Fracassou a ideia do ex-presidente Lula de tentar tirar o PT do sanduíche pela aba das manifestações, misturando os militantes do partido aos sem-bandeiras. Em várias cidades, os defensores partidários foram acuados aos gritos de "mensaleiros". Isso mostra que, pelo menos até aqui, a marca do escândalo de 2005 não saiu, embora os petistas ainda tenham a preferência do eleitorado, de acordo com as pesquisas, e a rejeição não tenha sido privilégio do PT. Todos os partidos que testaram a força nas mobilizações de ontem foram rechaçados. E, se a onda pega, a campanha de 2014 será mais animada do que qualquer outra disputada desde a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994.
Àqueles carecas de conhecer a história política do Brasil, que me perdoem, mas vale um histórico dos motes eleitorais de lá para cá. Em 1994, Fernando Henrique Cardoso foi guindado ao poder no embalo do Plano Real. Depois, com o discurso de que a economia sofria sérios riscos caso não fosse reeleito, o então presidente conquistou mais um mandato. Em 2002, com a economia enfrentando problemas, foi a vez de o PT chegar com o discurso de equilíbrio social. Assim, Lula, em sua quarta eleição presidencial, conquista o poder não sem antes prometer que seria equilibrado na economia.
Se Fernando Henrique Cardoso conquistou a reeleição com o discurso de que era o melhor para conduzir a economia e evitar aventuras, Lula fez o mesmo com a mensagem de que o PSDB não manteria as conquistas sociais de seu governo e ainda faria uma gama de privatização de serviços públicos. Saiu tão popular que fez a sucessora, Dilma Rousseff, até o início deste ano considerada imbatível do ponto de vista eleitoral. Dilma aos poucos superou o próprio Lula em termos de popularidade e intenção de voto. Ganhou apoios na classe média, hoje mais robusta.
Agora — ufa, vamos ao que interessa! — tudo mudou. O repúdio aos petistas e a todos os partidos nos dá um sinal de que esta eleição que vem por aí em 2014 não terá um nome que predomine a anos-luz dos demais. É precipitado, entretanto, dizer que estejamos chegando novamente àquela temporada que resultou na eleição de Fernando Collor de Mello. A única comparação é a de que o país está farto dos políticos tradicionais.
Desta vez, o que os brasileiros reivindicam de maneira geral são serviços com qualidade e competência, e a boa aplicação de seus impostos. Ou seja, o óbvio. Quem conseguir convencer o eleitor de que é capaz de fornecer isso, certamente terá mais chances numa eleição, seja estadual, seja a própria Presidência da República. Num processo eleitoral tão antecipado, essa corrida já está em curso.
Enquanto isso, nos partidos...
Obviamente, quem está no poder sofre mais as consequências e a queda de avaliação. E, no momento, os partidos que têm candidato a presidente da República são poder. O PT está mais exposto por ter a Presidência, mas o PSDB também terá que prestar conta de serviços nos estados que governa, caso de Minas Gerais, São Paulo e Paraná. O PSB também será cobrado. Não por acaso, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, deflagrou ontem obras em emergências de três hospitais públicos do estado. E Marina Silva, que, a princípio, parece mais beneficiada, ainda não tem partido.
Os manifestantes dizem que se os governantes, de um modo geral, perceberem o perigo da exclusão eleitoral e se agarrarem no serviço de realmente melhorar aquilo que afeta a vida das pessoas, a irritação nos olhos causada pelo gás de pimenta ontem à noite já terá valido a pena.
Fonte: Correio Braziliense
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