terça-feira, 10 de setembro de 2019

Opinião do dia – Vera Magalhães*

Um presidente casmurro para em frente ao Palácio da Alvorada para sua já tradicional prosa diária. Ele pensa se tratar de uma entrevista, um favor que presta a jornalistas que se amontoam no calor seco de Brasília à espera de palavras para guiar suas reportagens. Trata-se, isso sim, da tentativa cotidiana de Jair Bolsonaro de impor sua visão de mundo não só à imprensa, mas ao público.

Conta, na intermediação, com os acólitos que filmam e transmitem ao vivo nas redes sociais, e com a claque disposta a apoiar com gargalhadas e apupos encorajadores o que quer que ele diga. O presidente dita a pauta e o que pode, ou não ser perguntado. Se estiver de ovo virado, dá as costas e vai embora sem responder.

*Vera Magalhães, jornalista, “Independência ou submissão?” O Estado de S. Paulo, 8/9/2019

Carlos Bolsonaro: país não muda por ‘via democrática’

Mensagem foi postada após o vereador comentar sobre os esforços que, segundo ele, o governo do pai faz para colocar país nos eixos

- O Globo

RIO — O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, disse nesta segunda-feira, no Twitter, que a transformação que o Brasil quer não será rápida por vias democráticas.

"Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!"

A mensagem foi postada após o vereador comentar sobre os esforços que, segundo ele, o governo do pai faz para acabar com "absurdos que nos meteram no limbo". De acordo com o vereador, o governo tenta colocar o Brasil "nos eixos", mas que os "avanços são ignorados, e os malfeitores esquecidos".

"O governo Bolsonaro vem desfazendo absurdos que nos meteram no limbo e tenta nos recolocar nos eixos. O enredo contado por grupelhos e os motivos cada vez mais claro$ lamentavelmente são rapidamente absorvidos por inocentes. Os avanços ignorados e os malfeitores esquecidos", escreveu.

E conclui afirmando que "como meu pai, também estou muito tranquilo e o poder jamais me seduziu. Boa sorte sempre a todos nós!"

Em pouco tempo a postagem gerou críticas na rede social. O vereador também recebeu mensagens de apoio. Também pelo Twitter, o PSDB defendeu a democracia como única opção possível.

"Por vias democráticas o brasileiro elegeu presidentes, apoiou impeachment dos que cometeram irregularidades. Por vias democráticas, o brasileiro elegeu Bolsonaro e tirou o PT. Figuras autoritárias insistem em transformações que não sejam pelas vias democráticas. Mas a democracia é a única opção possível".

Carlos Bolsonaro diz que país não terá transformação rápida por vias democráticas

Filho do presidente é alvo de críticas após declarações em rede social

Rodrigo Borges Delfim / Thais Arbex | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO E BRASÍLIA - O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), escreveu na noite desta segunda-feira (9) em rede social que, por vias democráticas, não haverá as mudanças rápidas desejadas no país.

A postagem do filho do presidente foi alvo de críticas de políticos e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que viram nela uma ofensa ao sistema democrático brasileiro.

"Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!", disse Carlos.

A família Bolsonaro tem um histórico de declarações de exaltação ao período da ditadura militar, que vigorou no Brasil de 1964 a 1985.

"Não há como aceitar uma família de ditadores", reagiu Felipe Santa Cruz, presidente nacional da OAB, que chegou a ser atacado recentemente pelo presidente Jair Bolsonaro, que fez referências à morte do pai dele na ditadura. "É hora dos democratas do Brasil darem um basta. Chega", disse à Folha.

Além de afirmar que não haverá transformações rápidas no país por vias democráticas, Carlos escreveu que o atual governo tenta colocar o Brasil "nos eixos", mas que os "avanços são ignorados, e os malfeitores esquecidos". Após ser criticado, escreveu mais tarde: "Agora virei ditador? Pqp! Boa noite a todos!"

Apontado como responsável pela estratégia do presidente nas redes sociais, Carlos provocou turbulências no primeiro semestre após ataques a integrantes do governo do pai, mas vinha evitando polêmicas nos últimos meses.

As postagens desta segunda foram feitas enquanto seu pai, Jair Bolsonaro, está internado em um hospital de São Paulo após passar por cirurgia no domingo (8), a quarta decorrente da facada que levou há um ano durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).

O vice-presidente, general Hamilton Mourão, alvo recorrente de ataques de Carlos, ficará no comando da Presidência da República até quinta-feira (12).

O PSDB se manifestou em repúdio às declarações do filho do presidente e afirmou que "a democracia é a única opção possível."

Na campanha de 2018, uma declaração de outro filho do atual presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), sobre fechar o STF (Supremo Tribunal Federal) foi repudiada no meio jurídico e político.

Em vídeo gravado em julho e disponível na internet, mas que veio à tona a uma semana do segundo turno, ele respondia a pergunta sobre uma hipotética possibilidade de ação do Exército em caso de o STF impedir que Bolsonaro assuma a Presidência.

