quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Sem surpresa - Tereza Cruvinel

As condenações por corrupção ativa, proferida em seu voto de ontem pelo ministro-relator da Ação Penal 470, Joaquim Barbosa, não surpreendeu ninguém, a começar dos réus politicamente mais importantes, o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino. Na semana passada, com vários comentários laterais, ele antecipou que apontaria Dirceu como mandante do esquema de transferência de recursos do chamado valerioduto para os partidos aliados do PT. Embora não tenha apresentado provas torrenciais, com a competência dramatúrgica que já exibiu, o relator soube encadear depoimentos de outros réus, brandir as palavras e refutar, com um frequente “não é admissível”, os argumentos da defesa. O revisor Ricardo Lewandowski divergiu, especialmente no que toca ao papel de Genoíno, que absolveu. Mas, nesta altura, está claro que ele expressa entendimento minoritário na Corte.

Dirceu e Genoino, pelo menos, assim como esperavam pelo voto condenatório de Barbosa, segundo se sabe, não esperam por grandes divergências entre os ministros, no curso do atual capítulo, suficientes para uma absolvição. Esperam a condenação, inconformados com o a dinâmica do julgamento, não com a resignação dos culpados. Resta saber que atitude tomarão, se e quando isso acontecer, estas duas figuras da elite do PT. É claro o anseio de seus adversários por vê-los algemados mas suas trajetórias na resistência à ditadura e na luta política posterior não recomendam a crença na passiva humilhação pública, negociando comutações, regime semiaberto, regalias ou indulgências do Judiciário. Dirceu tem dito aos amigos que já o mataram politicamente, mas que, mesmo preso, não deixará de combater o plano que julga existir para matar o PT e seu projeto para o país. Genoino é menos impulsivo, tem invocado até o pau de arara que experimentou na tortura para se negar a falar. Mas sua personalidade altiva também não sugere que se abaixará diante da forca.

Delúbio é um militante disciplinado e cônscio do grande mal que fez ao partido. Seguirá a orientação partidária, seja qual for. Os outros condenados ontem por Barbosa são Marcos Valério e seus sócios. Não sendo políticos, suas condutas serão mais pragmáticas, buscando explorar todos os recursos para reduzir as penas, que devem ser pesadas para todo este grupo. Eles receberão uma condenação por corrupção ativa para cada beneficiário dos cheques que assinaram. Isso sem falar na acusação de formação de quadrilha.

Cronômetro. Tal como suspeitava o PT, o julgamento do mensalão deixará os dois principais réus do PT pendurados no cadafalso no transcurso da eleição. Ontem, o revisor Ricardo Lewandowski apresentou parcialmente seu voto, mas dificilmente os outros oito ministros concluirão seus votos hoje. No segundo turno, começará o exame da acusação de formação de quadrilha. A dosimetria das penas ficará para depois da apuração. Há controvérsias sobre o impacto eleitoral do julgamento mas, para o PT, não poderia haver cronograma pior.

Historiar é preciso…

Vem à luz, depois de muito trabalho, o livro do jornalista Audálio Dantas As duas guerras de Vlado Herzog (Civilização Brasileira). A primeira guerra foi enfrentada pelo menino judeu e sua família na resistência e fuga do nazismo. Eles viviam em Banja Lula, na Iugoslávia, fugiram para a Itália e de lá os pais de Vlado conseguiram fugir para o Brasil. Os parentes que ficaram para trás foram quase todos exterminados. Adulto, o menino tornou-se um jornalista de brilho especial. Em 1975, foi preso, torturado e morto pela ditadura militar, que simulou seu suicido. Há poucos dias, a Justiça autorizou a troca da causa mortis em sua certidão de óbito. Audálio diz que o desejo de escrever a história de Vlado fisgou-o durante o ato ecumênico por sua morte, que reuniu milhares de pessoas na Catedral da Sé, em São Paulo, num prenúncio de que a sociedade já não aceitava mais a opressão.

Dura escolha

Em São Paulo, na terça-feira, pergunto ao motorista de táxi em quem votará para prefeito. Ele responde:

— Tá difícil. Tem o da Igreja, tem o fujão e tem este do tal mensalão.

Em tempo ele se lembra de Chalita.

— E ainda este de que os padres gostam.

Realmente…

Demora da Anvisa. Já registramos aqui a demora da Anvisa em liberar os pedidos para produção de remédios genéricos e similares. Quando entram no mercado, puxam os preços para baixo, aliviando o bolso de quem precisa deles. A Indústria Farmacêutica monitorou os prazo no período de um ano e concluiu que o prazo para liberação aumento de sete meses para um ano e quatro meses. Enquanto isso, o brasileiro paga mais pelos de marca.

Silêncio da Anac. Você já perdeu uma passagem aérea porque a multa era maior que o valor do bilhete? Tudo bem, era regra do contrato. Mas a taxa de embarque, que é paga junto, as companhias não devolvem ao comprador. A Anac faz silêncio quando indagada a respeito.

Fonte: Correio Braziliense

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