quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A posse da caneta - Dora Kramer


Lula não é mais aquele, sua liderança se esvai e sua influência míngua, constatam analistas, cientistas, especialistas em geral.

Daqui desse canto, no entanto, o panorama não parece assim tão definido nem soa completamente comprovada a tese de que o ex-presidente já possa ser visto como um rio que passou na vida política do Brasil.

É preciso esperar para ver se as urnas conferem com o que ainda é uma impressão. Nas eleições municipais as pesquisas indicam possibilidades de arrancadas de última hora de candidatos petistas em capitais.

Se confirmadas, terão coincidido com a entrada de Lula nas campanhas e aí será preciso rever os raciocínios segundo os quais o ex-presidente já caminha para sentar praça no passado.

Verdade que ele não inspira o mesmo entusiasmo entre os que até outro dia o consideravam um oráculo nem provoca o mesmo temor entre aqueles que, na oposição, evitavam enfrentá-lo. No ambiente dos políticos e partidos aliados tampouco priva da reverência de antes.

É fato que cometeu erros graves de avaliação, quando superestimou seu poder de influir na vontade do eleitorado, de comandar o calendário, de dar o tom do julgamento e submeter a decisão do Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão aos seus desígnios.

São dados da realidade. Não necessariamente decorrentes de uma situação excepcional. Antes a consequência natural da perda dos instrumentos da Presidência da República.

Nesse aspecto, Lula não é muito diferente de qualquer outro governante que se afastou do poder. Perdidas a caneta, a posse do Diário Oficial e a veneração inerente ao cargo, evidentemente não poderia ser o mesmo.

Não há poderio eterno nem qualidades divinas. Não sendo Deus nem super-homem, Lula está ao alcance das contingências da vida, nas quais se incluem as consequências da privação de poder.

Sete palmos. Se ainda não estivesse enterrada a versão de que o PT deu dinheiro aos aliados para financiar, entre outras, campanhas nas eleições municipais de 2004, o relator Joaquim Barbosa ontem apresentou um argumento definitivo.

Como as alianças locais não seguem o critério da coalizão nacional, não faria sentido o PT, em 2003, se oferecer para pagar as contas daqueles que poderiam vir a disputar com o partido no plano municipal.

Linha de comando. Joaquim Barbosa desenhou o papel de José Dirceu como articulador político do governo Lula, como ministro-chefe da Casa Civil. Baseado em depoimento do próprio Dirceu que na Justiça asseverou sua condição de "responsável"pela formação da base.

Um episódio mais que conhecido, contudo, aponta quem dava a última palavra no assunto.

É aquele em que o ainda presidente eleito desfez de véspera acordo firmado por José Dirceu com o PMDB.

A decisão de Lula à época foi unilateral. Por avaliar que os pemedebistas não seriam boas e probas companhias, optou pela parceria com PL, PTB, PP e adjacências. Com o PMDB, fez acordo "informal" com a ala que viria a eleger José Borba - agora o único réu ligado ao partido - líder na Câmara.

Francamente. Chega a ser uma contradição em termos um deputado condenado por corrupção, que renunciou ao mandato para fugir da cassação, ir à Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos contra decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal à luz das leis do País.

O currículo de Valdemar da Costa Neto, cujo último feito foi a candidatura de Tiririca, com os votos de quem elegeu a si e a um lote de deputados do PR, não se amolda ao papel de mártir sob os auspícios de uma OEA que tem mais o que fazer.

Fonte: O Estado de S. Paulo 

3 comentários:

Antonio disse...

Minha cara Dora e demais, depende de como essa avaliação do poder de Lula seja encarado, se levarmos em conta as patacoadas propagadas pelo ex-presidente e sua turma é óbvio que o cabra manda e desmanda em tudo e em todos, porém, se pesquisarmos um pouco logo veremos que a coisa já vem mudando faz tempo, não nego que o Lula é um ator formidável, apesar dos altos índices de popularidade, muito mais da metade dessas mesmas pessoas não segue seus conselhos nas eleições, vejam os números abaixo:


2002 - Lula ELEITO EM 2002

2004 - PT ELEGE PREFEITOS EM 9 CAPITAIS

2006 - PT ELEGE 5 GOVERNADORES
2006 - PSDB ELEGE 6 GOVERNADORES

2008 - PT ELEGE PREFEITOS EM 5 CAPITAIS, 3 A MENOS QUE EM 2004

2010 - PT ELEGE 5 GOVERNADORES E PSDB PULA DE 6 PRARA 8.


Sendo assim minhas caras e meus caros, o Lula sem o PMDB e as suas armações não transfere voto nenhum, só queria ver êle eleger a Dilma em 2010 sem o PMDB e os cofres escancarados.

Antonio disse...

CORREÇÃO
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2008 - PT ELEGE PREFEITOS EM 5 CAPITAIS, 4 A MENOS QUE EM 2004

Antonio disse...

CORREÇÃO

2008 - PT ELEGE PREFEITOS EM 5 CAPITAIS, 4 A MENOS QUE EM 2004