Flávia Tavares
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
"Imprensa tem o papel de veicular informações e promover debates", defende Wanderley Reis
As declarações do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), sobre o suposto embate entre mídia e Congresso colocam em polos opostos instituições que não competem. Essa é a opinião de analistas políticos ouvidos pelo Estado ontem, depois do discurso do senador no plenário.
"Em termos de representação política, eleita, claro que os políticos são os representantes legais do povo. A imprensa tem o papel de veicular informações e promover debates", diz Fábio Wanderley Reis, cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais. "Há espaço para os dois tipos de atuação."
Já o professor de filosofia política do Iuperj e da Universidade Federal Fluminense, Renato Lessa, aponta o equívoco de Sarney em afirmar que a mídia reivindica a representação do povo. "Não vejo a imprensa se apresentar com essa intenção, mas com a tarefa de informar", diz. O pronunciamento, para ele, deveria ser mais autocrítico, menos "triunfalista" e avaliar como o Legislativo "caminha contra a democratização". "O discurso é uma estranha maneira de comemorar o Dia da Democracia: reclamando de imprensa excessiva."
No que se refere à declaração de Sarney sobre a transparência dos três Poderes - em que afirmou que "o Legislativo faz tudo às claras"-, o historiador Boris Fausto a classificou como uma "escorregadela". "Então, os atos secretos foram feitos à noite?", alfineta. Fausto ressalta que a revolta de Sarney vem da convicção de que ele e sua família são "intocáveis".
A cientista política da Fundação Getúlio Vargas Maria Celina D"Araújo lamenta que o Brasil esteja discutindo a liberdade de imprensa. "Parece que nós e nossos vizinhos estamos com nostalgia do tempo em que o governo dizia o que a mídia podia fazer", diz. "Alguns políticos preferem a imprensa bajuladora, que só faz mal a quem governa e ao País."
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