Relação tende a se complicar também com PMDB, que prevê eleger menos 10% de
prefeitos do que em 2008
Paulo Celso Pereira
BRASÍLIA - Depois do mensalão e do resultado das eleições nas capitais, até agora
aquém das expectativas, o PT e a presidente Dilma Rousseff terão que
administrar uma conturbada relação com sua base aliada. Após a crise com o PSB
causada pelos rachas em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, o PT deve chegar ao
fim do primeiro turno enfrentando uma convivência complicada também com seu
maior aliado no Congresso, o PMDB. A dificuldade nos grandes centros levou
Dilma e o ex-presidente Lula a gravarem na TV para candidatos petistas e
aliados em cidades-chave.
Alguns exemplos são Salvador e Mossoró, segunda maior cidade do Rio Grande
do Norte e terra do líder do PMDB na Câmara e candidato à presidência da Casa,
Henrique Eduardo Alves. Lá, a candidata do PSB, com apoio do PT, começou a
veicular na TV um depoimento de apoio da presidente. O líder do partido ficou
irritadíssimo.
Na última terça-feira, um grupo de caciques peemedebistas jantou em
Brasília. Entre eles, estavam o líder do partido no Senado, Renan Calheiros
(AL), o presidente do partido, Valdir Raupp (RO), o ministro Moreira Franco, os
irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima (BA), o ex-ministro Eliseu Padilha e o
senador Vital do Rêgo (PB). A reunião foi marcada pelas reclamações devido à
ação do PT nas eleições. A avaliação geral entre peemedebistas é que,
dificilmente, o partido conseguirá chegar a um número próximo ao de 2008,
quando elegeu cerca de 1.200 prefeitos. A expectativa é que haja uma redução de
cerca de 10%. Nada que tire do partido o posto de sigla com mais prefeitos do
país, mas, ainda assim, uma redução sensível.
Isso representaria uma redução automática das bases eleitorais dos deputados
da legenda. Afinal, como os prefeitos e vereadores são os grandes cabos
eleitorais dos deputados nas eleições gerais, a perda de apoio nas bases
significa que eles precisarão buscar votos de outra forma - valendo-se, por
exemplo, de emendas parlamentares e ocupação de cargos públicos.
- A política não segue o calendário gregoriano. Para todo mundo, depois de
2012, vem 2013. Na política, depois de 2012, vem 2014. Aquela preocupação de
que as eleições poderiam contaminar a relação está ocorrendo, especialmente
pela entrada de Dilma, porque ela chefia um governo de coalizão. É diferente do
Lula, que hoje é só um militante partidário. E o pior é que estão fazendo
chantagem com o povo. Ela entra na TV dizendo que, se querem creche, têm que
votar no candidato da Dilma - afirmou um parlamentar peemedebista que
participou do jantar na terça-feira e pediu para não ser identificado.
Os peemedebistas dizem reservadamente que a tendência é que a relação com
Dilma fique mais tensa. Uma frase de Renan definiu as intenções pós-eleitorais
dos peemedebistas.
- A gente tem que ser como a PragMarta: saber apoiar o governo, mas ter
resultado com esse apoio - afirmou o senador, referindo-se à nova ministra da
Cultura, Marta Suplicy.
Trata-se de uma versão mais objetiva do discurso que vem sendo adotado pelo
PSB. Os socialistas vêm afirmando que a perspectiva de expansão do número de
prefeitos, especialmente nas capitais, obrigará o governo a rever o tratamento
dado ao partido. Os integrantes do PSB esperam que o governo passe a
considerá-los o principal aliado. O PMDB, que hoje ocupa essa posição, também
acha que tem muito pouco e espera expandir seus espaços. O líder do PT, Jilmar
Tatto, minimiza a possibilidade de crise:
- Não vão ficar sequelas. Diferentemente de uma avaliação anterior, as
relações estão boas. O PT atrai em função da sua força popular e social - diz
Tatto, que acredita que a relação seguirá firme enquanto o governo estiver bem
avaliado.
FONTE: O GLOBO
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