"Cara, se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo, não", disse.

Nesta segunda, Eduardo Bolsonaro também provocou polêmica ao tirar uma foto ao lado do pai no hospital. Na imagem, ele exibe uma arma na cintura. O presidente prometeu indicar Eduardo para ser embaixador do Brasil em Washington.

Doria e Witzel criticam Bolsonaro por falta de liderança e diálogo

Por Carolina Freitas | Valor Econômico

SÃO PAULO - No esforço para se viabilizarem candidatos à Presidência da República em 2022, os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), demarcaram ontem distância em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro. Durante as eleições do ano passado, tanto Doria quanto Witzel tentaram colar em Bolsonaro e surfaram na popularidade do então candidato conservador.

As críticas da dupla ontem foram desde a forma como Bolsonaro se referiu à mulher do francês Emmanuel Macron até a falta de "liderança e articulação" do presidente perante o Congresso Nacional. Doria e Witzel participaram do Exame Fórum, na capital paulista, com público formado majoritariamente por empresários e potenciais investidores.

O paulista rebateu a proposta do ministro da Economia, Paulo Guedes, de recriar um Imposto sobre Transações Financeiras (ITF). "Se o ministro me perguntar sobre CMPF, vai ouvir um sonoro 'não'", disse Doria. "Por ser liberal, não crio imposto, mas reduzo imposto." Ao Valor, Guedes havia falado na edição de ontem sobre a criação de uma alíquota entre 0,2% e 1% de ITF.

Segundo Witzel, o Brasil precisa de "alguém que tenha liderança e capacidade de entendimento" no comando. Sob fogo cerrado de Bolsonaro nas últimas duas semanas, Doria pediu que o presidente da República "brigue menos". "Espero que o presidente evite antecipar o processo eleitoral. Não é hora de eleição. Temos que cuidar de gestão, não de eleição."

Doria ganhou uma salva de palmas do público ao sugerir que Bolsonaro se retrate por ter feito insinuações sobre a aparência de Brigitte Macron, primeira-dama francesa. "Você não faz isso com nenhuma mulher quanto mais com a esposa de um presidente. E é um mal exemplo", disse.

O paulista acusou o governo federal de ter criado um "problema grave" para os negócios brasileiros com a Europa, ao negligenciar a questão ambiental. "Houve uma reação muito ruim do mundo político, empresarial e dos consumidores europeus", disse Doria. "Vamos dar um passo atrás, dialogar. O diálogo é um bom caminho."

Witzel soou no mesmo diapasão: "É preciso ter uma liderança para fazer com que o Congresso avance. Isso não está acontecendo. Está precisando alguém para liderar esse processo." Questionado por jornalistas após a palestra sobre quem seria este "alguém", o governador fluminense deu o exemplo de si mesmo para indicar que cabe ao chefe do Executivo liderar o avanço de projetos no Legislativo.

Desigualdade vai implodir país, diz Huck

Por Malu Delgado | Valor Econômico

SÃO PAULO - Ao incluir-se no rol dos 1% de brasileiros mais ricos e admitir o desconforto com o "tsunami político" que assolou seu dia a dia, o apresentador e empresário Luciano Huck afirmou que o "abismo social gigantesco e a desigualdade social gritante" impedem o desenvolvimento e podem levar o país à implosão. "Hoje mais de 7 milhões de brasileiros vivem com menos de R$ 2 por dia. Se a gente não fizer nada esse país vai implodir", sentenciou, durante talk show no Fórum Exame 2019, num hotel em São Paulo.

"A gente não pode achar que vai discutir desigualdade, ou a solução para as favelas no Brasil, com um monte de gente branca, rica, sentada numa mesa na [avenida] Faria Lima", criticou Huck. O apresentador é visto no meio político e entre setores empresariais como um possível nome para disputar a Presidência em 2022.

Huck falou por 27 minutos sobre o tema "O Brasil que queremos" e apontou a desigualdade social como principal entrave ao desenvolvimento do país. Foi aplaudido de pé ao final. "Nós precisamos discutir seriamente a mobilidade social no Brasil. O Brasil já teve mobilidade social. Não tem mais. Hoje, se você nascer pobre, numa favela do Brasil, a chance de você morrer pobre, numa favela do Brasil, é enorme. Isso não está certo. É inaceitável."

Em nenhum momento Huck mencionou diretamente o presidente Jair Bolsonaro, mas por diversas vezes fez questão de enfatizar sua crença na necessidade de construções coletivas e respeito às diferenças. "Eu não fui treinado para o ringue da luta livre, eu não contribuí para a polarização, não sou um cara que grita, fala alto, eu não enxergo as pessoas que pensam diferente de mim como inimigos, eu também tento não excluir quem tem qualquer atitude e orientação diferente da minha. Estou com cabeça aberta ao diálogo de ideias e construção coletiva", disse.

