Valor Econômico
Caso do Banco Master confirma que
instituições não são suficientes para preservar a democracia e evitar a
corrupção
Muitos atribuem à força das nossas
instituições a razão por que a democracia brasileira sobreviveu diante da
tentativa de golpe bolsonarista. Segundo essa interpretação, a postura firme do
Supremo Tribunal Federal na reação ao 8 de janeiro e a decisão das Forças
Armadas de não embarcarem na aventura golpista foram fundamentais para o
malogro da séria ameaça autocrática que sofremos.
Quem discorda dessa tese aponta que o desfecho da história seria completamente diferente se Alexandre de Moraes não estivesse na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, ou se o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Júnior tivessem aderido aos planos de Bolsonaro tal qual seu colega, o almirante Almir Garnier Santos.
Instituições também podem atuar contra o
interesse público quando conduzidas por pessoas a serviço de determinado
projeto de poder - que o digam o Ministério Público sob o comando de Augusto
Aras, a Polícia Federal com a chefia de Anderson Torres e a Polícia Rodoviária
Federal tendo à frente o fujão Silvinei Vasques.
Pessoas, portanto, importam tanto quanto as
instituições. É preciso cuidado, porém, com os salvadores da pátria. Sérgio
Moro e Deltan Dallagnol, no auge da Lava Jato, surgiram como a personificação
da defesa da ética pública no país. Depois que colocaram seus projetos
políticos à frente da atuação como juiz e procurador e a Vaza Jato revelou os
abusos na condução dos processos, eles deram motivo para um retrocesso
institucional de décadas no combate à corrupção no Brasil.
O caso do Banco Master é mais um exemplo de
como instituições podem agir contra ou a favor do interesse público, a depender
da postura de suas lideranças.
A despeito de algumas falhas na busca de uma
solução de mercado para os problemas de solvência do banco de Daniel Vorcaro
(como uma reunião com a nata dos banqueiros brasileiros num final de semana,
sem registro na agenda oficial), a condução de Gabriel Galípolo e dos diretores
Ailton de Aquino (fiscalização) e Renato Gomes (organização do sistema financeiro)
seguiu o manual: analisaram a proposta de compra pelo BRB, identificaram graves
indícios de fraude, reprovaram a operação e, após acionar a Polícia Federal,
decretaram a liquidação do banco antes que ela contaminasse todo o sistema
financeiro. E tudo isso debaixo de intensa pressão política, como se espera de
um órgão que detém independência funcional.
Do outro lado, temos uma intensa operação de
agentes públicos colocando instituições para trabalhar a serviço de interesses
privados. O medo de que os vínculos entre Vorcaro e a elite política brasileira
se tornassem públicos, num escândalo de proporções incalculáveis, tem
mobilizado diversas ações nada republicanas.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis
Rocha (MDB), mobilizou seu banco estatal para salvar o Master, promovendo
operações suspeitas de mais de R$ 12 bilhões - em termos comparativos, o
Departamento de Justiça americano apurou na Lava Jato que a Odebrecht teria
pagado US$ 1,137 bilhão em propinas no Brasil e em outros 12 países, o que dá R$
6,3 bilhões na cotação atual.
Houve também a tentativa de líderes do
Centrão, tendo à frente o deputado Cláudio Cajado (PP-BA), que tentaram aprovar
projeto que autorizava o Congresso a destituir diretores do Banco Central como
forma de pressão pela aprovação da compra do Master pelo BRB. Vários políticos
comandam fundos de pensão estatais que tiveram prejuízos bilionários com a
falência do banco.
A remessa do processo do Master para o STF
expôs conflitos éticos e comportamento antirrepublicanos que há muito
contaminam essa corte.
A dúvida se Alexandre de Moraes pressionou ou
não Gabriel Galípolo por uma solução para o caso muda totalmente de dimensão
quando se descobre que o escritório de sua esposa e filhos possuía um contrato
de R$ 129 milhões com o banco Master.
Já a condução de Dias Toffoli na relatoria do
processo criminal, que já havia sido manchada pela notícia da carona num
jatinho privado com o advogado de um dos sócios do banco, gera suspeita ainda
maior com a decretação do sigilo total sobre o processo e a determinação de uma
acareação totalmente ilegal entre Daniel Vorcaro, o ex-presidente do BRB Paulo
Henrique Costa e o diretor de fiscalização do Bacen, Ailton de Aquino.
Acareação a portas fechadas, sem ouvir previamente as partes e testemunhas não
é procedimento criminal - é bullying contra o servidor do Banco Central. Há o
receio, inclusive, que Toffoli cancele a liquidação extrajudicial do Master.
Como se não bastasse, o ministro Jhonatan de
Jesus, ex-deputado indicado pelo Centrão para ser ministro do TCU, também se
juntou à pressão institucional, abrindo outro processo sigiloso para investigar
a conduta da diretoria do Bacen.
Meu desejo para 2026 é que saibamos colocar
as nossas preferências ideológicas de lado e saibamos identificar e condenar
esses agentes públicos que direcionam as instituições para defender interesses
políticos, econômicos e até pessoais.
Feliz ano novo a todos os leitores.

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