domingo, 19 de fevereiro de 2012

‘Serra é a resistência ao projeto de hegemonia do PT’, diz Sérgio Guerra

Para presidente do PSDB, Serra é ‘resistência ao projeto petista’

O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, acusa o PT de nacionalizar a disputa pela Prefeitura de São Paulo na tentativa de levar adiante "o projeto Lula da democracia de partido único". Guerra disse à repórter Christiane Samarco que a candidatura de José Serra a prefeito, "se confirmada", representaria a "resistência da democracia ao projeto da hegemonia petista".

Em entrevista, presidente nacional do PSDB afirma ter ‘forte convicção’ de que ex-governador entrará na disputa em São Paulo

"O objetivo do Lula é e sempre foi transformar o Partido dos Trabalhadores em um partido único", afirma, em entrevista ao Estado

Christiane Samarco

BRASÍLIA - O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), acusa o PT de nacionalizar a disputa pela Prefeitura de São Paulo, na tentativa de derrotar os tucanos para levar adiante "o projeto Lula da democracia de partido único". "O objetivo do Lula é e sempre foi transformar o Partido dos Trabalhadores em um partido único", afirma, em entrevista ao Estado.

Nesse quadro de luta contra a hegemonia do PT, ele diz que a candidatura do ex-governador José Serra a prefeito de São Paulo, "se confirmada, representa a resistência da democracia ao projeto da hegemonia petista". E completa: "Hoje há uma forte convicção de que ele poderá vir a ser candidato."

Com a nacionalização da campanha paulista, ele entende que Serra passa a ser, "sem a menor dúvida, também um projeto nacional do PSDB". Se o ingresso dele na corrida municipal dispensará ou não a realização de prévias para a escolha do candidato, é outra conversa. "Essa questão tem que ser conduzida por quem a conduziu até agora, que é o governador Geraldo Alckmin." Leia abaixo a entrevista.

O ingresso do ex-presidente Lula na campanha municipal de São Paulo nacionalizou a disputa. Como o PSDB deve reagir?

O objetivo do Lula é e sempre foi transformar o Partido dos Trabalhadores em um partido único. Não é questão de maioria, é a busca da hegemonia. O PT nacionalizou a eleição em São Paulo na tentativa de derrotar o PSDB para levar adiante o projeto Lula da democracia de partido único.

Isto exige um novo comportamento da oposição em São Paulo?

A candidatura de Fernando Haddad (PT) é, claramente, parte estratégica desse esforço pela hegemonia completa do partido único. A participação do PT no Congresso, sua organização no governo e sua ação nos Estados é sempre nesta direção. Mas isto, de certa forma, cria um ambiente positivo para a oposição, porque muitos já estão vendo, e verão cada vez mais, que não são prioridade ou estão sendo excluídos. Taí a crise na base deste governo que só demite ministros que não são do PT e mantém esse governador de Brasília. Com tanta denúncia levantada, não fosse petista, este governador já teria ido embora há muito tempo.

Nesse quadro de luta contra o PT, a candidatura de Serra a prefeito de São Paulo pode ser útil à oposição?

A candidatura Serra, se confirmada, representa a resistência da democracia ao projeto da hegemonia petista. E hoje há uma forte convicção de que ele poderá vir a ser candidato.

Com a eleição municipal de São Paulo nacionalizada, o ex-governador Serra reforça também sua intenção de manter-se como opção nacional do PSDB?

Sem a menor dúvida. Pelo peso que tem e pelo que representa dentro e fora do partido, em qualquer lugar e em qualquer papel que desenvolva, Serra será sempre um político nacional. Seja candidato no Brasil, em São Paulo ou no Piauí, ele será sempre uma liderança nacional para os tucanos e para os adversários.

Serra é fundamental para impedir que o ex-presidente Lula consolide o projeto de derrotar o PSDB em São Paulo?

O Lula já tentou muitas vezes derrotar o PSDB em São Paulo. Ele próprio já foi candidato algumas vezes e perdeu. Então, o fato de ele estar mais uma vez decidido a nos enfrentar não é novidade. O Serra é, em São Paulo, fora do Estado ou em qualquer outro lugar, um candidato muito forte. Ele tem que ser visto como um candidato sênior, que é o que ele é.

O ingresso dele na disputa dispensa a realização de prévias para escolher o candidato?

Essa é uma questão que tem que ser conduzida por quem a conduziu até agora, que é o governador Geraldo Alckmin. Temos confiança em que esse tipo de dificuldade ele vai superar.

O prefeito Gilberto Kassab, do PSD, estava com um pé na candidatura de Fernando Haddad, mas a menção da entrada de Serra na disputa freou esse movimento. Segurar Kassab é fundamental para o projeto da oposição em 2014?

Kassab nunca deixou de falar a quem quisesse ouvir que Serra seria seu candidato, qualquer que fosse a eleição que ele quisesse disputar, até para presidente da República. Essa questão não é nova. Em segundo lugar, é evidente que a unidade de forças políticas historicamente ligadas, ou não, é fundamental na eleição de São Paulo, que nunca será uma eleição fácil. Será disputada e a capacidade de mobilização do prefeito é muito importante em uma campanha.