O apresentador deu munição às especulações sobre sua candidatura futura. Afirmou que está fora de sua zona de conforto ao participar de eventos que promovem discussões políticas, mas disse entender que essa é a maneira de contribuir "para que o Brasil seja mais eficiente e um país mais afetivo, menos desigual". "Eu tinha dois caminhos: podia ser continuar sendo um peixinho dourado lá no aquário, protegido pelos muros do Projac, sendo alimentado diariamente com bastante fartura, fazendo o que eu gosto, ou me jogar no oceano e tentar de contribuir para que o Brasil seja um país melhor no futuro. A resposta está dada. Estou aqui."

Ressaltou, porém, que não quis se aproximar "da política tradicional" e optou - pelo menos até o momento - por não se filiar a nenhum partido, preferindo a atuação ligada a "movimentos cívicos", como o RenovaBR. Deixou claro, por outro lado, que trabalha ativamente na construção coletiva de um projeto alternativo de desenvolvimento do país, que está sendo gestado no movimento Agora. "Não é eleitoral, não é político, é aberto", explicou.

'Não há como aceitar uma família de ditadores', diz presidente da OAB sobre fala de Carlos

Felipe Santa Cruz afirma ainda que 'é hora de os democratas darem um basta'

Thais Arbex | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, reagiu às declarações do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e afirmou que "não há como aceitar uma família de ditadores".

"É hora dos democratas do Brasil darem um basta. Chega", disse Santa Cruz à Folha na noite desta segunda-feira (9).

Filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), Carlos escreveu em seu perfil no Twitter que, por "vias democráticas", não haverá as mudanças rápidas desejadas no país.

"Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!", escreveu o vereador.

Antes de escrever que não haverá transformações rápidas no país por vias democráticas, Carlos afirmou que o atual governo tenta colocar o Brasil "nos eixos", mas que os "avanços são ignorados, e os malfeitores esquecidos".

Eliane Cantanhêde - É negociar ou negociar

- O Estado de S.Paulo

Treino é treino, jogo é jogo. Com a pauta pesada no Congresso, o jeito é negociar

Passada a fase inicial da relação Planalto-Congresso, com a Câmara concentrada na reforma da Previdência, é agora que começa o verdadeiro jogo político do governo Jair Bolsonaro. As pautas legislativas dos ministérios, do Planalto e do próprio Bolsonaro são muitas e arriscadas, exigindo grande capacidade de negociação.

São os vetos à Lei de Abuso de Autoridade e à gratuidade de bagagens em voos, além das sabatinas de Augusto Aras para a PGR e de Eduardo Bolsonaro para a embaixada em Washington. Sem contar a fila de embaixadores no limbo: saíram de um posto e não chegaram a outro.

São pautas difíceis, mas a questão mais emergencial é a pindaíba do governo. Com falta de dinheiro para tudo, há um risco de apagão, ou de “shutdown”, como preferem os economistas. E quem pode resolver? O Congresso, é claro. Mas não de mão beijada.

A expectativa é de Aras passar fácil pela CCJ e pelo plenário do Senado, apesar de enfrentar fortes reações na própria casa, o Ministério Público, e nos bunkers de Bolsonaro na internet. Em geral, os políticos de diferentes tendências não têm nada de impeditivo contra ele, que, de quebra, não é exatamente um defensor dos métodos da Lava Jato, muito pelo contrário.

Luiz Carlos Azedo - O fim do Bolsa Família

- Nas entrelinhas | Correio Braziliense

“Pautado por medidas disruptivas dos programas sociais e decisões ultraconservadoras, o governo Bolsonaro não tem uma marca, exceto o dedo no gatilho no quesito segurança pública”

O ovo de Colombo do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a fusão dos programas de transferência de renda herdados do governo de Fernando Henrique Cardoso, alguns originários do governo Sarney, num único programa: o Bolsa Família. A lógica do programa era a mesma, a focalização do gasto social nos mais pobres, em detrimento das políticas sociais universalistas, estratégia imposta pelo grupo social-liberal da equipe do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan à sua ala desenvolvimentista, porém, a escala foi ampliada.

Do ponto de vista do combate às desigualdades e da redistribuição da renda, o salário mínimo, a indexação das aposentadorias e as aposentadorias rurais tiveram e ainda têm um peso muito maior no combate à pobreza, mas, do ponto de vista da marca de um governo que se pretendia mais popular, o Bolsa Família foi um indiscutível sucesso de marketing político. Em todo o Brasil, mais de 14,1 milhões de famílias são atendidas pelo programa, ou seja, cerca de 56 milhões de pessoas. Vem daí a resiliência dos eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e boa parte da sua capacidade de transferência de votos.

A primeira tentativa do governo Bolsonaro no sentido de capturar esse eleitorado foi manter o Bolsa Família, cujo valor médio hoje é de R$ 186,23, e agradar a seus beneficiados com uma parcela a mais do benefício, a 13ª Bolsa. A mudança, porém, não alterou o DNA do programa, daí a desejo de substituí-lo, a pretexto de incluir no sistema de proteção social oficial milhões de crianças brasileiras em situação de vulnerabilidade que não recebem benefício do governo federal.

