A primeira vez que ouvi falar sobre o trem de alta velocidade ( "trem bala") foi em 1993, quando fui Ministro dos Transportes do governo Itamar Franco. Recebi representantes de uma empresa alemã ( não sei se foi a Siemens ) que me propunham fazer os estudos de viabilidade do trem entre São Paulo e Rio sem qualquer custo para o governo federal. Já tinham trabalhado com o mesmo intuito para o GEIPOT, empresa estatal que fazia projetos e planejamento para o governo. Claro, de graça, autorizei os estudos. Durante muitos anos não ouvi mais falar-se do assunto.
Quando fui vice governador de São Paulo e Secretário de Desenvolvimento, no governo Serra, fui procurado por um grupo italiano que dizia que tinha feito os mesmos estudos e chegado à conclusão de que a obra era viável. Duvidei, analisei as bases do estudo e mantive a minha descrença. Em 2008 recebi representantes do governo federal ( BNDES, Ministério dos Transportes e ANTT ) que mostraram o trabalho feito por uma empresa contratada pelo BNDES para a viabilização do empreendimento. Mais uma vez percebi que era uma aventura, uma fantasia da dupla Lula/Dilma, que pretendia concluir a obra para os jogos da Copa, em 2014. Fala-se agora em 2020.
Desde então o modelo de negócios da obra já foi mudado dezenas de vezes. Marcada a publicação do edital dezenas de vezes. Prevista para ser executada exclusivamente com recursos privados, foi Incluído o financiamento do BNDES, a participação do governo com recursos orçamentários, a participação dos fundos de pensão, dos correios, assegurada a garantia da demanda de passageiros, a participação da estatal VALEC, da recém criada EPL, a mudança das taxas de remuneração do capital e outros diversos malabarismos para viabilizar o intento.
A presidente, os ministros, os dirigentes dos diversos órgãos públicos já realizaram centenas de reuniões com os interessados, ALSTOM, CAF, SIEMENS, com os japoneses, coreanos, chineses, mudando e mudando os termos do negócio, adiando e adiando a publicação dos editais, sempre tentando colocar o negócio em pé. Nada. Passaram-se anos e nada. Agora, vários já desistiram e teriam sobrado as três primeiras. A ALSTOM estaria com a proposta nos finalmente(s), a CAF enrolada com o acidente na Espanha e a SIEMENS pedindo mais prazo.
Nunca antes nesse país se viu tamanho rolo entre o interesse público e o privado, o governo abrindo as pernas para os empreendedores que ainda assim não se mostram seguros ou satisfeitos. Sobre isso, a imprensa se cala. E acabo de ouvir no JN que lá nos idos de 2004 o governo paulista teria atendido a um pedido de adiamento de uma semana em uma licitação de trens de CPTM, como se isso fosse um crime. Como se fosse um escândalo.
Que o cidadão comum tenha dificuldades de entender tudo o que se passa, em compreendo. O que não aceito é que parte da mídia impressa, falada e televisiva trata do assunto de forma leviana. Tudo para se apresentar ao público como equilibrados entre as duas maiores forças políticas do país. Já que tiveram de apresentar o episódio do mensalão, sob o comando do PT, em seus detalhes, com dirigentes petistas condenados, e o que virá mais nas próximas semanas, procuram, sob pressão do governo e do PT, alguma irregularidade nos governos do PSDB. Nenhuma semelhança, mas não estão aí para esclarecer.
Ignorância, sacanagem e mediocridade, é um desserviço à democracia.
Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB, foi governador de S. Paulo
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