Mas deixa porta aberta para o PT se tucano não confirmar candidatura
Letícia Lins, Sérgio Roxo e Silvia Amorim
RECIFE e SÃO PAULO - O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), afirmou neste sábado que o seu apoio à eventual candidatura de José Serra (PSDB) à prefeitura da capital paulista é “incondicional”, mas ressaltou que mantém as portas abertas para conversações com o PT, porque aliança, segundo ele, se faz “olhando para o futuro”. Ele reconheceu que, como o seu partido ainda está iniciando a vida política, não será fácil enfrentar as urnas sem o apoio de outras legendas fortes na capital paulista. Kassab esteve em Recife para assistir ao desfile do Galo da Madrugada, e, antes, reuniu-se com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Kassab deixou bem claro que, caso Serra não se defina, pode mesmo buscar aliança com o PT. E negou que esteja fazendo leilão com o cacife eleitoral do PSD.
- Aprendi na vida pública que com duas conversas é muito complicado disputar majoritárias. Fica parecendo leilão. A primeira coisa que fiz, foi deixar bem claro que, se Serra for candidato, terá o nosso apoio. Todos sabem que se ele não for candidato, nosso esforço é para ter candidatura própria, que é o Afif (Guilherme Afif Domingos), o que é difícil. E atendidas essas duas premissas, é mais do que natural uma conversa com o PT, que já é um partido no plano nacional. E minhas relações com ele são as melhores possíveis. No plano partidário, no plano pessoal, e no plano político.
Embora já tivesse aberto negociações com o PT, Kassab explicou as razões de seu compromisso com Serra.
- Todos conhecem as peculiaridades da nossa administração em São Paulo. Uma administração que começou com o nosso então prefeito José Serra, que depois se tornou governador. E essa administração se confunde com uma coisa só em relação ao Serra e ao Kassab. Portanto, eu disse e repito aqui. Não é a contragosto não. É com muito prazer e com muita satisfação. Se o Serra for candidato a prefeito, ele terá meu apoio incondicional.
Kassab afirmou que se Serra não se lançar, a possibilidade de aliança com o PT está aberta:
- No passado, fomos adversários, mas não inimigos. E como aliança se faz olhando para a frente, é muito possível, sim, que possa existir aliança se os partidos assim o entenderem.
Em apenas dez meses de existência, o PSD passou a ser alvo de cobiça por dispor de um orçamento de R$ 38 bilhões para gastar em ano eleitoral, deter a segunda maior bancada de vereadores, a terceira maior da Câmara dos Deputados, e a perspectiva de minutos preciosos no horário eleitoral. Em São Paulo, PT e PSDB, adversários históricos, exasperaram-se ainda mais na disputa pelo apoio do partido, mesmo que a parceria signifique problemas internos.
Até a semana passada as negociações com os petistas estavam avançadas. O cenário embolou com a possível candidatura de Serra. Lideranças do PSDB dizem que a aproximação de Kassab com o PT teria feito Serra repensar a posição de não concorrer este ano. O PSD é um aliado estratégico para o ex-governador e empurrá-lo para os petistas afetaria suas ambições nacionais.
PT e PSDB fazem os cálculos das vantagens e desvantagens de aliança com o PSD. No PT, a divisão entre favoráveis e contrários é tão forte que o assunto tem sido tratado com cuidado cirúrgico pela cúpula da pré-campanha e pelo próprio candidato, Fernando Haddad. O objetivo é evitar que a discussão crie fissuras irreversíveis na sigla para a eleição.
Padrinho da aproximação, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acredita que o acordo com Kassab serviria para isolar os tucanos, o que facilitaria o caminho para a conquista do governo do estado em 2014, grande objetivo do líder petista. De quebra, poderia sacramentar a adesão do PSD à base do governo Dilma Rousseff no Congresso.
Há petistas que entendem que Kassab teria para Haddad um efeito semelhante ao que José Alencar teve para Lula em 2002, vencendo a resistência do eleitorado mais conservador.
O grupo que não quer o acordo acha que o principal problema seria deixar Haddad sem discurso. Ele não poderia adotar a bandeira das mudanças na cidade nem defender projetos implantados pelo PT na gestão Marta Suplicy e desconstruídos por Kassab.
Os petistas contrários e os favoráveis ao casamento sabem que, se Kassab levar adiante a aproximação e Lula encampar a ideia, o PT acabará cedendo. A esperança do grupo contrário é convencer o ex-presidente do risco da aliança para Haddad.
Para os tucanos, a conta final lhes é favorável. Eles dizem que Kassab, tendo participado de coligações anteriores com a sigla, é um aliado natural e que isso dispensaria explicações aos eleitores. Além disso, o PSDB integra a atual administração municipal.
FONTE: O GLOBO
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