A proposta está sendo analisada pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, com base num estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) intitulado “Uma proposta para a unificação dos benefícios sociais de crianças, jovens e adultos pobres e vulneráveis”, divulgado ontem. A ideia é fundir o Bolsa Família, o Salário-Família, o Abono Salarial e a Dedução por Dependente no Imposto de Renda da Pessoa Física, políticas públicas voltadas à proteção da infância e dos vulneráveis à pobreza no país. Os pesquisadores Sergei Soares, Leticia Bartholo e Rafael Guerreiro Osório, autores do estudo, consideram o sistema de proteção social existente uma colcha de retalhos, construída ao longo dos anos, mas com buracos e sobreposições.

Merval Pereira – Campanha do baixo clero

- O Globo

Candidatos potenciais, como Doria, já buscam se posicionar em raia semelhante à de Bolsonaro na questão de costumes

O presidente Bolsonaro está conseguindo ser o protagonista do jogo político brasileiro nesses oito meses iniciais de seu governo, apesar de sua popularidade ter caído. As polêmicas que provoca, e as linhas mestras das ações de aparelhamento ideológico no sentido inverso do PT dominam a cena o debate partidário. Que se desenvolve até o momento em tom de baixo clero.

Para quem dizia que não seria candidato à reeleição, Bolsonaro mostra especial habilidade para ditar o ritmo da campanha presidencial de 2022. Candidatos potenciais, como o governador de São Paulo João Doria, já buscam se posicionar em raia semelhante à de Bolsonaro na questão de costumes.

Até mesmo quem disputa outros cargos, como o prefeito do Rio Marcelo Crivella, reforçou os laços com o eleitorado conservador, embora não seja certo que esse grupo concorde integralmente com a censura ordenada.

O prefeito Crivella, com péssima imagem de administrador, mandou recolher uma história em quadrinhos dos Vingadores, que continha um beijo gay. Alegou “querer preservar as crianças".

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, suspendeu a censura e, no domingo, último dia da Bienal do Livro, as vendas aumentaram.

O governador tucano João Doria, apesar de ter criticado a decisão de Crivela, havia mandado recolher no início da mesma semana uma cartilha com material escolar de ciências para alunos do 8º ano do Ensino Fundamental da rede estadual.

A cartilha trata de conceitos de sexo biológico, identidade de gênero e orientação sexual. Também traz orientações sobre gravidez e doenças sexualmente transmissíveis.

Bernardo Mello Franco - Nova CPMF é estelionato eleitoral

- O Globo

Paulo Guedes inventou uma nova sigla para ressuscitar a velha CPMF. Em entrevista, ele admitiu que o imposto é “feio” e “chato”. Faltou dizer que sua volta seria um estelionato eleitoral

Paulo Guedes inventou uma nova sigla para ressuscitar a velha CPMF. Em entrevista ao “Valor Econômico”, o ministro admitiu que o imposto, agora rebatizado de ITF, é “feio” e “chato”. Faltou dizer que seu retorno seria um estelionato eleitoral.

Como deputado, Jair Bolsonaro passou duas décadas atacando a CPMF. No governo FH, chamou a contribuição de “desgraça” e “maldita”. No governo Lula, disse que um deputado favorável à cobrança merecia o “troféu cara de pau”.

Como presidenciável, ele declarou diversas vezes que não recriaria o imposto. “Não admitiremos a volta da CPMF. É um imposto ingrato, que incide em cascata e não é justo. Não existirá a CPMF”, garantiu, às vésperas do primeiro turno.

Ao assumir o poder, Bolsonaro mudou o tom. Com o caixa apertado, ele permitiu que a equipe econômica defendesse a recriação do imposto. Na semana passada, passou a dizer que topa a “nova CPMF” se houver “uma compensação para as pessoas”. Não explicou se ela viria na forma de abraço ou de tapinha nas costas.

Guedes tem apetite. Ele calcula que o imposto “feio” e “chato” pode render até R$ 150 bilhões por ano ao Tesouro. Seria dinheiro suficiente para suspender julgamentos estéticos e empurrar a cobrança goela abaixo da população.

Míriam Leitão - Metas e planos da Petrobras

- O Globo

Em dois anos, Petrobras quer reduzir 40% de sua dívida, vendendo ativos em várias áreas e mantendo foco em óleo e gás

A Petrobras tem como meta uma redução da dívida corporativa dos atuais US$ 100 bilhões para US$ 60 bilhões em dois anos. É meta considerada agressiva no setor, mas é a que ela está mirando. Isso será conseguido com a venda de partes da companhia, e os valores arrecadados serão usados para pagamento antecipado de débitos. Já o dinheiro que virá da União, no programa de cessão onerosa, será usado para investir no próprio pré-sal.

