A inflação oficial subiu 0,86% em janeiro, maior alta desde abril de 2005. O acumulado de 12 meses alcançou 6,15%, distanciando-se do centro da meta estipulada pelo governo, de 4,5%. Os números, divulgados ontem pelo IBGE, repercutiram no mercado, aumentando as apostas em uma elevação da taxa básica de juros de que o Banco Central use o câmbio contra a inflação fez com que os contratos de juros fechassem em alta no mercado futuro. O dólar caiu 0,85%, cotado a R$ 1,9720, menor patamar desde 11 de maio de 2012. Os itens que mais pesaram na inflação foram alimentos, com alta de 1,99%, seguidos pelos bens duráveis. Os dados mostram uma inflação resistente e se expandindo por vários setores. Com esse cenário, só os investimentos mais sofisticados tiveram rendimento superior à variação da inflação de janeiro. Já o desempenho de aplicações mais populares, entre elas fundos de renda fixa e a poupança (tanto a velha como a nova), ficou bem abaixo da inflação
Inflação mais alta em oito anos leva mercado a apostar em aumento de juros
IPCA chegou a 0,86% em janeiro, ou 6,15% em doze meses, o que pode levar o Banco Central a ter de elevar os juros ainda este ano
Daniela Amorim
RIO - A inflação oficial subiu 0,86% em janeiro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a maior alta de preços desde abril de 2005 e repercutiu imediata-mente no mercado, elevando as apostas em uma elevação da taxa básica de juros (Selic) ainda este ano. Os contratos de juros fecharam em alta no mercado futuro, influenciados pela declaração do presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, no blog da jornalista Miriam Leitão no site do Globo, que a situação dos preços “não é confortável”. O dólar caiu 0,85%, cotado a R$ 1,9720 – menor patamar desde 11 de maio de 2012 –, com a expectativa que o BC use o câmbio contra a inflação. “Está ainda mais claro que o IPCA acumulado em 12 meses vai ficar no intervalo entre 6% e 6,5% até agosto. Dificilmente ele fica abaixo de 6% nesse período”, disse Fábio Romão, economista da LCA Consultores.
Alimentos
Os preços dos alimentos dispararam, pressionados por problemas climáticos, mas o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve influência ainda dos gastos maiores com cigarros, aluguel e automóveis novos. Os bens duráveis também já começaram a sentir os efeitos da volta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A inflação acumulada em 12 meses alcançou 6,15%, afastando-se ainda mais do centro da meta de inflação perseguida pelo governo, de 4,5%. Em janeiro, os alimentos ficaram 1,99% mais caros, o que correspondeu a 56% da inflação do mês. “Também tem a questão de demanda. Se as famílias consomem mais, isso propicia que os reajustes (de preços de alimentos) sejam repassados, inclusive na refeição fora de casa, no lanche”, disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. As chuvas prejudicaram a oferta de produtos como o tomate, batata-inglesa, cebola, hortaliças e cenoura, mas os aumentos foram generalizados. A farinha de mandioca voltou a subir, atingindo um aumento de 111,85% em 12 meses, o que pressionou mais o IPCA em Estados consumidores no Norte e Nordeste. Os automóveis novos e os eletrodomésticos ficaram mais caros em janeiro por causa do retorno escalonado do IPI.
O preço do automóvel novo subiu 1,41%, o terceiro maior impacto sobre a inflação do mês, atrás apenas das influências do cigarro (em primeiro lugar, com impacto de 0,09 ponto porcentual), tomate e aluguel (dividindo a segunda posição, com 0,06 ponto porcentual cada). Já os eletrodomésticos, também beneficiados pela redução de IPI, subiram,59%. O índice de difusão no IPCA, que indica a proporção de itens com aumento de preços, alcançou 75,07% em janeiro, o maior patamar desde meados de 2003. O resultado indica que a pressão inflacionária é disseminada. “Não é só uma questão de itens específicos subindo e causando essa pressão, mas sim uma alta bem generalizada e que mostra que o Banco Central tem motivos mesmo para estar desconfortável”, alertou Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências. No início de janeiro, o presidente do BC, Alexandre Tombini, declarou a jornalistas no Fórum Econômico, em Davos, que a inflação era “resiliente no curto prazo”, mas que iniciaria a convergência para o centro da meta no segundo semestre.
Energia
Em janeiro, o corte anunciado pelo governo na tarifa de energia elétrica ajudou a conter a inflação, mas o impacto será maior em fevereiro. “É difícil essa conta porque a tarifa foi reduzida em 18% na maioria das empresas, mas a conta da energia elétrica é diferente”, disse Eulina, lembrando a variação de tributos, como PIS/Cofins. “Se a conta se mantiver constante, estão faltando três quartos para complementar a redução, em torno de -0,4 ponto porcentual, de impacto em fevereiro”, calculou Eulina. A queda na tarifa de energia, entretanto, deve ser compensada pelos aumentos previstos nas mensalidades escolares e na gasolina. “Mas o reajuste de 6,6% nas refinarias não quer dizer que seja de 6,6% nas bombas”, disse Eulina. A corretora Concórdia estima que o reajuste da gasolina responda por uma contribuição de 0,15 a 0,20 ponto porcentual para o IPCA de fevereiro.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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