Presença da presidente na TV não beneficiou candidatos que apoia;
especialistas descartam influência
Sérgio Roxo
SÃO PAULO Apesar de aprovada por 75% da população, segundo pesquisa da
Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada em agosto, a presidente
Dilma Rousseff não tem se mostrado, pelo menos por enquanto, uma cabo eleitoral
eficiente nas eleições deste ano. A sua presença no horário eleitoral trouxe
pouco resultado para os candidatos em pesquisas de intenção de voto.
Dilma estreou na televisão nestas eleições no dia 10, nas campanhas dos
petistas Fernando Haddad, em São Paulo, e Patrus Ananias, em Belo Horizonte. A
pesquisa do Datafolha sobre a disputa pela prefeitura paulistana realizada no
próprio dia 10 (antes da participação da presidente, que só ocorreu no programa
da noite) e no dia 11, mostrava Haddad com 17% de intenção de voto, empatado
tecnicamente, em segundo, com o tucano José Serra, que tinha 20%.
Depois do depoimento no programa do dia 10, a ajuda de Dilma para o
candidato do PT em São Paulo foi concentrada nos spots (inserções realizadas
durante a programação regular das emissoras), que, na avaliação dos
marqueteiros políticos, é mais eficiente. Mas o levantamento do Datafolha,
feito nos dias 18 e 19, mostrou que a estratégia não deu resultado. Haddad
apresentou oscilação negativa de dois pontos percentuais nessa pesquisa e viu
Serra subir para 21%, isolando-se em segundo lugar.
Em Belo Horizonte, a última pesquisa divulgada também indicou que o impacto
da ajuda de Dilma não foi significativo. Patrus, que tinha 25% no levantamento
do Vox Populi realizado entre 25 e 27 de agosto, aparece, na pesquisa feita
entre 14 e 16 de setembro, com 28%. A elevação é só meio ponto superior à
margem de erro da pesquisa, de 2,5 pontos, e ainda insuficiente para impedir
que o prefeito Márcio Lacerda (PSB) vença a eleição no primeiro turno.
Eleição de prefeito é imune à gestão federal
Para especialistas, os números das pesquisas confirmam a tese de que não há
influência de políticos nas eleições de outras esferas de poder.
- Não há transferência de voto para cargo diferente. Um presidente popular elege
um presidente, mas não um prefeito - diz o cientista político Alberto Carlos
Almeida, autor do livro "A cabeça do eleitor".
Para o cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getúlio
Vargas, a forma como o ex-presidente Lula conseguiu eleger Dilma, que nunca
havia disputado uma eleição, fez com que os petistas tivessem esperança de que
a tese da não transferência de popularidade caísse por terra nestas eleições.
- A própria participação intensa do Lula na campanha do Haddad endossa que a
eleição do prefeito não tem relação com a gestão federal. O eleitor distingue
as coisas - analisa o professor.
- O eleitor não fica esperando a Dilma indicar o candidato para decidir em
que vai votar - conclui Almeida.
Coordenador da campanha de Haddad, Antonio Donato reconhece que a ajuda de
Dilma não é decisiva para o sucesso do candidato.
- Quem se elege é o candidato, e não as pessoas que o apoiam - afirma.
Donato ressalta, porém, que a campanha petista em São Paulo ainda será
beneficiada:
- Nunca imaginamos que a entrada da presidenta Dilma teria um efeito
imediato. Mas, com certeza, ela ajuda construir a imagem do nosso candidato,
que é desconhecido. O resultado vai aparecer lá na frente.
Presença na campanha de aliados
A campanha de Patrus entende que a participação da presidente, que nasceu em
Belo Horizonte, tem sido positiva, apesar de a última pesquisa ainda indicar
vitória de Lacerda no primeiro turno. A prova seria a reação da campanha
adversária, que ameaçou levar ao ar uma gravação antiga de Dilma elogiando
Lacerda.
Dilma já apareceu em programas de, pelo menos, mais três candidatos, dois de
outros partidos. A direção do PT disse não estar controlando a participação nas
campanhas. O Palácio do Planalto informou também não ter o levantamento das gravações
feitas pela presidente.
Desde o dia 14, Dilma tem aparecido nos spots de Eduardo Paes (PMDB). O
impacto da participação, porém, não pode ser medido porque não foram divulgadas
novas pesquisas. Em Manaus, ela apareceu no programa de Vanessa Grazziotin
(PCdoB), na última segunda-feira. No mesmo dia, estreou na propaganda de Nelson
Pelegrino (PT) em Salvador.
FONTE: O GLOBO
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