A estatal tem que manter três bolas no ar: reduzir o endividamento, aumentar o investimento e enxugar custos. Ela tem uma dívida alta e precisa continuar ampliando a produção. Para manter a produção, precisa investir no mínimo US$ 3 bilhões por ano. O custo dos juros da dívida é de US$ 7 bilhões anuais.

A empresa bateu recorde de produção no mês de agosto, chegando a 3,1 milhões de barris/dia e, se o crescimento for mantido, só o Rio de Janeiro pode vir a ser, muito em breve, o terceiro maior produtor das Américas, atrás dos Estados Unidos e do Canadá.

O setor receberá também muito capital privado. Há um grande interesse de companhias estrangeiras no leilão da cessão onerosa. Uma delas é a Equinor. O risco é a norueguesa ser pressionada internamente em seu país a não elevar investimentos aqui em decorrência da crise ambiental. Hoje, o Brasil é seu segundo maior local de inversões da Equinor, depois da própria Noruega.

José Casado - Os acordos já estão em xeque

- O Globo

Problema é a forma tóxica como Bolsonaro lida com a política ambiental

Poucos, em Brasília, apostam na ratificação do acordo Mercosul-União Europeia até o final do governo Jair Bolsonaro. Também não se acredita num acordo de livre comércio com os Estados Unidos.
O problema está na forma tóxica como Bolsonaro lida com a política ambiental e a Amazônia. Semeia dúvidas sobre o futuro dos negócios com Europa e EUA, que enfrentam inédita competição com a China.

França e Alemanha, entre outros, já explicitaram relutância ao aval para o acordo com o Mercosul até 2023.

Sexta-feira, 11 senadores pediram o bloqueio das negociações com o Brasil. Compõem 24% da bancada Democrata, partido que controla a Câmara. Querem “compromisso claro e progresso demonstrável na proteção da Amazônia”.

Vincularam o avanço do desmate ao conflito EUA-China: “O volume das exportações americanas de soja para a China caiu 74% em 2018, e o Brasil se apressou em preencher a lacuna. Agora fornece 75% das importações de soja da China, 23% a mais. Na ausência de sérias proteções ambientais, a expansão da indústria de soja no Brasil levou a um aumento na limpeza (de áreas) da Amazônia para mais terras. Os riscos são simplesmente grandes demais.”

Hélio Schwartsman - A hipocrisia dos censores

- Folha de S. Paulo

Há algo de falso na atitude de autoridades que buscam censurar obras que considerem pornográficas

Há algo de irremediavelmente falso na atitude de autoridades que buscam censurar obras que considerem pornográficas ou licenciosas. A razão sempre alegada por esses líderes é a de que as palavras ou imagens usadas pelo artista precisam ser tiradas de circulação para proteger a família, particularmente os jovens, de influências indevidas e danosas, que poderiam perverter sua sexualidade ainda em formação.

O argumento não tem nenhuma base científica, mas deixemos isso para lá. Mesmo que fosse verdade, o fato é que, no mundo de redes sociais e polarização política em que vivemos, tentativas de suprimir algo das vistas do público invariavelmente provocam reações cujo resultado é dar ampla publicidade ao material --o exato oposto dos objetivos proclamados.

Uma autoridade precisaria estar no limite da oligofrenia para ignorar esse efeito, de onde eu concluo que nossos candidatos a censores estejam muito menos interessados em preservar a juventude do que em apregoar em alto e bom som sua adesão a um conjunto específico de valores, isto é, em ganhar pontos com sua clientela. E o nome disso, em bom português, é hipocrisia --a homenagem que o vício presta à virtude, nas palavras de La Rochefoucauld.

Ranier Bragon - Ideologia da estupidez

- Folha de S. Paulo

Prefeito do Rio e governador de SP conseguem a proeza de ofuscar Bolsonaro

Sejamos justos. Desta vez a culpa não foi (só) de Jair Bolsonaro. O presidente estimulou tão somente um daqueles ufanismos apreciados por autoritários aqui e alhures.

Se a tal semana da pátria se resumisse ao verde e amarelo nas ruas, o único mal seria apenas o reforço do passageiro sequestro de símbolos nacionais pelo bolso-lavajatismo. Poderíamos, assim, nos contentar em admirar a acuidade da máxima britânico-brasileira de que o patriotismo é o último refúgio do canalha (Samuel Johnson) --sendo, no Brasil, o primeiro (Millôr Fernandes).

Mas não, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), queriam algo mais. Para calar fundo no coração bolsonarista, promoveram a sua particular semana da homofobia. Ou da ideologia da estupidez, como queiram.

O prefeito tentou censurar um gibi da Marvel que estampa um beijo gay. A não ser que consiga a proeza de provar que é pornografia um homem e uma mulher, ambos vestidos, se beijarem, Crivella cometeu um ato homofóbico. Atitude que desde junho se equipara ao racismo, ou seja, é crime inafiançável, imprescritível e pode dar até cinco anos de prisão.

