Candidatos da presidente não conseguem 1º lugar em nenhuma das províncias mais importantes
Janaína Figueiredo
BUeNOS AIRES - As Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (PASO) realizadas ontem na Argentina, passo prévio às eleições legislativas do próximo dia 27 de outubro, deixaram claro que depois de mais de dez anos de governo o kirchnerismo está desgastado. Se em outubro de 2011 a presidente Cristina Kirchner foi reeleita com 54% dos votos, e a Frente para a Vitória (sublegenda do peronismo fundada pelo ex-presidente Néstor Kirchner) era o partido mais forte do país, nos últimos dois anos a oposição, mesmo fragmentada, conseguiu fortalecer-se - e ontem, segundo informações divulgadas pelos principais meios de comunicação do país, obteve o primeiro lugar nos principais distritos eleitorais da Argentina: capital, província de Buenos Aires (onde vivem 38% dos 28,6 milhões de eleitores argentinos), Santa Fé, Mendoza, Córdoba e até mesmo Santa Cruz, terra natal de Kirchner.
No momento de votar, em Santa Cruz, a chefe de Estado minimizou a sucessão de denúncias de corrupção contra seu governo, apesar da onda de protestos que vem enfrentando desde 2012.
- Denúncias venho escutando há décadas, sempre acontecem em épocas eleitorais e é a parte mais feia da política - disse Cristina.
Reforma constitucional ameaçada
A próxima eleição legislativa é importantíssima para a presidente e seus aliados, muitos dos quais ainda sonham com uma "Cristina eterna". Se o governo perder espaço no Congresso, será definitivamente enterrado o projeto de reforma constitucional que permitiria uma terceira candidatura consecutiva da chefe de Estado. Em outubro, serão renovadas 127 cadeiras na Câmara (a metade da casa), das quais 49 são hoje da FPV e 78 de partidos da oposição. Já no Senado, estarão em jogo 16 vagas do partido governista e 8 da oposição, o que representa um terço do total. O cenário traçado pelas primárias, que serviram para definir as listas de candidatos que concorrerão nas legislativas, mostra que o governo poderia manter-se como maior partido na Câmara, mas a grande incógnita é saber como ficará a divisão de forças no Senado, chave para uma eventual reforma da Constituição.
As primárias também confirmaram o surgimento de novas lideranças opositoras. Na província de Buenos Aires, a mais importante do país, Sergio Massa, ex-chefe de Gabinete de Cristina e aposta crucial do peronismo dissidente na eleição de outubro, foi o candidato mais votado. O ex-chefe de Gabinete rompeu com o kirchnerismo este ano e tornou-se sua maior dor de cabeça. O líder do movimento Frente Renovador é considerado por analistas um dos políticos com mais chances de desafiar o poder de Cristina (que sem reforma deverá escolher um sucessor) nas próximas eleições presidenciais.
Na visão da analista política Graciela Romer, "os eleitores de Massa são críticos do kirchnerismo, mas não são ultraopositores".
- São eleitores que demandam outro estilo de gestão, menos confronto e mais diálogo - explicou Romer.
Os candidatos da FPV também foram superados pela oposição em províncias como Mendoza, onde o ex-vice presidente de Cristina, o radical Julio Cobos, ficou em primeiro lugar. Em Córdoba, outra das províncias com mais peso eleitoral, o peronismo liderado por José Manuel de la Sota, um dos governadores que atreveu-se a criticar o governo Kirchner nos últimos tempos, foi o grande vencedor. Em Santa Fé, o socialismo comandado por Hermes Binner, que nas presidenciais de 2011 ficou em segundo lugar, com uma diferença de mais de 30 pontos percentuais em relação à Cristina, consolidou-se como favorito. A FPV também perdeu em Santa Cruz, província que Kirchner governou durante mais de 11 anos. Na capital, os candidatos mais votados foram os do PRO, do chefe de governo opositor Mauricio Macri. O kirchnerismo, único grupo presente nas 24 províncias, esperava compensar a derrota nos grandes colégios eleitorais com vitórias no resto do país.
Fonte: O Globo
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