Estava preparando um artigo sobre a crise econômica que nos atinge e que urgentemente precisa ser discutida. Entretanto, não poderia deixar passar o desarranjo que se instalou no Ministério do Esporte e que desaguou na demissão do ministro Orlando Dias, alvejado por várias denúncias de corrupção. Um polvo com muitos tentáculos, vários deles talvez ainda não descobertos. Esta é a imagem que melhor define hoje o Ministério do Esportee seus convênios com ONGs dirigidas por militantes do PC do B, partido que desde o início do governo Lula controla a pasta. Estes assumiram com a tarefa de repassar à sigla parte dos recursos que deveriam ser gastos no Programa Segundo Tempo, destinado a levar esporte a crianças carentes.
A denúncia veio a público por meio de uma entrevista de um ex-militante que participou dessa engrenagem, o soldado João Dias Ferreira. Com um esquema tão bem montado, é de se questionar se basta trocar o comando da pasta ou se é necessário afastar o polvo, retirando do ministério todo o partido que ali montou um sistema de arrecadação. Não são novidades para o Tribunal de Contas da União (TCU) e para a Controladoria Geral da União (CGU) as irregularidades e ilegalidades do programa. Os convênios entre as ONGs ligadas ao PC do B e o ministério vêm sendo investigados já faz tempo. Desde a gestão do atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz do PT, no ministério — então filiado ao PC do B — são denunciados e investigados casos semelhantes aos que Dias ex- pôs ao país. Naquela época, Orlando Silva era secretário-geral do ministério. No início, os recursos foram repassados para atender 50 mil jovens; agora o dinheiro é suficiente para atender um milhão. Isso é o que deveria acontecer. Não sabemos quantas pessoas carentes foram efetivamente acolhidas por esse programa, por causa dos desvios e das malfeitorias.
A ministra Carmem Lúcia do Supremo Tribunal Federal (STF) pediu cópia dos convênios para estudar o processo aberto contra Orlando Silva — que, com sua saída, vai para o Superior Tribunal de Justiça (STJ)— e o governador Agnelo Queiroz. O próprio procurador-geral da República, Roberto Gurgel, declarou que “toda a primeira aparência é de que o Programa Segundo Tempo tem sérios problemas de irregularidades em todo o país”. Não é, pois, uma constatação da oposição, mas da PGR.
No aprofundamento das investigações pelo STF, STJ e PGR deverá ficar esclarecido se a organização foi montada para atender ao apetite financeiro do PC do B ou se tudo é uma invencionice como dizemos“ cândidos”dirigentes do partido.Diante de tamanha evidência de que é insuficiente afastar o ministro para derrubar os tentáculos da corrupção no ministério, o PPS defende uma mudança profunda na pasta; uma verdadeira limpeza, que não deixe pedra sobre pedra no esquema montado para beneficiar um partido. O que ocorre no Ministério do Esporte não é diferente do que acontecia no governo Lula, do mensalão e dos aloprados. É im- portante,no entanto, deixar claro que a subalternidade não exime a presidente da responsabilidade sobre seu governo. Foi ela quem nomeou cada um de seus ministros, herdados ou não de Lula. Ela é quem responde pelo seu governo.
Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS
Fonte: Brasil Econômico
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