Pablo Ortellado* - Moinho de vento

- Folha de S. Paulo

Cruzada religiosa contra a 'ideologia de gênero' ameaça direitos civis e combate ao preconceito

A censura a uma revista em quadrinhos ordenada pelo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, e a censura a um livro didático ordenada pelo governador de São Paulo, João Doria, ambos na semana passada, são os episódios mais recentes da batalha travada por fanáticos religiosos contra o moinho de vento da ideologia de gênero.

Acreditando defender a família tradicional de uma ameaça inexistente, nossos modernos cavaleiros templários violam direitos civis e criam obstáculos concretos ao combate ao preconceito.

Segundo teóricos católicos, a "ideologia de gênero" seria um conjunto de teses adotadas por feministas para transformar as diferenças biológicas entre os sexos em uma construção social com o objetivo de promover o homossexualismo e o transexualismo, destruir a família tradicional e reduzir a natalidade.

O documento fundador dessa excêntrica tese, apresentado na Conferência Episcopal do Peru, em 1998, está reagindo à adoção da "linguagem de gênero" na 4ª Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mulher, em 1995.

Desde então, lideranças católicas e, em seguida, evangélicas se convenceram de que os movimentos feminista e LGBT estão numa campanha sorrateira para sexualizar as crianças e perverter sua orientação e identidade sexual.

Joel Pinheiro da Fonseca* - Puritanismo safado

- Folha de S. Paulo

Crivella quis insuflar uma guerra ideológica artificial da qual possa ser protagonista

A cena de fiscais inspecionando a Bienal do Livro no Rio de Janeiro à procura de livros ofensivos à pureza das crianças é um emblema lamentável do momento atual: perversão das instituições e a violação de direitos básicos a serviço da demagogia oportunista. E a reprodução maciça da cena do beijo gay da HQ proscrita, em jornais, na televisão e por toda a internet, é o símbolo da reação —bem-humorada, destemida— da sociedade civil à degeneração moral que vem da política.

Não duvido que o prefeito do Rio seja homofóbico de verdade. Duvido, aí sim, que essa operação em defesa "das crianças" tenha sido sincera, isto é, fruto do desejo real de preservá-las daquilo que ele considera um pecado. Em primeiro lugar porque, como era mais do que previsível, a tentativa de censura a uma cena de beijo serviu apenas para divulgá-la para um número incomparavelmente maior de pessoas (inclusive crianças) do que a revista jamais teria alcançado por conta própria. E em segundo pela total irrelevância da medida: há tantos beijos gays diariamente expostos a crianças no Rio de Janeiro... Nos livros, nas praias, nas TVs, nos cinemas. Em mais de dois anos de mandato, Crivella jamais esboçou um plano para reduzir essa exposição. Conclui-se, portanto, que isso não é seu objetivo.

Andrea Jubé - O quinto ministério do Planalto

- Valor Econômico

Titular da SAJ tem poder e influência de ministro

O poder começa num gabinete de deputado federal de 37,7 metros quadrados, sem banheiro privativo. O poder começa em uma amizade de família e pode recomeçar a qualquer momento em um cargo de segundo escalão no Poder Executivo. O poder pode acabar em um ministério palaciano, ou só fazer uma escala, e de lá, voar mais alto.

O cargo de subsecretário de Assuntos Jurídicos (SAJ), originalmente vinculado à Casa Civil, tornou-se uma escala tradicional de poder na história da República. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, é o exemplo mais recente dessa tradição.

Uma longeva relação de amizade e confiança catapultou o então advogado e major da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal Jorge Antônio de Oliveira de um cargo invisível de assessor do gabinete do deputado Jair Bolsonaro para uma pasta com atribuição de dois ministérios: a Secretaria-Geral da Presidência e a Subsecretaria de Assuntos Jurídicos.

A SAJ é um cargo de segundo escalão, mas que pela relevância do papel e influência junto ao presidente da República tem na prática poderes de um ministério.

O titular da SAJ deve ser um nome da estrita confiança do presidente. Por isso, Jorge Oliveira, há pouco mais de dois meses no comando da Secretaria-Geral, acumulou as duas funções, tornando-se um ministro que vale por dois.

Maria Clara R. M. do Prado - Polêmico debate sobre tributos

- Valor Econômico

O sistema tributário brasileiro é incoerente, obscuro e ganancioso. Por isso, reformá-lo não é um debate trivial

Ao contrário da reforma da previdência social, cuja discussão no Executivo e no Legislativo tem evoluído ao longo dos últimos 25 anos, pode-se dizer que a questão tributária é um tema ainda virgem no Congresso Nacional. Sua tramitação promete momentos de grande emoção pela frente. Tributo significa receita e receita significa poder político. Em uma federação como a brasileira, em que o poder de administrar a coisa pública se ramifica em três diferentes esferas, cada qual com suas obrigações, mexer no sistema tributário vigente implica despertar receios, interesses e atitudes defensivas típicas dos embates políticos mais profundos, aqueles que se travam pela conquista dos recursos orçamentários.

