sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O que os americanos precisam fazer

Barack Obama
DEU EM O GLOBO

A essa altura já ficou claro para todos que herdamos uma crise econômica tão profunda e nefasta como nunca desde os dias da Grande Depressão. Milhões de empregos, dos quais os americanos dependiam, evaporaram em apenas um ano; outros milhões de ninhos das famílias, pelos quais tanto se trabalhou, também desapareceram. Em qualquer canto, as pessoas estão preocupadas sobre o que trará o amanhã.

O que os americanos esperam de Washington é ação compatível com a urgência que percebem em suas vidas diárias - ação que seja rápida, ousada e sábia o suficiente para que possamos sair dessa crise.

Porque a cada dia que esperamos para começar a trabalhar na virada da nossa economia, mais pessoas perdem seus empregos, suas poupanças e suas casas. E, se nada for feito, essa recessão pode perdurar por anos a fio. Nossa economia vai perder cinco milhões a mais de empregos. O desemprego ficará perto dos dois dígitos. Nossa nação vai afundar ainda mais numa crise que, em algum momento, não conseguiremos mais inverter.

É por essa razão que percebo tal sentido de urgência em relação ao plano de recuperação que está diante do Congresso. Com ele, vamos criar ou salvar três milhões de empregos nos próximos dois anos, conceder alívio fiscal imediato a 95% dos trabalhadores americanos, estimular o consumo igualmente de empresas e pessoas, e dar passos para fortalecer nosso país para os próximos anos.

O pacote é mais do que uma mera relação de gastos de curto prazo - é uma estratégia para o crescimento a longo prazo dos Estados Unidos e uma oportunidade para setores como energia renovável, saúde e educação. E se trata de uma estratégia que será implementada com transparência e responsabilidade fiscal sem precedentes, de modo que os americanos saibam aonde está indo o dinheiro de seus impostos e como ele está sendo gasto.

Recentemente, surgiram críticas insidiosas contra esse plano, nas quais ecoam as fracassadas teorias que nos levaram à crise - a noção de que apenas o corte de impostos vai resolver nossos problemas; que poderemos enfrentar nossas grandes provas com meias medidas e ações fragmentadas; que poderemos ignorar desafios fundamentais, como independência energética e o alto custo da saúde e ainda esperar que a economia e nosso país prosperem.

Refuto essas teorias, assim como fez o povo americano quando foi às urnas em novembro e votou em massa pela mudança. Ele sabe que insistimos nesses caminhos por tempo demais. E, porque insistimos, o custo da saúde ainda cresce mais rápido do que a inflação. Nossa dependência em relação ao petróleo estrangeiro ainda ameaça nossa economia e nossa segurança. Nossas crianças ainda estudam em escolas que as deixam em desvantagem. Vimos as consequências trágicas quando nossas pontes ruíram e nossas represas vazaram.

A cada dia nossa economia fica mais doente - e o tempo de ministrar um remédio que devolva os americanos ao trabalho, que faça a economia pegar no tranco e invista num crescimento duradouro é agora.

Agora é o momento para proteger o seguro-saúde de mais de oito milhões de americanos, que correm o risco de ficar sem cobertura, e para informatizar os dados de saúde de cada cidadão dentro de cinco anos, economizando bilhões de dólares e incontáveis vidas no processo.

Agora é a hora de economizar bilhões construindo dois milhões de casas e fazendo 75% dos edifícios públicos com uso eficiente de energia; e dobrar nossa capacidade de gerar fontes alternativas de energia em três anos.

É o momento de dar às nossas crianças cada vantagem de que precisam para concorrer, aperfeiçoando dez mil escolas com salas de aula impecáveis, bibliotecas e laboratórios; treinando nossos professores em matemática e ciências; colocando o sonho de uma educação universitária ao alcance de milhões de americanos.

E agora é a hora de criar os empregos que irão preparar os Estados Unidos para o século XXI, reconstruindo velhas rodovias, pontes e diques; desenhando uma rede de energia elétrica inteligente; e ligando cada canto do país com informação através de uma superinfovia.

Há medidas que os americanos exigem que sejam adotadas sem demora. Eles são pacientes o bastante para saber que nossa recuperação será medida em anos, em vez de meses. Mas não têm paciência para o velho entrave partidário que se coloca no caminho da ação enquanto nossa economia continua caindo.

Portanto, temos que fazer uma opção. Podemos deixar mais uma vez que os velhos hábitos de Washington fechem o caminho do progresso. Ou podemos nos unir e dizer que, nos Estados Unidos, nosso destino não é escrito para nós, mas por nós. Podemos priorizar boas ideias em vez de velhas batalhas ideológicas, e um senso de objetividade em vez do míope partidarismo. Podemos agir ousadamente para transformar a crise em oportunidade e, juntos, escrever o próximo grande capítulo de nossa História e enfrentar o desafio de nosso tempo.

BARACK OBAMA é presidente dos Estados Unidos e publicou este artigo no "Washington Post"

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