Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Gestor dos maiores fundos do planeta e de programas do BC dos EUA, Bill Gross pede pacote de trilhões a Obama
O GOVERNO dos EUA precisa gastar trilhões a fim de evitar uma "minidepressão". A opinião é de Bill Gross, que a externou numa entrevista à agência de notícias financeiras Bloomberg. Gross é o principal executivo financeiro da Pimco, gestora dos maiores fundos de renda fixa do mundo, parte da Allianz, maior seguradora europeia. A Pimco é ainda um dos administradores contratados pelo banco central americano para comprar notas promissórias do mercado e títulos lastreados em hipotecas, os papéis que deram origem à série de crises.
Entre as encarnações individuais disso que se chama de mercado, Gross é uma figura bem relevante. Faz parte da cúpula que faz acontecer e sabe o que está acontecendo. Não dá pontos sem nó e, claro, não deve opinar em público contra o seu interesse, para dizer o menos. Mas não é exatamente um bucaneiro vulgar e gratuito do mercado.
Em setembro de 2009, dias antes de o Lehman Brothers explodir, Gross pedia que o governo americano comprasse papéis podres do mercado, entre outras intervenções estatais, em um de seus artigos publicados no site da Pimco. Foi muito enfático na ocasião: se o governo não "abrisse o cofre" (aspas literais), viria um "tsunami financeiro". Veio.
A sugestão é hoje carne de vaca, mas, entre gente mais importante, apenas economistas mais acadêmicos sugeriam então coisa assemelhada em público, muitas vezes tomando pedradas.
Ainda em agosto de 2008, Henry Paulson, o secretário do Tesouro de George Bush, dizia: "Não temos plano algum de injetar dinheiro nessas duas instituições" (as quebradas Fannie Mae e Freddie Mac, que financiam metade do mercado imobiliário americano).Gross deu sua sugestão no dia 4 de setembro. No dia 7, o governo estatizou Freddie Mac e Fannie Mae. No dia 14 de setembro, Paulson dizia: "Jamais considerei apropriado colocar o dinheiro do contribuinte na mesa a fim de [resolver] os problemas do Lehman Brothers". No dia seguinte, o Lehman explodiu. Dia 19, Paulson defendia assim seu pacotão de compra de papéis podres dos bancos (uma quase doação): "Estamos falando de centenas de bilhões de dólares -isso precisa ser grande o bastante para fazer diferença e ir ao coração do problema".
Gross sabia mais ou menos quando e onde o galo iria cantar. Agora, sugere despesa de trilhões enquanto o Senado dos EUA discute se apara o pacote fiscal de Barack Obama. Quando Timothy Geithner, secretário do Tesouro de Obama, está para anunciar o novo pacote financeiro (deve sair dia 9). Gross temperou seu alerta com a mesma pimenta retórica da sugestão de setembro:
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Gestor dos maiores fundos do planeta e de programas do BC dos EUA, Bill Gross pede pacote de trilhões a Obama
O GOVERNO dos EUA precisa gastar trilhões a fim de evitar uma "minidepressão". A opinião é de Bill Gross, que a externou numa entrevista à agência de notícias financeiras Bloomberg. Gross é o principal executivo financeiro da Pimco, gestora dos maiores fundos de renda fixa do mundo, parte da Allianz, maior seguradora europeia. A Pimco é ainda um dos administradores contratados pelo banco central americano para comprar notas promissórias do mercado e títulos lastreados em hipotecas, os papéis que deram origem à série de crises.
Entre as encarnações individuais disso que se chama de mercado, Gross é uma figura bem relevante. Faz parte da cúpula que faz acontecer e sabe o que está acontecendo. Não dá pontos sem nó e, claro, não deve opinar em público contra o seu interesse, para dizer o menos. Mas não é exatamente um bucaneiro vulgar e gratuito do mercado.
Em setembro de 2009, dias antes de o Lehman Brothers explodir, Gross pedia que o governo americano comprasse papéis podres do mercado, entre outras intervenções estatais, em um de seus artigos publicados no site da Pimco. Foi muito enfático na ocasião: se o governo não "abrisse o cofre" (aspas literais), viria um "tsunami financeiro". Veio.
A sugestão é hoje carne de vaca, mas, entre gente mais importante, apenas economistas mais acadêmicos sugeriam então coisa assemelhada em público, muitas vezes tomando pedradas.
Ainda em agosto de 2008, Henry Paulson, o secretário do Tesouro de George Bush, dizia: "Não temos plano algum de injetar dinheiro nessas duas instituições" (as quebradas Fannie Mae e Freddie Mac, que financiam metade do mercado imobiliário americano).Gross deu sua sugestão no dia 4 de setembro. No dia 7, o governo estatizou Freddie Mac e Fannie Mae. No dia 14 de setembro, Paulson dizia: "Jamais considerei apropriado colocar o dinheiro do contribuinte na mesa a fim de [resolver] os problemas do Lehman Brothers". No dia seguinte, o Lehman explodiu. Dia 19, Paulson defendia assim seu pacotão de compra de papéis podres dos bancos (uma quase doação): "Estamos falando de centenas de bilhões de dólares -isso precisa ser grande o bastante para fazer diferença e ir ao coração do problema".
Gross sabia mais ou menos quando e onde o galo iria cantar. Agora, sugere despesa de trilhões enquanto o Senado dos EUA discute se apara o pacote fiscal de Barack Obama. Quando Timothy Geithner, secretário do Tesouro de Obama, está para anunciar o novo pacote financeiro (deve sair dia 9). Gross temperou seu alerta com a mesma pimenta retórica da sugestão de setembro:
"Há [o risco] de uma catástrofe se o governo dos EUA continuar a pensar em [apenas] bilhões de dólares".
Os rumores sobre o pacote Geithner-Obama são confusos. Pode incluir a compra de papéis podres, que seriam transferidos para um banco estatal. Haverá, de qualquer modo, alguma injeção de dinheiro nos bancos -talvez uma estatização adicional. Deve haver mais garantias públicas para dívidas privadas (o governo banca o seguro do calote). O que quer que saia do Congresso e do Tesouro americano, porém, Gross está achando pouco. De algum modo, ele sabe do que está falando.
Os rumores sobre o pacote Geithner-Obama são confusos. Pode incluir a compra de papéis podres, que seriam transferidos para um banco estatal. Haverá, de qualquer modo, alguma injeção de dinheiro nos bancos -talvez uma estatização adicional. Deve haver mais garantias públicas para dívidas privadas (o governo banca o seguro do calote). O que quer que saia do Congresso e do Tesouro americano, porém, Gross está achando pouco. De algum modo, ele sabe do que está falando.
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