Com isso, não se quer dizer que a reforma tributária não seja necessária. Desde priscas eras, a história dos tributos no Brasil evoluiu de forma promíscua, redundando em um cipoal de taxas, impostos e contribuições a desafiar constantemente a capacidade de adaptação do contribuinte. O sistema tributário brasileiro é incoerente, obscuro e ganancioso.

Por isso mesmo, não se deve supor que o debate em torno da reforma tributária venha a ser trivial. Um bom exemplo é a discussão sobre a reintrodução do imposto sobre a movimentação ou transação financeira que, a rigor, não deveria fazer parte de um pacote que pretenda ser reformista. Mal o Executivo colocou o tema na rua, a reação foi imediata, uns contra, outros a favor.

Quem se opõe alega que um imposto nos moldes da antiga CPMF é esdrúxulo porque atingiria os pagamentos em geral, ou seja, operações efetuadas através dos bancos que não necessariamente envolvem ganhos de capital ou algum tipo de rendimento sobre os quais a tributação se justificaria. Para o governo federal, seu maior defensor, aquele tipo de imposto é um maná, com arrecadação imediata, garantida na certa. Se tiver o nome de contribuição, melhor. Fica tudo com a União, sem precisar dividir o bolo com Estados e municípios.

A prática da CPMF é familiar. Vigorou no Brasil entre 1997 e 2007, entre idas e vindas, com taxas diversas, tendo atingido a alíquota máxima de 0,38%. Chamava-se popularmente imposto sobre o cheque. Hoje, como quase não há cheques em circulação, o grosso da incidência se daria nas transações efetuadas por meio digital ou nos caixas eletrônicos. O ministro da economia, Paulo Guedes, tem mencionado o assunto, indicando que o novo imposto sobre transações financeiras (ITF) ou sobre pagamentos (IP), ou qualquer outra alcunha que venha a ter, partiria de uma alíquota muito pequena, quase imperceptível, da ordem de 0,10% a 0,20%, mas poderá subir. Note-se que a CPMF começou como IPMF em 1993, com alíquota de 0,25%.

Pedro Cafardo - A virtude da tolerância e os riscos da omissão

- Valor Econômico

Se não há reação a absurdos, as omissões podem ser mortais

Quem já conseguiu atravessar as 1.200 páginas da edição condensada da monumental obra de Winston Churchill denominada "Memórias da Segunda Guerra Mundial" pôde notar a decepção do autor com o fracasso das democracias europeias por ter permitido aquela absurda matança do século XX. Cerca de 60 milhões de pessoas morreram durante a guerra, sendo 8% da população da Alemanha e 14% dos habitantes da então União Soviética.

Churchill, que foi primeiro-ministro do Reino Unido durante a guerra, confessa que teria sido extremamente fácil evitar aquela tragédia. Observa que a maldade dos perversos foi reforçada pela fraqueza dos virtuosos; que as recomendações de prudência e continência se transformaram nos principais agentes de um perigo mortal; que o meio-termo adotado em função de desejos de segurança e de uma vida tranquila conduziu ao desastre.

Quando Churchill expõe essas ideias, está falando claramente de omissão. Está dizendo que se pode pagar muito caro por omissões e que elas muitas vezes são mortais.

Depois da Primeira Guerra Mundial, escreve Churchill, teria sido simples manter a Alemanha desarmada e os vencedores aliados armados, para impor um longo período de paz na Europa. Mas não se fez isso.

Em 1936, Adolf Hitler invadiu a Renânia, região da fronteira da Alemanha com a França que havia sido desmilitarizada pelo Tratado de Versalhes no fim da Primeira Guerra. A região era uma barreira natural para uma eventual invasão da França pelos alemães. Violando o Tratado de Versalhes, Hitler enviou suas tropas para a Renânia e os países aliados, para evitar conflitos, toleraram. Acreditaram no blefe de Hitler de que o exército alemão tinha ordens para não resistir e retirar-se da região se houvesse algum confronto.

Em resumo, a eclosão da Segunda Guerra, depreende-se do relato de Churchill, se deu por causa de omissões. Quando Hitler colocou seus exércitos na Renânia, que deveria ficar desmilitarizada, França e Reino Unido disseram "deixa pra lá, ele vai parar por aí". Mas depois ele invadiu a Áustria, a Checoslováquia e não parou. Quando França e Reino Unido se deram conta, era tarde demais.

Ricardo Noblat - O embaixador pistoleiro e o guerrilheiro Carlos

- Blog do Noblat | Veja

Boletim sobre os intrépidos garotos
Com o pai preso a um leito de hospital e impedido por ora de dizer ou de cometer sandices, os garotos Carlos e Eduardo Bolsonaro voltaram a pontificar em grande estilo nas redes sociais.

Haveria melhor momento para chamar atenção e aumentar o número dos seus seguidores, sejam eles devotos mansos ou adversários indignados? Não resistiram, pois.

À caça de votos para ser nomeado embaixador do Brasil em Washington, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) postou no Instagram uma foto sua ao lado do pai convalescente.

