Confronto começou quando multidão chegou à sede da prefeitura
Bernardo Moura, Gustavo Goulart, Márcio Menasce, Rodrigo Bertolucci e Vera Araújo
Com uma multidão estimada em 300 mil pessoas, o protesto no Rio - já sem a bandeira da redução da tarifa das passagens - começou de forma pacífica, mas as tentativas de grupos isolados de criar confusão acabaram, ao final, transformando a manifestação num grande campo de batalha. Se as estimativas da Coppe/UFRJ eram de 300 mil pessoas, os organizadores falaram em 1 milhão de manifestantes, que ocuparam toda a Avenida Presidente Vargas. O ponto de maior tensão foi o entorno da sede da prefeitura do Rio, para onde foi deslocado um grande efetivo de homens das polícias Civil e Militar. A ordem era não deixar os manifestantes passarem daquele ponto, a fim de evitar uma tentativa de invasão do prédio, onde fica o gabinete do prefeito Eduardo Paes.
Ali começou um clima de provocação por parte de manifestantes e de intimidação por parte dos policiais, que logo desencadearia em violência. PMs do Batalhão de Choque chegaram a jogar bombas de efeito moral em direção à multidão. Logo a área foi tomada por fogueiras, bombas de gás e rojões. Um grupo de 200 pessoas, sem camisa e com rostos cobertos, atearam fogo em um carro da emissora de televisão SBT e quebraram motos de funcionários dos Correios.
Por volta das 20h, o Terreirão do Samba foi invadido. Parte do grupo seguiu em direção à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Com a generalização dos confrontos, uma mulher foi ferida no rosto, sendo levada no colo por manifestantes para longe do local. O fotógrafo do GLOBO Marcelo Piu e o repórter do canal GloboNews Pedro Vedova foram atingidos por balas de borracha. Por volta das 21h30m, o Hospital Souza Aguiar já havia recebido 33 feridos.
Os policiais chegaram a avançar com carros para cima da multidão. Um grupo usou tapumes - que haviam sido instalados para evitar depredações no prédio - para se proteger. O policiamento havia sido reforçado, com cerca de cem PMs a cavalo e membros do Grupo de Operações Especiais da Guarda Municipal, tanto na prefeitura como em frente ao prédio do Centro de Operações Rio (COR). Ao ouvir sobre a confusão, muitos manifestantes, na altura da Central, começaram a voltar na direção da Candelária.
Hostilidade contra partidos
A Praça da Bandeira ficou interditada nos dois sentidos. O entorno do Maracanã, isolado por causa do jogo, permaneceu fechado, à medida que os manifestantes buscavam sair do Centro. Foram interditados ainda o Elevado 31 de Março, o túnel Santa Bárbara e uma das galerias do Rebouças. O Metrô Rio fechou várias estações, incluindo Cidade Nova, Praça Onze, Presidente Vargas, Uruguaiana, Central e Cinelândia.
Estudantes da Faculdade de Direito da UFRJ, junto à Praça da República, não conseguiam deixar o prédio. A própria Organização dos Advogados do Brasil aconselhou-os a não deixarem o prédio.
Um homem, identificado apenas como Almir, foi ferido com uma paulada na cabeça no início da noite. Segundo seus amigos, ele teria sido agredido por grupos contrários a sua ideologia. Almir foi atendido na calçada de um posto de gasolina na Presidente Vargas por médicos e estudantes de medicina voluntários.
Mais cedo, durante a concentração na Candelária, um homem vestido de vermelho, com uma bandeira da Central Única dos Trabalhadores (CUT), foi expulso com gritos hostis. Ele pretendia distribuir panfletos com o título "Abaixo a máfia da Fetranspor"". Mas os folhetos foram tomados pelos manifestantes e jogados no chão.
- A gente veio aqui também para protestar democraticamente. E é impedido? - reclamou um militante da CUT.
Já os PMs distribuíram panfletos pedindo aos manifestantes que não participassem de atos de vandalismo ou depredação do patrimônio. "Sem violência. Paz. Ajude-nos a proteger você" eram alguns dos dizeres.
Mas também houve espaço para o bom humor. O protético Eron Melo estava de Batman:
- Não tenho nada contra a Copa, mas precisamos saber para onde esse dinheiro vai e por que ele não é investido na saúde. Vim de Batman porque ele luta pelas pessoas carentes.
A funcionária do Ministério da Saúde Lenira de Araujo Pinheiro, de 69 anos, contou já ter participado de inúmeras manifestações em sua vida:
- Esses jovens estão fazendo aquilo que eu já fiz, em vão.
Fonte: O Globo
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