Merval Pereira
DEU EM O GLBO
NOVA YORK. A decisão do Banco Central de emprestar até US$36 bilhões das reservas internacionais para ajudar a financiar empresas com dívidas no exterior que vencem até dezembro de 2009 é mais um sinal de que o governo está disposto a atuar no mercado para ajudar as empresas brasileiras a superarem dificuldades devidas à crise internacional, mas nada indica que seja uma solução para um problema que, para analistas aqui nos Estados Unidos, é mais de falta de crédito do que de dólares. A questão é que o Banco Central já vem fazendo isso: vendeu mais de U$20 bilhões de reservas; já ofereceu empréstimo para cartas de crédito de exportação; já ofertou mais de U$50 bilhões de hedge cambial.
Toda essa movimentação do Banco Central parece mais uma tentativa de mostrar-se cooperativo nesse momento de crise para reduzir as pressões sobre sua política de juros, ou pelo menos não ser acusado de responsável pela diminuição da atividade da economia brasileira.
Agora, se prepara para ajudar cerca de 4 mil empresas brasileiras ou multinacionais com negócios no país. As novas regras para esses empréstimos, que procuram compensar a falta de crédito internacional para as companhias brasileiras, não incluem leilões.
O BC fixou uma taxa de juros em 1,5% + Libor (taxa internacional de juros) que será cobrada em todas as operações, e a instituição que financiar o contrato cobrará um "spread" (diferença) sobre a taxa do BC.
Num primeiro momento, somente os bancos autorizados a operar em câmbio no Brasil participarão do programa, mas o Banco Central espera poder, em um mês, permitir que bancos estrangeiros classificados como de nível A também possam utilizar esses empréstimos.
Nesse mês, será preparada uma mudança na legislação para viabilizar a participação de bancos estrangeiros nessa operação, pois até o momento eles não podem entrar na categoria de agentes do mercado financeiro nacional.
Provavelmente a mudança de legislação deverá ser feita através de uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN). O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, reclamou da demora entre o anúncio da medida e sua implementação, e o presidente do Banco Cenyral, Henrique Meirelles, explicou em Davos, no Forum Econômico Mundial, que estava procurando uma saída legal para ter garantias dos empréstimos dos bancos estrangeiros.
Desde que anunciou a medida, já faz dois meses, o Banco Central debate-se com as dificuldades para colocar os bancos estrangeiros no programa, pois, no caso deles, não há garantias de que o dinheiro poderá ser recuperado se o banco tiver algum problema.
No caso dos bancos brasileiros, não há risco, pois o Banco Central pode recuperar o dinheiro diretamente das suas contas.
De qualquer forma, segundo Paulo Vieira da Cunha, ex-diretor da área internacional do Banco Central, o gargalo não é o mercado de câmbio.
Os operadores dos bancos sabem disso, tanto que os bancos diminuíram suas posições longas em dólares. As empresas também sabem que é a falta de crédito, e não de dólares que é a questão.
Todo problema começa com o banco estrangeiro que não quer ou não pode rolar o empréstimo. Não quer ou não pode, segundo Vieira da Cunha, porque não tem limite de capital, e precisa chamar seus créditos para fazer caixa.
Não é muito claro para o mercado que um banco estrangeiro seja atraído pela taxa do empréstimo do Banco Central brasileiro. Embora a taxa de juros do Banco Central seja mais cara que o Cupom cambial no momento, se o empréstimo for de curto prazo, esse subsídio não seria o suficiente para alterar a disposição ou capacidade para emprestar, dificuldade que se registra até para as empresas americanas de nível BBB, quanto mais para as brasileiras.
Para se ter uma ideia, o "spread" dos papéis dessas empresas BBB está hoje no equivalente a uma taxa de 11% ao ano. Vieira da Cunha lembra que, mesmo com esses preços, a emissão de nova dívida corporativa no começo deste ano bateu recordes, porque as empresas não têm acesso ao empréstimo bancário, e muito menos podem vender ações, e têm que ir para o mercado de papéis.
Hoje, segundo Paulo Vieira da Cunha, os bancos já não são o problema maior. "Eles já estão no buraco ou, no caso brasileiro, por exemplo, muito bem. O problema é o risco de crédito especialmente no Brasil, onde os bancos estão com capacidade de emprestar".
A solução seria simples - induzir alguém a emprestar mais para a Sadia, Marcopolo etc., ou, o que seria melhor na opinião de Vieira da Cunha, induzir essas empresas a diminuírem seu endividamento. "Menos investimento faz sentido, pois, no momento, o futuro é muito mais incerto", diz. Outra opção seria reestruturar seu capital, como fez a Votorantim.
"O BNDES tem seu papel, mas se for usar os R$100 bilhões vai ser um exagero. Ele, sim, vai usar o empréstimo do Bacen!", ironiza Vieira da Cunha.
Por um erro, na coluna de ontem coloquei a ministra Dilma Rousseff como ministra do Planejamento. Longe de mim querer tirar do lugar o ministro Paulo Bernardo, e, muito menos, reduzir o status da ministra quase candidata, que, como todos sabemos, é a chefe da Casa Civil e coordenadora do PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, e não um simples "plano", como também escrevi ontem erradamente.
