Líderes europeus e bancos decretaram a tutela da economia da Grécia e um corte de € 100 bilhões de sua dívida. O pacote de resgate para a Europa prevê um fundo de € 1 trilhão para blindar o continente e os bancos. A notícia provocou euforia nas bolsas. A UE começa a percorrer países emergentes, entre eles o Brasil, em busca de recursos para financiar o plano
Alívio e desconfiança com pacote da EU
Bolsas reagiram bem ao acordo fechado na madrugada de quarta-feira para salvar a zona do euro, mas analistas ainda têm muitas dúvidas
Jamil Chade
GENEBRA - A Europa fechou ontem um acordo para cortar em 100 bilhões a dívida da Grécia com os bancos privados. Ainda incompleto, com muitas questões a serem resolvidas, o plano provocou euforia no mercado financeiro internacional e muitas dúvidas e receios entre os analistas econômicos.
A Bolsa de Frankfurt subiu 5,35%; a de Paris, 6,28%; e a de Londres, 2,89%. Mesmo com o acordo prevendo que os bancos aceitem abrir mão de 50% das dívidas da Grécia, foram eles os destaques do mercado financeiro ontem. Em Paris, Crédit Agricole disparou 22%, Société Générale avançou quase 23% e BNP Paribas subiu quase 17%.
Além do corte na dívida com os bancos, a Europa ainda prevê elevar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), criado para socorrer os países em dificuldade e recapitalizar bancos, de 440 bilhões para mais de 1 trilhão. A principal preocupação é ter caixa para blindar a Itália.
Uma das principais dúvidas em relação à viabilidade do plano é a capacidade de a União Europeia (UE) arrecadar tanto dinheiro para o Feef. Uma missão da UE começa hoje a percorrer os países emergentes em busca de recursos e coloca as fichas, principalmente, na China.
Os bancos europeus terão ainda de buscar 106 bilhões para reforçar o capital. Quem não conseguir os recursos necessários, poderá ser socorrido pelo governo de seu país. O que não se sabe é como atingir isso sem que os bancos simplesmente fechem as torneiras e deixem de emprestar. O resultado poderia ser mais recessão.
Entre os chefes de Estado, a ordem era de mostrar que a crise começou a ser derrotada. "Evitamos uma catástrofe que atingiria o mundo", disse o presidente da França, Nicolas Sarkozy.
Mas analistas e políticos alertam que os líderes europeus apenas ganharam tempo, já que questões críticas continuam em aberto. O entendimento ainda terá um preço alto para a Grécia, que praticamente perde a soberania econômica. Uma das condições impostas pela chanceler alemã, Angela Merkel, era de que Atenas passaria a ser monitorada por uma delegação permanente da UE na Grécia.
Depois de dez horas de negociação, confirmou-se uma realidade que analistas já vinham alertando há meses: a de que Atenas não teria recursos para honrar sua dívida de 330 bilhões.
A iniciativa faz parte de um segundo pacote de 130 bilhões da UE e do FMI para a Grécia, sob a condição de que Atenas reduza sua dívida dos atuais 180% do PIB para 120% em 2020. Os detalhes do pacote foram adiados para dezembro.
"Não alteramos nossa avaliação que a crise vai se aprofundar nos próximos meses, podemos gerar até mesmo um rompimento da zona do euro", afirmou Jonathan Lyones, da Capital Economics. "Do jeito que está, esse acordo não vai acalmar os mercados para sempre", alertou Guillaume Menuet, do Citibank.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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