- Valor Econômico
Bolsa Família: Temer prepara aumento real de até 4%
A semana será mais curta pelo feriado desta terça-feira, mas não menos tensa ou arriscada que a última, quando o dólar chegou a subir 2,6% e a cair 1,1%. Essas variações parecem modestas, e são. Contudo, na semana passada o dólar mudou de patamar. Foi a R$ 3,50. Na sexta-feira, fechou abaixo de R$ 3,47, com valorização preliminar de 4,3% em abril.
O câmbio dá outra indicação de que a semana passada sugeriu retrocesso na agenda brasileira. No mês, até sexta, o diferencial entre as taxas de câmbio mínima e máxima foi de R$ 0,19, o mais alto desde maio de 2017. Naquele mês, o diferencial foi de R$ 0,28, quando o mercado reagiu à divulgação do áudio da conversa entre o empresário Joesley Batista, da J&F, e o presidente Michel Temer, que justificou a apresentação da primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente.
Os mercados estarão expostos, nesta semana, a pressões locais e internacionais e ao rescaldo dos últimos dias marcados pela alta dos rendimentos de títulos do governo americano, sobretudo, da T-note de dez anos. Referência para taxa de juros no mundo - orienta, portanto, o fluxo de capital dos investidores globais -, a T-note chegou a pagar mais de 3%, maior nível desde 2014, ante o temor de que o comitê federal de mercado aberto do Federal Reserve (Fomc, na sigla em inglês) poderá ser mais conservador no controle da inflação e acenar com aperto monetário maior para este ano, ou para o próximo.
A reunião de política monetária do Fed acontece nesta semana e é um dos marcadores de volatilidade que possivelmente terão sua velocidade alterada: para mais, para menos, ou nas duas direções a cada sessão.
Também está entre os marcadores externos de volatilidade, o encerramento, previsto para esta terça, do período de isenção da cobrança de tarifas sobre importação de aço e de alumínio, anunciada em março pelo presidente Donald Trump. A União Europeia e um grupo de países, entre eles o Brasil, são beneficiários "temporários" da isenção.
O fim de semana foi de intensas negociações diplomáticas sem que - até o fechamento desta coluna -- Trump sinalizasse a possibilidade de tornar a isenção "permanente". Amanhã, não é feriado nos EUA, que comemoram o Dia do Trabalho em setembro. Portanto, olho neles!
Não faltam marcadores locais para interferir nos preços dos ativos brasileiros. Nesta segunda, o Banco Central apresenta o resultado primário consolidado do setor público em março. Será deficitário e todo mundo já sabe. Contudo, o resultado pode ser bem diferente do esperado. Na semana passada, o Tesouro Nacional divulgou o déficit primário do governo central - Tesouro, Previdência e BC - em março, de R$ 24,82 bilhões, mais que o dobro do observado um ano antes e quase 80% superior à projeção média das consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data. O estouro foi impulsionado por antecipação de pagamento de precatórios e sentenças judiciais.
O fechamento dos dados fiscais do primeiro trimestre poderá ganhar chave de ouro, caso o presidente Michel Temer anuncie amanhã -- como pretende - o reajuste do Bolsa Família. O presidente decidiu ontem permanecer em Brasília para bater o martelo sobre o percentual do reajuste e discutir com líderes partidários estratégias para garantir votações no Congresso esta semana. Sua participação na Agrishow deve ser remarcada para o fim da semana. Na sexta-feira, segundo apurou Andrea Jubé, do Valor, a intenção era aumentar o benefício acima da inflação, e pode ser de até 4%.
A agenda econômica doméstica poderá ser tragada pela agenda política que conta com uma inédita comemoração conjunta do Dia do Trabalho pelas maiores centrais sindicais. Sete entidades promoverão um ato coletivo em Curitiba. Representantes da CUT, Força Sindical, CSB, CTB, Intersindical, NCST e UGT pretendem se manifestar contra a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, clamar por sua liberdade e exigir a restauração de direitos que consideram extintos com a reforma trabalhista.
Esse encontro das centrais sindicais poderá se transformar em palanque de pré-candidatos a presidente, governador, deputado, senador, ou ao que for possível neste ano eleitoral. O encontro também poderá se transformar em uma potente caixa de ressonância para manifestações - com direito a alertas - sobre os eventos que se desenrolaram desde a sexta-feira e que envolvem atores importantes na Operação Lava-Jato: o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), com sede em Brasília, o juiz federal Sérgio Moro e a Polícia Federal.
Na sexta à noite, a Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) divulgou nota, afirmando que não protege ou persegue qualquer autoridade pública. De acordo com a entidade, os policiais cumprem "seu dever legal de investigar fatos e condutas tipificadas como crime". O comunicado foi divulgado após declarações do presidente, em que ele levantou dúvidas sobre o vazamento de informações a respeito de investigações que apuram suposto uso de propina para pagamento de compra e reforma de imóveis envolvendo o presidente e a família dele. Os delegados manifestaram "preocupação" com a fala de Temer.
No sábado, o TRF-1 emitiu nota criticando Moro por "instigar o descumprimento de ordem judicial". A nota referia-se ao fato de o juiz ter ignorado a decisão daquele tribunal de suspender a extradição do empresário Raul Schmidt. O empresário tem dupla cidadania - luso-brasileira - e deveria apelar a uma corte superior. Mas, em janeiro, Schmidt já havia entrado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) com um pedido de habeas corpus, que foi negado.
Na madrugada de sábado, duas pessoas ficaram feridas após um ataque a tiros contra o acampamento de apoiadores do ex-presidente Lula, em Curitiba. O acampamento pró-Lula fica a menos de um quilômetro da sede da Polícia Federal, onde o ex-presidente está preso desde o início de abril. Um inquérito foi aberto para apurar o caso.
Na quarta, dia 2, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve retomar o julgamento sobre a restrição do foro privilegiado.
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