DEU EM O GLBO
NOVA YORK. A decisão do Banco Central de emprestar até US$36 bilhões das reservas internacionais para ajudar a financiar empresas com dívidas no exterior que vencem até dezembro de 2009 é mais um sinal de que o governo está disposto a atuar no mercado para ajudar as empresas brasileiras a superarem dificuldades devidas à crise internacional, mas nada indica que seja uma solução para um problema que, para analistas aqui nos Estados Unidos, é mais de falta de crédito do que de dólares. A questão é que o Banco Central já vem fazendo isso: vendeu mais de U$20 bilhões de reservas; já ofereceu empréstimo para cartas de crédito de exportação; já ofertou mais de U$50 bilhões de hedge cambial.
Toda essa movimentação do Banco Central parece mais uma tentativa de mostrar-se cooperativo nesse momento de crise para reduzir as pressões sobre sua política de juros, ou pelo menos não ser acusado de responsável pela diminuição da atividade da economia brasileira.
Agora, se prepara para ajudar cerca de 4 mil empresas brasileiras ou multinacionais com negócios no país. As novas regras para esses empréstimos, que procuram compensar a falta de crédito internacional para as companhias brasileiras, não incluem leilões.
O BC fixou uma taxa de juros em 1,5% + Libor (taxa internacional de juros) que será cobrada em todas as operações, e a instituição que financiar o contrato cobrará um "spread" (diferença) sobre a taxa do BC.
Num primeiro momento, somente os bancos autorizados a operar em câmbio no Brasil participarão do programa, mas o Banco Central espera poder, em um mês, permitir que bancos estrangeiros classificados como de nível A também possam utilizar esses empréstimos.
Nesse mês, será preparada uma mudança na legislação para viabilizar a participação de bancos estrangeiros nessa operação, pois até o momento eles não podem entrar na categoria de agentes do mercado financeiro nacional.
Provavelmente a mudança de legislação deverá ser feita através de uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN). O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, reclamou da demora entre o anúncio da medida e sua implementação, e o presidente do Banco Cenyral, Henrique Meirelles, explicou em Davos, no Forum Econômico Mundial, que estava procurando uma saída legal para ter garantias dos empréstimos dos bancos estrangeiros.
Desde que anunciou a medida, já faz dois meses, o Banco Central debate-se com as dificuldades para colocar os bancos estrangeiros no programa, pois, no caso deles, não há garantias de que o dinheiro poderá ser recuperado se o banco tiver algum problema.
No caso dos bancos brasileiros, não há risco, pois o Banco Central pode recuperar o dinheiro diretamente das suas contas.
De qualquer forma, segundo Paulo Vieira da Cunha, ex-diretor da área internacional do Banco Central, o gargalo não é o mercado de câmbio.
Os operadores dos bancos sabem disso, tanto que os bancos diminuíram suas posições longas em dólares. As empresas também sabem que é a falta de crédito, e não de dólares que é a questão.
Todo problema começa com o banco estrangeiro que não quer ou não pode rolar o empréstimo. Não quer ou não pode, segundo Vieira da Cunha, porque não tem limite de capital, e precisa chamar seus créditos para fazer caixa.
Não é muito claro para o mercado que um banco estrangeiro seja atraído pela taxa do empréstimo do Banco Central brasileiro. Embora a taxa de juros do Banco Central seja mais cara que o Cupom cambial no momento, se o empréstimo for de curto prazo, esse subsídio não seria o suficiente para alterar a disposição ou capacidade para emprestar, dificuldade que se registra até para as empresas americanas de nível BBB, quanto mais para as brasileiras.
Para se ter uma ideia, o "spread" dos papéis dessas empresas BBB está hoje no equivalente a uma taxa de 11% ao ano. Vieira da Cunha lembra que, mesmo com esses preços, a emissão de nova dívida corporativa no começo deste ano bateu recordes, porque as empresas não têm acesso ao empréstimo bancário, e muito menos podem vender ações, e têm que ir para o mercado de papéis.
Hoje, segundo Paulo Vieira da Cunha, os bancos já não são o problema maior. "Eles já estão no buraco ou, no caso brasileiro, por exemplo, muito bem. O problema é o risco de crédito especialmente no Brasil, onde os bancos estão com capacidade de emprestar".
A solução seria simples - induzir alguém a emprestar mais para a Sadia, Marcopolo etc., ou, o que seria melhor na opinião de Vieira da Cunha, induzir essas empresas a diminuírem seu endividamento. "Menos investimento faz sentido, pois, no momento, o futuro é muito mais incerto", diz. Outra opção seria reestruturar seu capital, como fez a Votorantim.
"O BNDES tem seu papel, mas se for usar os R$100 bilhões vai ser um exagero. Ele, sim, vai usar o empréstimo do Bacen!", ironiza Vieira da Cunha.
Por um erro, na coluna de ontem coloquei a ministra Dilma Rousseff como ministra do Planejamento. Longe de mim querer tirar do lugar o ministro Paulo Bernardo, e, muito menos, reduzir o status da ministra quase candidata, que, como todos sabemos, é a chefe da Casa Civil e coordenadora do PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, e não um simples "plano", como também escrevi ontem erradamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário