Quando tudo parecia consolidar a aprovação do acordo para o plano de austeridade cuja aprovação o primeiro-ministro da Grécia, Lucas Papademos arrancou do seu Parlamento, aumenta a percepção de que todo o sacrifício do povo grego não será suficiente para dar sustentabilidade à economia.
Além dessa avaliação, no âmbito dos dirigentes da União Europeia tomam corpo outras duas: a de que não vale a pena despejar mais recursos públicos nessa operação de socorro; e a de que o povo grego não aguentará o tranco.
Na semana passada, o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, por exemplo, declarou com todas as letras que não vale a pena verter mais dinheiro nesse saco sem fundo - manifestação que arrancou protestos veementes de Papademos.
Por outro lado, a notícia de que o Banco Central Europeu (BCE) decidiu trocar 50 bilhões de euros de títulos "podres" da Grécia por outros de valor equivalente, mas protegidos por "cláusulas de ação coletiva", sugere que as autoridades do euro se preparam para defender-se de eventual supercalote da Grécia.
Esse desfecho segue solenemente negado. Ainda na quinta-feira, o primeiro-ministro da França, François Fillon, advertiu que "a saída da Grécia da área do euro seria um drama tanto para os gregos como para os europeus, logo, tem de ser evitada a todo custo".
O fato é que se firma a impressão de que, mais dia menos dia, o inevitável acabará acontecendo e, quando acontecer, já não fará o estrago na economia europeia que se temia há alguns meses. Ou seja, não haverá o contágio letal de outras economias, como de Portugal, Itália e Espanha; nem o naufrágio do euro; nem uma quebra em dominó de bancos europeus.
Mas, afinal, o que mudou para que essas ameaças tenham ficado mais distantes? A principal novidade é a atuação do BCE que, no final de dezembro, descarregou meio trilhão de euros em empréstimos de três anos aos bancos, a juros de 1% ao ano - operação que deve se repetir dia 29. A partir daí se conclui que nenhum banco quebrará com eventual calote grego.
Além disso, a abundância de recursos no sistema produziu a derrubada dos juros. Isso significa que a rolagem das atuais dívidas dos países do bloco e o financiamento de novos déficits não se fará mais a juros próximos dos 7% ao ano, mas pouco acima da metade disso. Esse fator contribuirá para não deteriorar mais as finanças públicas dos países encalacrados.
Os atuais governos de Portugal, Itália e Espanha são bem mais técnicos e, por isso, mais confiáveis aos olhos dos credores. Também ajuda o quadro geral alguma melhora no comportamento da economia dos Estados Unidos.
Isso não quer dizer que a possível quebra da Grécia não trouxesse graves consequências. A novidade está em que ficou mais fácil circunscrever o desastre a um ou dois países menores (Grécia e Portugal juntos não perfazem nem 5% do PIB do bloco), com suportáveis efeitos colaterais sobre os demais 15 da área do euro.
Se as coisas forem assim, nenhum problema de fundo terá sido equacionado, mas a implosão desordenada do euro terá sido evitada e os dirigentes europeus terão conseguido ganhar mais tempo para reforçar os frágeis fundamentos do euro.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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