Detalhe que o aspirante a diplomata fez questão de mostrar: na cintura, uma pistola Glock 9mm de cor preta. É a arma padrão usada pelos policiais federais. Eduardo é escrivão licenciado.

Pode uma visita entrar armada em um hospital e circular por ali? A direção do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, respondeu que cabe à presidência da República cuidar da segurança do enfermo.

E da segurança dos outros enfermos e funcionários do hospital, quem cuida? E se Eduardo sacasse a arma para reagir ao desacato de um eventual inimigo com quem cruzara pelos corredores?

O Zero Três gosta de armas, de praticar tiro ao alvo e de falar grosso quando pode. Não foi ele que deu a receita para fechar o Supremo Tribunal Federal? Bastariam um cabo e dois soldados.

Ultimamente discreto no Twitter, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) voltou com a corda toda. Em meio aos elogios de praxe ao pai e ao governo, postou um comentário que logo bombou.

“Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos… e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!”

Se por vias democráticas o Brasil não mudará na velocidade desejada por ele e os que pensam como ele, o que sugere o Zero Dois? Pegar em armas? Aplicar um golpe? Instalar uma ditadura?

Convenhamos: isso não seria um comportamento típico da esquerda que os Bolsonaros acusam de antidemocrática, autoritária e golpista? Não teria mais a ver com Cuba e Venezuela?

É fato que uma fatia da esquerda pegou em armas duas vezes com a promessa de mudar o Brasil: em 1935 e no final dos anos 60. Foi esmagada pelas ditaduras de Getúlio Vargas e dos militares.

Os garotos estão preocupados com a queda de popularidade do pai e do seu governo, e com a ameaça de voltarem a ser investigados pelo Ministério Público no caso de rolos fiscais (alô, alô, Queiroz!).

De resto, têm colecionado más notícias. Uma delas, a derrubada pelo Congresso do veto do seu pai ao projeto de lei que aumentou a pena para quem distribuir notícias falsas nas redes sociais.

Eduardo protestou. Disse que o projeto só beneficia a esquerda que dispõe de “melhores advogados”. O pai o apoiou. Os dois negam que distribuam notícias falsas. (kkkkkkkkkkkkkkkkk)

Tirar dos Bolsonaros seu principal instrumento de fazer política é desarmá-los por completo, é deixá-los expostos à sua falta de ideias construtivas, é reduzi-los à sua magnífica insignificância.

O aspirante a diplomata bem que poderia se ocupar fritando hambúrguer para os amigos em Washington. Mas, e o guerrilheiro de fancaria? Com o que iria se ocupar?

Huck quer um lugar no caldeirão de 2022

Te cuida, Doria!
Foi o discurso possível que a essa altura alguém se arriscaria a fazer como aspirante a candidato à sucessão do presidente Jair Bolsonaro. Se lhe perguntarem se será, negará. É de praxe.

Em seminário promovido pela revista Exame, em São Paulo, diante de uma plateia de executivos de empresas, o apresentador do Caldeirão do Huck falou como se só pensasse naquilo.

O que pensa a mídia – Editoriais

O fator Bolsonaro – Editorial | Folha de S. Paulo

É difícil mensurar o impacto de atitudes do presidente na letargia econômica

Enquanto se consolida o fiasco econômico deste 2019, analistas do setor privado começam a abandonar expectativas de um desempenho mais robusto no próximo ano.

Como noticiou esta Folha, profissionais de bancos e consultorias já projetam taxas de crescimento do Produto Interno Bruto abaixo de 2% em 2020. Desde o fim da brutal recessão de 2014-16 o país não atinge esse patamar medíocre.

Não se pode acusar o mercado de pessimismo. Ao longo desta década, os resultados do PIB têm sido sistematicamente inferiores às previsões iniciais. Não será diferente neste ano, em que a expansão esperada rondava os 2,5% em janeiro.

O desapontamento chegou à percepção geral. Segundo o Datafolha, a parcela do eleitorado que diz acreditar na melhora da situação econômica recuou de 65% para 40% ao longo de 2019.

Poesia | Ascenso Ferreira - Toré

Os dois maracás,
um fino e outro grosso,
fazem alvoroço
nas mãos do Pajé:

— Toré!
— Toré!

Bambus enfeitados,
compridos e ocos,
produzem sons roucos
de querequexé!

— Toré!
— Toré!

Lá vem a asa-branca,
no espaço voando,
vem alto, gritando...
— Meus Deus, o que é?

— Toré!
— Toré!

— É o Caracará
que está na floresta,
vai ver minha besta
de pau catolé...

— Toré!
— Toré!

Cabocla bonita,
do passo quebrado,
teu beiço encarnado,
parece um café

— Toré!
— Toré!

Pra te ver, cabocla!
na minha maloca,
fiando na roça,
torrando pipoca,
eu entro na toca
e mato onça a quicé!

— Toré!
— Toré!

Música | Alceu Valença - Numa sala de reboco