do Brasil.
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