Barbosa condena por
corrupção ativa ex-ministro da Casa Civil, Delúbio e Genoino, que foi absolvido
pelo revisor
O relator do mensalão
no Supremo, Joaquim Barbosa, apontou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu
como "mandante" do esquema de compra de apoio parlamentar no
Congresso e o condenou por corrupção ativa.
Barbosa ainda
considerou culpados pelo mesmo crime o ex-presidente do PT José Genoino, o
ex-tesoureiro Delúbio Soares, o empresário Marcos Valério e mais quatro pessoas
ligadas a ele.
A condenação dos réus
na corte depende de uma maioria de 6 dos 10 ministros.
O revisor Ricardo
Lewandowski também condenou Delúbio e Valério, mas absolveu Genoino. Ele
concluirá hoje seu voto sobre Dirceu e os demais réus.
Para Barbosa, ficou
comprovado que o ex-ministro controlava os "destinos da empreitada
criminosa".
Sobre a principal linha
de defesa de Dirceu, de que desconhecia empréstimos e pagamentos a
congressistas, o relator disse ser "impossível acolher a tese de que ele
simplesmente não sabia". A defesa do ex-ministro disse confiar na
absolvição dele.
Relator aponta
Dirceu como o "mandante" do mensalão
Joaquim Barbosa condena ex-ministro e ex-dirigentes do PT por corrupção
Ministro afirma que é "inadmissível" pensar que Marcos Valério e
Delúbio Soares agiram sem o aval de Dirceu
Felipe Seligman, Flávio Ferreira, Márcio Falcão, Nádia Guerlenda e Rubens Valente
BRASÍLIA - O ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão no
Supremo Tribunal Federal, apontou ontem o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu
como o "mandante" do esquema e o condenou por corrupção ativa.
O ministro também condenou pelo mesmo crime o ex-presidente do PT José
Genoino, o ex-tesoureiro da sigla Delúbio Soares de Castro, o empresário Marcos
Valério Fernandes de Souza e mais quatro pessoas ligadas a ele.
José Dirceu, homem forte do primeiro mandato do presidente Lula (2003-2006),
deixou o comando da Casa Civil em junho de 2005, dias após a Folha publicar a
entrevista em que o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) revelou a existência
do mensalão.
Ao acusar Dirceu e os outros dois petistas de corrupção ativa, a
Procuradoria afirma que eles organizaram o mensalão com o objetivo de subornar
parlamentares e garantir o apoio dos partidos que se aliaram ao governo após a
chegada de Lula ao poder.
A condenação de Dirceu e dos outros réus ainda depende de uma maioria de 6
dos 10 ministros. Ontem o ministro revisor Ricardo Lewandowski começou o seu
voto e condenou Delúbio e Marcos Valério, mas absolveu Genoino (leia mais na
pág. A8).
Apoio no Congresso
Para vincular Dirceu à organização do esquema e justificar sua condenação,
Barbosa lembrou seu papel na negociação com os partidos que formaram a base
governista e mencionou episódios narrados pela acusação.
Dirceu se reuniu com os dirigentes do Banco Rural e com Valério na época em
que o banco concedeu os empréstimos que financiaram o mensalão, e testemunhos
sugerem que ele tinha conhecimento dessas operações.
Entre 2003 e 2004, o Rural concedeu R$ 32 milhões em empréstimos a empresas
de Valério e ao Diretório Nacional do PT. O dinheiro foi logo revertido a
parlamentares indicados por Delúbio.
"O conjunto probatório [...] coloca o então ministro-chefe da Casa
Civil em posição central, posição de organização e liderança da prática
criminosa, como mandante das promessas de pagamento de vantagens indevidas aos
parlamentares que viessem a apoiar as votações de seu interesse", disse o
relator.
Sobre a principal linha de defesa apresentada por Dirceu, de que ele desconhecia
os empréstimos e os pagamentos, Barbosa afirmou: "Considero impossível
acolher a tese de que Dirceu simplesmente não sabia".
Para Barbosa, "entender que Valério e Delúbio agiram ou atuaram
sozinhos, contra o interesse e a vontade do acusado José Dirceu, neste contexto
de reuniões fundamentais do ex-ministro, é, a meu ver, inadmissível."
O relator ressaltou que Dirceu admitiu ao ser interrogado seu papel na
negociação da base aliada, incluindo os líderes dos partidos cujos integrantes
foram condenados por corrupção agora.
"Dirceu controlava os destinos da empreitada criminosa, especialmente
mediante seus braços executores mais diretos, isto é, Marcos Valério e Delúbio
Soares", disse o ministro. "Dirceu detinha o domínio final dos
fatos."
Para reforçar o elo entre o ex-ministro e Valério, Barbosa lembrou os
favores do empresário a ex-mulher de Dirceu, Maria Ângela Saragoça. Em 2003,
ela conseguiu um emprego e um empréstimo e vendeu um imóvel com a ajuda de
Valério.
Fonte: Folha de S. Paulo
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