sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Inflação assusta governo e dá um baile na poupança

Janeiro registra a maior alta em 10 anos. Resultado acumulado em 12 meses aponta elevação de 6,15%, muito próximo do teto , de 6,5%

O dragão começou o ano com apetite. Em janeiro , o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,86%. É o pior resultado para este mês em 10 anos, segundo o levantamento do IBGE. O cenário causa apreensão no Banco Central. “ A inflação preocupa, não estamos confortáveis” , afirmou Carlos Hamilton, diretor de Política Econômica. O índice inflacionário foi mais do que o dobro da rentabilidade da poupança, modalidade de investimento mais popular do país

Inflação de 0,86% é a mais alta em 10 anos

Índice oficial provoca estragos no mercado, assusta o governo e põe os consumidores em estado de alerta. Analistas acreditam que, ainda no primeiro semestre, o IPCA acumulado em 12 meses vai estourar o teto da meta, de 6,5%

Paulo Silva Pinto

O governo bem que tentou, mas não conseguiu evitar o susto da inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta 0,86% em janeiro, o pior resultado para este mês em 10 anos e o mais elevado para todos os meses desde abril de 2005. Medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e usado como referência para a meta de inflação do país, o indicador acumulou elevação de 6,15%, encostando no teto de 6,5% perseguido pelo Banco Central. O sentimento entre os especialistas é de que o país está prestes a entrar em um quadro de descontrole de preços. Não sem motivo: 75,1% dos produtos e serviços pesquisados pelo IBGE apontaram reajustes. Num cenário de normalidade, o chamado índice de difusão é de, no máximo, 60%.

Não fosse a antecipação do corte nas tarifas de energia elétrica, o IPCA teria atingido 0,99% no mês. Os esforços da equipe econômica não se limitaram a esse desconto. Incluíram, também, pedidos a governos estatuais e prefeituras de capitais para adiar aumentos de passagens de ônibus urbanos, trens e metrôs. Essas tarifas represadas deverão impactar o custo de vida até a metade do ano, quando o BC espera que os reajustes comecem a perder força. O IPCA de janeiro superou, embora por uma margem pequena, a previsão média de 0,83% do mercado. Com o resultado, o Brasil subiu para sexto no ranking das maiores taxas de inflação da América Latina. Em 2006, estava na 15ª posição.

Para os mais pobres, que dão suporte à elevada popularidade da presidente Dilma Rousseff, a carestia foi ainda maior no mês passado. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que acompanha os lares com renda mensal de até cinco salários mínimos, ficou em 0,92%. Em 12 meses, cravou 6,63%.

Alimentos caros

A grande pressão inflacionária se concentrou nos supermercados, mais especificamente nas gôndolas de grãos, frutas e hortaliças. “Os aumentos de preços de alimentos foram bem generalizados, poucos tiveram queda”, afirmou a economista Eulina Nunes, coordenadora dos índices de preços do IBGE. Ela explicou que, em alguns casos, a influência do clima foi clara. Por conta de chuvas, que prejudicaram colheitas, a batata-inglesa subiu 67,44% em 12 meses, e o tomate, 30,87%. A campeã das remarcações, porém, foi a farinha de mandioca, que ficou 111,85% mais cara (veja quadro ao lado). Os alimentos têm um peso maior no orçamento das famílias de baixa renda do que nas mais ricas. Por isso, o INPC subiu mais do que o IPCA

A explicação climática está longe de acalmar os analistas do mercado. Embora os itens alimentícios tenham sido recordistas, e serem responsáveis por mais da metade do IPCA de janeiro, os aumentos de preços não se limitaram a eles. Três quartos de todos os produtos e serviços observados na pesquisa tiveram alta. Trata-se da maior proporção desde 2003. “É um cenário preocupante, que inspira cuidados e incomoda o governo”, avaliou Sílvio Campos Neto, da Consultoria Tendências.

Medidas como a desoneração de itens da cesta básica, que poderão reduzir os preços nas prateleiras nos próximos meses, estão em estudo pela equipe econômica. Mas Campos Neto alertou para o fato de que o governo tem “uma margem cada vez menor para conter a inflação”. Há analistas apostando que o IPCA estourará o teto da meta ainda neste primeiro semestre, mesmo que a inflação de fevereiro seja menor, por causa da redução da conta de luz, que compensará o reajuste dos combustíveis e das mensalidades escolares.

O economista não descarta, porém, a possibilidade, mesmo pequena, de a autoridade monetária elevar a taxa de básica de juros (Selic) em 2013. “Vão evitar isso ao máximo, é a última alternativa. Mas, apesar de todas as restrições que o governo tem, não vai abrir mão da medida caso não haja alívio nos preços. O estouro do teto da meta teria um efeito simbólico muito grave, passando a impressão de descontrole e de corrosão do poder de compra.”

Segundo Carlos Eduardo de Freitas, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, “a tendência da inflação é de alta”. Ele atribuiu a elevação contínua dos índices ao expansionismo da política econômica, por meio de incentivos ao consumo e gastos exagerados do governo. “Essa é uma situação complexa, de grande desconfiança por parte dos agentes econômicos”, relatou.

Em situações de desconfiança, de expectativas pessimistas, os comerciantes parte para reajustes preventivos. Isso explica por que os eletrodomésticos ficaram 1,59% mais caros, em média, no mês passado, e os eletrônicos subiram 1,33%, embora ainda fossem beneficiados por descontos do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). As alíquotas começaram a ser recompostas no início deste mês, mas em janeiro muitos consumidores já sentiram aumentos no bolso.

Em dois outros casos, porém, a elevação dos tributos não ocorreu apenas por expectativa. Cigarros ficaram 10,11% mais caros por conta da elevação do IPI. No caso dos carros novos, em que o início da recomposição do IPI começou no mês passado, os preços subiram 1,41%.

Fonte: Correio Braziliense

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