PT se irrita com ação de Haddad ao lado de tucanos
PSDB também criticou Alckmin por anúncio de redução de tarifa
Rendição conjunta. Haddad anunciou redução da passagem com o PSDB
Silvia Amorim
SÃO PAULO - Quando o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), telefonou, na tarde de anteontem, para São Paulo e informou que anunciaria, ainda naquele dia, a revogação do reajuste da tarifa do transporte público no Rio, o prefeito paulistano Fernando Haddad (PT) viu ruir a sua última esperança de manter a passagem de ônibus em R$ 3,20 na capital paulista. Isolado e pressionado por líderes do PT, preocupadas com eventuais abalos à imagem da presidente Dilma Rousseff, diante da dimensão que tomou a causa dos estudantes no país, Haddad combinou com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) uma "rendição" conjunta.
O objetivo era evitar que o desgaste, inevitável, não se tornasse ainda maior.
Entretanto, a forma que o prefeito escolheu para resolver a questão - um anúncio ao lado do PSDB - desagradou ao próprio partido. O PT havia organizado ao longo do dia anúncios de redução da tarifa do transporte coletivo por prefeitos petistas em todo o país. Alvo preferencial dos manifestantes na reta final do movimento na capital paulista, Haddad remou contra a maré.
Candidato à reeleição, o governador Geraldo Alckmin também teve a sua atitude criticada por tucanos, que viram nela a criação de um precedente perigoso e estimulante para futuras manifestações. O maior desgaste para o governador, segundo avaliação de líderes tucanos, foi a ação truculenta da polícia na repressão. Mas não foi o único.
Anunciar que usará recursos previstos para obras que estão paradas para pagar a conta pela redução da tarifa também foi visto como um discurso prejudicial politicamente. Para alguns tucanos, isso passou uma mensagem de falta de planejamento no governo.
O próprio discurso adotado por Alckmin no início dos protestos contra os manifestantes soou mal dentro do partido.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reprovou publicamente, embora de forma sutil, a posição do governador, dizendo que governantes e líderes deveriam procurar entender as razões dos atos e não "desqualificá-los como ação de baderneiros".
Alckmin havia usado dias antes a expressão "baderna" para se referir a um dos protestos que terminou em confronto entre policiais e manifestantes. Haddad também viu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, rechaçar publicamente a proposta levada por ele à presidente Dilma Rousseff de ampliar as desonerações para o setor de transporte.
- O governo já fez desonerações este ano. Não estão previstas novas desonerações além das que fizemos - disse Mantega.
Foi a pá de cal no plano do prefeito. Haddad contava com a ajuda do governo federal para revogar o reajuste da tarifa e procurava um discurso honroso, já que havia dito horas antes que seria "populista" qualquer decisão tomada a toque de caixa. O ex-presidente Lula e Dilma haviam orientado Haddad a recuar. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, fez apelo no mesmo sentido anteontem
Fonte: O Globo
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