Dirigentes tucanos dizem que é preciso impedir a ida de Kassab para o PT porque seria uma viagem sem volta, que terminaria com o ingresso dele no ministério da presidente Dilma Rousseff. O senhor concorda com essa avaliação?

Quem pode concordar ou discordar desta avaliação é o prefeito. O que eu sei é o que ele me disse e tem dito a muitos: que será eleitor e apoiador de José Serra, se ele for candidato a prefeito, governador ou presidente.

No cenário sem Serra é possível trazer Kassab para a candidatura tucana?

Sou daqueles que entendem que a realização de prévias não nos remete a um quadro negativo. Ao contrário, fortalece os nomes colocados, que são bons e têm condições de desenvolver uma boa campanha. Com eles o PSDB tem toda a capacidade de fazer um discurso limpo, novo, com muita chance de vitória. Quanto ao prefeito, em uma eleição sem Serra ele deveria se posicionar levando em consideração quem apoia e quem bate no governo dele, e quem pode melhor governar a cidade. Para mim soaria muito estranho o PT, que combateu Kassab a vida inteira, estar junto dele em qualquer eleição. A população não entenderia.

O PSDB enfrenta o racha interno entre serristas e aecistas e a falta de bandeiras para tocar uma campanha eleitoral. Como chega aos palanques municipais?

Hoje não existe mais a divisão entre alas. Pode haver dificuldades pessoais entre um e outro tucano, mas isto não é significativo. E, do ponto de vista do enfrentamento do que separa o partido da sociedade, nós também avançamos.

Mas, até agora, o diálogo com os movimentos sociais tem sido quase que uma exclusividade do PT. Como reagir?

Isto já era... Hoje nós temos mais de 2 mil sindicalistas filiados ao PSDB, inclusive da CUT. No mês que vem criaremos a Secretaria de Assuntos Trabalhistas e Sindicais do PSDB, que será comandada pelo vice-presidente nacional da Força Sindical, Antonio Ramalho. E teremos também as secretarias que vão cuidar das questões do meio ambiente e dos portadores de necessidades especiais.

A última pesquisa interna mostrou que o PSDB perdeu suas principais bandeiras para o PT, com os medicamentos genéricos e a Lei de Responsabilidade Fiscal, ambos mais creditados a Lula do que a FHC. Essa virada do PT, ao privatizar aeroportos, facilita a recuperação dessas bandeiras por parte do PSDB?

Não valorizar o nosso legado foi um grave erro. Estamos pagando um preço alto, mas isto também já mudou. O PSDB se recompôs com o presidente Fernando Henrique, homenageando-o em cadeia nacional, no programa de televisão do partido, e isto significa recuperar o discurso. O PT também nos ajuda nisso, quando privatiza os aeroportos e reconhece que tínhamos razão nas privatizações.

O reconhecimento desse legado terá peso eleitoral forte em 2012 e 2014?

Já teve um peso enorme sobre nós mesmos. O PSDB está com a autoestima lá em cima, pelo que fez e pode fazer. A apropriação política desse sentimento se dará nas eleições. O fato de o PT reconhecer e adotar as privatizações prova, em primeiro lugar, que nosso legado é muito bom. Segundo, que o PT não falou a verdade e continua não falando. Diante de fatos mais do que óbvios, os petistas insistem em sutilezas do tipo não privatizamos assim, ou assado. Falam que não é privatização, é concessão. Isso é falta de coragem pública de reconhecer os fatos na sua intensidade e na sua integridade. O fato relevante é que o PSDB fez as privatizações e botou o Brasil nos trilhos. Trilhos que necessariamente o PT tem que percorrer, sob pena de não caminhar e de os aeroportos não funcionarem.

Nas últimas eleições, o partido fez 780 prefeitos. Qual é a meta para 2012?

A meta é eleger mil prefeitos. Mais prefeitos significam mais deputados, mais tempo de televisão, mais participação no Congresso e mais financiamento partidário.

DEM e PPS serão os parceiros preferenciais agora e em 2014?

Temos também uma parceria real com o PSB em vários Estados (PR, AL, MG, PE), que apontam para alianças futuras.

A popularidade recorde do governo Dilma preocupa o PSDB?

A popularidade deste governo é sutil e débil e será reduzida no tempo. A marca do governo Dilma foram as demissões que fez e a verdadeira marca desse governo é o fato de ele ter demitido aqueles que nomeou.

Este quadro pressupõe um modelo de candidato a presidente?

Esse quadro nos obriga a ampliar, a procurar entre os descontentes da base, possíveis aliados nossos depois. Isto é básico. O candidato do PSDB terá que ser amplo. Terá que ter capacidade de somar, para ter votos e para governar.

Por este raciocínio, Aécio Neves leva vantagem, a partir da ampla aliança que ele montou em Minas?

Não estamos criando padrões de comparação. Não faz sentido agora. Mas nós começamos a definir o modelo de candidato mais adequado ao momento brasileiro. Isto não envolve Aécio, Serra, nem ninguém. Significa que, para descrever o que deveria (fazer) um candidato da oposição daqui a três anos, nós já temos algumas certezas: uma é que este candidato terá que ser amplo, ter capacidade de atrair e buscar alianças do outro lado.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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