SÃO PAULO - Como sou bastante fatalista, não tenho grande inquietação para saber o que o futuro me reserva ou aos outros habitantes do planeta. Suspeito que o que será, será. Nem por isso me dou o direito de desafiar a sorte fazendo o que é excessivamente arriscado (salvo em alguns momentos em que coberturas jornalísticas exigem mesmo correr riscos exagerados).
Mas desconfio de que eu seja minoria bem pequena. Agora, por exemplo, parece haver imensa ansiedade em torno do que vai acontecer com a tal crise, em adivinhar se o pior já passou ou se ainda há mais por vir, se a recuperação terá a forma de "V", de "L" ou de "U" ou outra letra qualquer que os oráculos inventam para simplificar as coisas.
A pressa em antecipar o futuro acaba contaminando mesmo a mídia da melhor qualidade, como é o caso do jornal britânico "Financial Times". Esta Folha reproduziu ontem texto de Krishna Guha e Sarah O"Connor, cuja essência é a de tentar injetar otimismo.
O trabalho é até bastante bom, com uma coleção de informações interessantes e sem arriscar-se ao chute, travestido de previsão, sobre o futuro próximo. Mas a pressa de antecipar o futuro é tamanha que os dois jornalistas escrevem, já no finzinho do texto, o seguinte.
Dadas certas condições, que eles listam, "novos brotos de recuperação florescerão, e os EUA -com a China- podem liderar o mundo em direção de uma recuperação sustentada ainda neste ano".
Em seguida, acrescentam: "Mas também é possível que os brotos definhem, com a contração e a estagnação na demanda privada dos EUA, e certamente se houver recaída no setor financeiro".
É mais ou menos como escrever sobre o jogo de domingo passado, que poderia ter terminado com empate, vitória do Corinthians ou vitória do Santos. Calma, gente, o futuro chegará e adivinhações não vão mudar o seu formato.
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