Após maratona que varou a noite, os líderes europeus anunciaram pacote anticrise que, entre os quatro pontos principais, prevê desconto de 50% no valor da dívida grega. Bolsas de Europa e EUA subiram, assim como a Bovespa (3,72%). O dólar fechou em queda de 2,89%. Mas o Instituto de Finanças Internacionais, que representa os bancos, quer negociar os termos do calote e da recapitalização prevista
Acordo europeu dá ânimo ao mercado, mas dúvidas seguem
Bolsas têm forte alta com anúncio de pacote anticrise, que inclui calote de 50% nos títulos da dívida grega
Bovespa sobe 3,72% e dólar cai; analistas são céticos sobre adesão de bancos e ampliação de fundo de estabilização
As Bolsas gostaram do pacote anticrise anunciado ontem por líderes europeus, apesar das muitas dúvidas sobre a sua viabilidade e de incluir calote de 50% da dívida grega nas mãos de credores privados.
Os principais índices europeus e dos EUA tiveram forte alta. A Bovespa subiu 3,72%, e o dólar caiu 2,89%, fechando a R$ 1,709.
Após uma maratona que varou a madrugada, o plano foi anunciado. Além do calote, inclui o aumento do fundo europeu de resgate, mais dinheiro para a Grécia e a capitalização de bancos.
As principais questões em aberto são a parcela da conta que vai recair sobre o contribuinte europeu e o tamanho efetivo da adesão dos bancos ao "desconto" (eufemismo para calote) nos títulos da dívida grega.
Em julho, um desconto de 21% já havia sido acertado, numa versão anterior do pacote. Com a subida para 50%, cerca de € 100 bilhões terão de ser perdoados.
Foi feito um esforço para caracterizar o perdão como um gesto voluntário dos bancos, que estavam ameaçados de perder 100%.
Mas o Instituto de Finanças Internacionais, que representa os bancos, disse que os detalhes precisam ser negociados, gerando incerteza.
O acordo prevê ainda que o Fundo Europeu de Estabilização Financeira, para resgate de bancos e países em crise, receba um aumento maciço de recursos. Hoje com € 440 bilhões, poderia passar de € 1 trilhão (R$ 2,4 trilhões, ou 60% do PIB do Brasil).
Também não se sabe quem bancará esse aumento. Europeus querem ajuda de emergentes como China e Brasil.
BANCOS
Outro ponto do pacote prevê mais € 130 bilhões para assegurar a solvência da Grécia. Destes, € 30 bi são destinados a bancos como incentivo para aderir ao calote.
O dinheiro deve vir de fundos públicos -ou seja, é o contribuinte quem pagará.
Os bancos, sobre os quais pesam dúvidas sobre a capacidade de se manter de pé na eventualidade do calote grego, também serão obrigados a se recapitalizar.
Isso significa que terão de aumentar seu capital de 5% para 9% em relação ao total de ativos que têm.
Pelos cálculos da Autoridade Bancária Europeia, para todos atingirem esse percentual, terão de obter € 106 bilhões.
Numa vitória para a chanceler alemã, Angela Merkel, que não queria injetar fundos públicos, eles terão de arrumar o dinheiro sozinhos -por meio de empréstimos ou vendendo patrimônio.
A possibilidade de obterem sucesso num ambiente de recessão global é duvidosa, no entanto, e é provável que em última análise fundos públicos tenham de ser usados.
Apesar do otimismo geral, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, desabafou, dizendo que a Grécia não estava pronta para aderir ao euro.
Para Rafael Martello, da Tendências, o pacote não resolve o problema estrutural de baixo crescimento.
"Apenas afasta o risco de calote a qualquer momento. Os governos gastarão mais e adiarão o ajuste que precisam fazer."
Fonte: Folha de S. Paulo
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