A próxima batalha
dos ex-guerrilheiros
Dirceu e Genoino, que recorreram à luta armada contra a ditadura, contam os
dias para o desfecho do caso no STF
Paulo de Tarso Lyra
Dois personagens emblemáticos da luta contra o regime militar, que
resistiram aos anos de chumbo, foram presos, voltaram à vida pública após a
redemocratização, fundaram um partido que misturava a classe trabalhadora com a
intelectualidade e ajudaram a eleger o primeiro presidente operário no país.
Enfrentam, agora, aquela que pode ser a última das grandes batalhas políticas de
suas vidas. José Dirceu e José Genoino estão às vésperas de serem julgados pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) no escândalo do mensalão.
Pelo histórico atual do julgamento e com base nas declarações dadas por eles
mesmos nas últimas semanas, a condenação é dada como certa. Resta saber se ela
virá com punições em regime fechado. Quando Luiz Inácio Lula da Silva foi
eleito, em 2002, Dirceu era o todo-poderoso presidente do PT e ganhou ainda
mais força ao ser nomeado chefe da Casa Civil. Ainda há uma década, Genoino
forçou um segundo turno contra o tucano Geraldo Alckmin na disputa pelo governo
de São Paulo e, após perder a disputa, tornou-se presidente do PT no ano
seguinte. Daqui a duas semanas, ambos poderão estar condenados por corrupção
ativa. A outra acusação que pesa contra eles é formação de quadrilha, ponto que
será julgado após o primeiro turno das eleições municipais.
A forma como os dois enfrentam o julgamento diz um pouco das diferenças de
personalidade entre eles. Dirceu emagreceu seis quilos, mas jura que é por
causa dos exercícios físicos regulares, que incluem musculação, esteira e
alongamento na academia do prédio em que mora na capital paulista. Genoino
submeteu-se, na semana passada, a um cateterismo após ser constatado o
entupimento de uma artéria em um check-in de rotina. Não precisou, no entanto,
fazer uma cirurgia para colocação de um stent, aparelho que evita a contração
das artérias do coração.
"O Genoino é daquele jeito elétrico, entrava em uma comissão, saía para
outra, fazia discursos no plenário, dava entrevistas no Salão Verde. Ele é
passional", resumiu o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (PT-SP). "O
Dirceu não, ele é mais calculista, estrategista, lida melhor com as
adversidades", completou Tatto. "Genoino é ideológico. Dirceu, pragmático.
Se assim não fosse, não traria o PL para a chapa de Lula em 2002", disse
ao Correio um aliado do ex-ministro.
Quando estourou o escândalo do mensalão, em 2005, companheiros de Genoino
ficaram preocupados com o comportamento depressivo apresentado pelo
ex-presidente do PT. Ele chegou a ficar mais de um mês no quarto, com pouca
disposição para receber até os amigos mais próximos. Pessoas que testemunharam
aquele momento lembram do abatimento que acometeu o ex-deputado.
Com o início do julgamento, ele se tornou ainda mais tenso e nervoso.
"A depressão voltou para valer", disse um interlocutor que acompanha
o processo do mensalão. O advogado Luiz Fernando Pacheco reconhece que o
cliente está ansioso com a proximidade da análise do caso pelos ministros do
STF. "Esse processo estava dormindo há sete anos e agora vivemos os
momentos finais. Claro que existe uma grande expectativa, mas Genoino está
convicto da legalidade de seus atos", completou o defensor, buscando
desanuviar o ambiente.
Renúncia
Dirceu, ao contrário, jamais se abateu, pelo menos publicamente. Assim que o
presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson — também réu no mensalão — o
apontou como "chefe da quadrilha" do mensalão, renunciou ao cargo de
ministro da Casa Civil, repassando o cargo para a atual presidente, Dilma
Rousseff, a quem cumprimentou como "companheira de armas" (Dilma
também foi guerrilheira) e, em seguida, enfrentou o processo de cassação do
mandato de deputado federal na Câmara.
Genoino acabou conseguindo se eleger deputado federal em 2006, mas o mandato
foi mais discreto e com menos brilho do que suas passagens anteriores. Em 2010,
não conseguiu se reeleger, permanecendo na fila dos suplentes da bancada.
Graças à proximidade com os militares e com o então ministro da Justiça, Nelson
Jobim, foi nomeado assessor especial do Ministério da Defesa. No início do
julgamento, tirou férias de 30 dias. Agora, está de licença-médica para o
tratamento de saúde.
José Dirceu resolveu arriscar-se na iniciativa privada e virou consultor de
diversas empresas, valendo-se de seu expertise como ex-homem forte do governo.
Não admite quais são os clientes, alegando confidencialidade, mas comenta-se
que presta serviços para Carlos Slim — o homem mais rico do mundo — e o
proprietário da Delta Construções, Fernando Cavendish.
José Genoino está muito abatido, contam pessoas próximas ao ex-deputado
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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