CartaCapital
Quando os mais pobres têm mais renda
disponível, cria-se o círculo virtuoso
Sempre acreditei que muito dinheiro nas mãos
de poucos significa concentração de riqueza, significa fome e miséria. E que um
pouco de dinheiro nas mãos de muitos é desenvolvimento, é emprego e redução das
desigualdades. O Brasil que vemos neste fim de 2025 mostra essa lógica: com
três anos de políticas voltadas à redistribuição de renda e de oportunidades,
não faltam indicadores para ilustrar que o caminho da justiça social está sendo
trilhado a passos rápidos.
O rendimento mensal do trabalho, medido pelo IBGE desde 2012 na Pnad Contínua, teve seu pico histórico em outubro: 3.528 reais. O mesmo aconteceu com a massa salarial, que chegou a 357,3 bilhões de reais naquele mês. O Brasil bate recorde atrás de recorde na quantidade de trabalhadores formais e de pessoas ocupadas em geral. O desemprego chegou ao menor patamar já medido: 5,4%.
O salário mínimo cresce acima da inflação e
uma série de iniciativas para reduzir o custo de vida da população de baixa
renda está sendo implantada. Com novas regras, estamos zerando a conta de luz
para famílias de baixa renda que consomem até 80 KWh mensais. Isso beneficiará
diretamente 50 milhões de brasileiros, além de outros 60 milhões que pagarão
apenas o que exceder essa cota. Aprovamos, também, a distribuição gratuita de
gás de cozinha a 15 milhões de famílias. Até agora, contávamos com um auxílio
que atingia pouco mais de um terço disso – 5,5 milhões de famílias.
Quando os mais pobres têm mais renda
disponível, cria-se o círculo virtuoso que todos conhecem: o mercado de consumo
se aquece, puxa a produção e a geração de empregos. Com isso vem mais renda. E,
em conjunto com uma série de programas sociais bem estruturados e geridos, como
é o caso do Bolsa Família, os resultados aparecem na vida das pessoas.
Junto ao que ocorre no Brasil vem o
reconhecimento internacional pela nossa opção política: saímos da situação
vergonhosa que era estar inserido no Mapa da Fome compilado pela Organização
das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, a FAO.
A valorização dos trabalhadores e o
reconhecimento do andar de baixo é que fortalece a estrutura econômica do nosso
País. Estrutura que, ao contrário do que afirmam alguns analistas, está sólida
e em uma de suas melhores fases históricas.
A inflação está sob controle e as projeções
são de que, ao fim de 2026, terminaremos o mandato com a menor inflação
acumulada desde a criação do Plano Real. O regime fiscal sustentável – criado
para tirar o País do caos orçamentário e financeiro que encontramos sem precisar
paralisar o investimento e as políticas públicas – segue vigente e tem suas
metas cumpridas.
Mesmo com as turbulências do comércio
internacional, nossas exportações seguiram crescendo e, em três anos, abrimos
mais de 500 mercados em todos os continentes. Em 2023 e 2024, o PIB brasileiro
teve um crescimento superior ao da média dos países da OCDE. E as projeções do
Fundo Monetário Internacional é de que isso vai se repetir neste ano que está
quase acabando.
Partes importantes da transformação em curso
ainda estão por vir. A partir de janeiro, as pessoas que ganham até 5 mil reais
por mês estarão isentas do Imposto de Renda, e as que ganham até 7,3 mil reais
pagarão menos. Em muitos casos, isso significará praticamente um décimo quarto
salário anual. E, de forma agregada, vai promover a injeção de 17 bilhões de
reais por ano na economia.
A reforma tributária, aprovada em 2023 após
mais de 40 anos de tentativas, começa a entrar gradualmente em vigor a partir
do ano que vem. Além de racionalizar a tributação, acabar com guerras fiscais e
tornar mais fácil a vida das empresas, desfaz a lógica da tributação regressiva
que sempre fez os impostos pesarem muito mais no bolso dos que têm menos.
Estamos corrigindo as injustiças históricas
que sempre jogaram nas costas do povo trabalhador um peso desproporcional na
forma de impostos, muitas vezes sem cobrar o mínimo dos super-ricos. Mas isso
está mudando.
Estabelecemos, pela primeira vez, um piso de
contribuição para o andar mais alto de nossa sociedade, cujos rendimentos
financeiros conseguiam escapar do Imposto de Renda. Reduzimos
significativamente alguns gastos tributários decorrentes de isenções e
benefícios fiscais que já não faziam mais sentido. E estamos trabalhando
firmemente para conseguir reduzi-los ainda mais.
No caso dos impostos, estamos corrigindo as
injustiças históricas que sempre pesaram nas costas do povo trabalhador
Essas conquistas, que decorrem de um programa
de governo coerente e politicamente comprometido, só foram possíveis porque
temos uma democracia que não se curva. Nossa história já mostrou que, durante
os períodos autoritários que vivemos, a desigualdade de renda só fez aumentar.
Mesmo recentemente, o extremismo político desmontou políticas públicas e
diminuiu a capacidade do Estado de realizar ações estruturantes e melhorar a
vida dos segmentos mais vulneráveis da sociedade. Mas a democracia venceu, está
entregando os resultados àqueles que mais precisam e por isso mesmo se tornará
cada vez mais forte.
Em um mundo repleto de ameaças autoritárias,
de descrédito das instituições e de uma aceleração inédita na concentração de
riquezas, com um grupo de 3 mil bilionários detendo 14,6% do PIB global, o
Brasil está mostrando que é possível seguir um caminho diferente.
Um caminho que, no plano interno, se pauta na
promoção do desenvolvimento com distribuição de riqueza, combate a antigos
privilégios e fortalecimento das instituições democráticas. E, no plano
externo, pela defesa do multilateralismo e a busca de mecanismos renovados de
governança internacional que deem conta da realidade e dos desafios atuais.
Um caminho que privilegia ações como a da
Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, que lançamos durante a nossa
presidência do G20. Que não normaliza o absurdo de a humanidade movimentar 2,7
trilhões de dólares em gastos militares ao ano, enquanto 673 milhões de seres
humanos estão passando fome. E no qual as nações mais ricas são instadas a
fazer a parte que lhes cabe para enfrentar os urgentes desafios das mudanças
climáticas, sem jogar sobre os países mais pobres todo o peso da transição
necessária.
Em momentos cruciais como o que vivemos, com
tantas crises ocorrendo ao mesmo tempo, a humanidade precisa saber que rumo
trilhar. E a contribuição que o Brasil vem dando é justamente a de apontar o
caminho da democracia e da justiça social. •
*Presidente da República Federativa do
Brasil.
Publicado na edição n° 1394 de CartaCapital, em 31 de dezembro de 2025.

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