As manchetes dos principais veículos da imprensa, de anteontem (e
os destaques dos telejornais e do noticiário de rádio já desde anteontem)
evidenciaram a relevância política e institucional da conclusão que o STF
antecipou na segunda-feira sobre o caráter essencial do mensalão. Segue-se
parte dessas manchetes. Da Folha de S. Paulo –
“Mensalão comprou votos no Congresso, conclui STF”; do Estado
de S. Paulo –
“Mensalão foi compra de voto e não caixa 2”; do Valor
– “STF conclui que houve quadrilha e corrupção”; do Globo
– “Supremo conclui que PT comprou apoio político”; do Correio
Braziliense – “Acaba a farsa de que mensalão era caixa
2”; do Estado de Minas –
“Tese de caixa dois foi derrubada por ministros que julgam o mensalão”; do Zero
Hora (RS) – “Compra de apoio político no governo Lula é confirmada
pelo STF”; do Jornal do Comércio (PE)
– “STF atesta compra de apoio e descarta caixa 2”. Este foi também o tema de
vários editoriais, como o da Folha (“Fim
da farsa”) com a abertura: “Durante a 30ª sessão do julgamento do mensalão,
ontem, o STF deu cabo de uma farsa que sobrevivia apenas para setores do PT e
seus aliados nos últimos anos”.
A simultaneidade do impacto social dessa conclusão com a reta de
chegada do 1º turno das eleições municipais amplia inevitavelmente os efeitos
do processo do mensalão nos pleitos de São Paulo e de outras grandes cidades
paulistas, em capitais como Belo Horizonte e Salvador, onde o petismo e o
expresidente Lula empenham-se em agressivos embates respectivamente contra o
candidato de Aécio Neves, o prefeito Márcio Lacerda, e ACM Neto, do DEM, um dos
relatores da CPI que gerou o mensalão. Exemplos de adversários a que deve ser
somado o candidato do PSDB em Manaus, Arthur Virgílio, alvo semelhante ao que o
tucano cearense Tasso Jereissati representou na eleição de 2010 para o então presidente.
Em São Paulo, a perspectiva de tal simultaneidade, de um lado
motivou a pressão de Lula para a presença da presidente Dilma em comício pró- Fernando
Haddad realizado anteontem. A pressão foi reforçada pelo publicitário do
candidato petista, João Santana, que é também o marqueteiro da presidente e da
candidatura de Hugo Chávez à reeleição na Venezuela. E, de outro lado, provocou
uma reorientação tática da campanha de Haddad: em face do maior impacto do
mensalão na chamada classe média, a ofensiva destes dias para a tentativa de passagem
dele ao 2º turno volta-se por inteiro para o eleitorado da periferia seduzido
pelo azarão Celso Russomanno, do PRB com um vice do PTB. Ofensiva que coincide
com a do candidato Gabriel Chalita, do PMDB, buscando tornar-se competitivo com
um salto da quarta posição que ocupa nas pesquisas. Operações conjuntas que
poderão acentuar a queda prevista do azarão do PRB. O que (combinado com uma
ascensão da candidatura de José Serra nas camadas médias) poderia tirá-lo do 2º
turno. Cenário que continuo avaliando como improvável (dado o alto grau de
“gordura” que ele acumulou). E que, se configurado, encaminharia a disputa
paulistana para a polarização PSDB-PT inicialmente prevista.
Mas os problemas enfrentados pelo PT, por Lula e por extensão pelo
governo Dilma, no 1º turno do pleito municipal (em várias capitais do Norte e
do
Nordeste, na de Minas, na do Rio Grande do Sul, na de São Paulo)
persistirão no 2º turno, nelas e nas cidades de maior porte de todas as
regiões, com os
desdobramentos do mensalão ao longo de outubro, ligados às penas,
inclusive de reclusão, dos integrantes do núcleo de comando do megaescândalo –
José Genoíno, Delúbio Soares e José Dirceu, este na dupla condição de liderança
referencial do PT e poderoso chefe da Casa Civil do primeiro governo Lula.
Cabendo assinalar que em São Paulo o tucano José Serra, se passar
ao 2º turno (o que ainda não está garantido) terá maior chance de vitória numa
disputa com o petista Fernando Haddad do que com Celso Russomanno.
Jarbas de Holanda é jornalista
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