Há outras, mas seis eleições são fundamentais este ano: as da França, Estados Unidos, Venezuela, Grécia, Rússia e México. Haverá ainda uma delicada troca de comando na China, feita à moda totalitária: negociações fechadas com critérios opacos decidiram os novos chefes do país. Em cada um desses sete países há travessias importantes e dilemas a serem enfrentados na política e na economia.
A Venezuela está com o mesmo presidente há 14 anos e uma ressaca econômica. Tem a maior inflação da América Latina e baixo crescimento. Cicatrizes do longo mandarinato estão nas instituições minadas pelo intervencionismo chavista; na oposição, que só agora começa a se organizar; e na sociedade, que ficou polarizada.
A doença de Hugo Chávez traz incerteza para o país e para a sociedade. As informações sobre a evolução do câncer são guardadas ao estilo soviético. Ele comandou um movimento político tão personalista que poucos líderes floresceram. Como governou incitando o ódio aos seus opositores, a fratura da sociedade se aprofundou. A oposição mostrou força ao escolher um candidato, o jovem Henrique Capriles Radonski, aprovado por três milhões de participantes das primárias. Chávez controla o Judiciário, o Legislativo e encurralou a imprensa. Nada da sua conhecida pirotecnia venceu a inflação e o baixo desempenho econômico.
Nas duas eleições mais críticas do ano, os governantes disputam reeleição. O presidente americano, Barack Obama, com muita chance de ser reeleito; o da França, com pouca. Nos Estados Unidos, os eleitores vão para as urnas em novembro; na França, daqui a dois meses. Obama está começando a colher os frutos do esforço de retomada econômica e tem a vantagem da fraqueza dos adversários.
O Partido Republicano escolheu ir tão para a direita que se afastou dos eleitores do centro, sempre decisivos em qualquer eleição. Obama tem chances de um segundo mandato.
O presidente Nicolas Sarkozy está atrás nas pesquisas e sente o desgaste provocado pela crise econômica da Zona do Euro. O Partido Socialista está recompondo com François Hollande o favoritismo que tinha perdido com o escândalo de Dominique Strauss-Khan.
Num cenário em que Hollande seja o novo presidente há perguntas para além das fronteiras francesas, porque Sarkozy tem sido o copiloto da crise. O Partido Socialista é tradicionalmente mais europeísta, mas também é menos favorável às medidas de controle de gastos. Se Hollande for eleito, mas não tiver maioria no congresso, terá que ser formado novo gabinete de coabitação, que será um governo fraco para quem precisa debelar a crise.
A França enfrenta desafios enormes na área econômica: sua dívida é de 85% do PIB, seu déficit é 5,8%, o desemprego está em 10%, e a classificação de risco está sendo ameaçada pelas agências.
Na Rússia, o processo de escolha será em março. Se for eleito presidente, Vladimir Putin estará no seu quarto mandato sucessivo. Um deles como primeiro-ministro, mas em todos foi o verdadeiro poder. Tem sido acusado de fraude, enfrenta manifestantes, mas está na frente nas pesquisas. A inflação está alta, mas o país cresce. Se vencer, como parece, a Rússia estará mais distante da democracia.
A Grécia antecipou para abril as eleições e até agora o favorito é a Nova Democracia, de extrema-direita, o que faz de Antonis Samaras, presidente do partido, o político com mais chance de ser o próximo primeiro-ministro, no lugar de Lucas Papademus.
A nova Democracia governou o país até 2009, deixando para o ex-primeiro-ministro George Papandreau a herança maldita do déficit e dívida crescentes e mentiras contábeis. O Partido Socialista revelou o tamanho do verdadeiro rombo e naufragou na crise. Agora, vê o rival na frente nas pesquisas. A Nova Democracia escreveu uma carta assegurando que respeitará o acordo que está sendo negociado com os credores.
O novo governo receberá o país no quarto ano de recessão. Como lidará com esta crise um partido que foi capaz de mentir tão descaradamente sobre os dados fiscais do país? O México vive tempos sangrentos.
O presidente, Felipe Calderón, governa com o país vivendo um dos mais graves períodos de violência. O país está entregue a gangues que controlam áreas, o saldo de mortes é de proporções alarmantes, e a economia está neste momento perdendo força e terminou o ano passado com um crescimento anualizado de apenas 1,7%. Principalmente, o país perdeu atratividade na disputa por investimentos.
A China vive mais uma das suas exóticas trocas de governo. Obscuras, difíceis de serem entendidas, mas que sempre têm profundas repercussões na vida chinesa. No segundo semestre se reúne o Congresso para eleger os sucessores de Hu Jintao e Wen Jiabao. O vice-presidente, Xi Jiping, foi anunciado há dois anos como o escolhido para a presidência. Ele é filho de um ex-vice-primeiro-ministro tido como reformista, faz parte do que os especialistas chamam de aristocracia do partido, ao contrário de Hu Jintao, que era da burocracia partidária.
Em visita aos Estados Unidos, ele se expõe pela primeira vez. Foi técnico e previsível até chegar à cidadezinha do interior do Iowa, onde esteve há mais de duas décadas num intercâmbio.
Essas seis eleições e a troca de comando chinês marcarão o ano com decisões políticas que afetarão a economia.
FONTE: O GLOBO
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