Protestos crescem no país, mesmo com reduções de passagens, inclusive em Minas.
Confrontos violentos entre polícia e manifestantes voltam a ocorrer em várias capitais.
Ativistas exaltam símbolos nacionais, como hino e bandeira, e repudiam partidos.
Concentrações populares são usadas para divulgar as mais variadas reivindicações.
A exemplo do que fizeram São Paulo e Rio, as tarifas de transporte público estão sendo reduzidas em vários outros pontos do Brasil. Na Grande BH, os ônibus metropolitanos ficam 3,65% mais baratos em 1° de julho, com a passagem predominante passando de R$ 3,45 para R$ 3,30. Contagem e Ibirité também diminuíram o custo dos coletivos, enquanto a capital e Betim caminham para fazer o mesmo. Entretanto, isso não arrefeceu os protestos de rua, que até aumentaram.
Ontem ocorreram grandes manifestações nas principais capitais brasileiras. Na capital mineira, cerca de 20 mil pessoas se reuniram na Praça Sete, seguindo para a Praça da Liberdade e Câmara Municipal, sem maiores incidentes. Mas houve violentos choques entre militantes e policiais, que dispararam bombas e tiros de borracha, principalmente no Rio, onde um grupo tentou invadir a prefeitura, e em Brasília, com tentativas de invasão ao Congresso e ao Palácio do Itamaraty.
Muita gente, muitos pedidos
No quarto dia de passeatas em BH, 20 mil pessoas se reúnem no Centro e na Câmara Municipal com reivindicações variadas
Tiago de Holanda, Mateus Parreiras, Alice Maciel, Landercy Hemerson e Luciane Evans
Cuidado. Querem tirar nosso foco. O protesto é contra a roubalheira", dizia um dos cartazes expostos ontem na Praça Sete, no Centro de BH, onde se reuniram cerca de 20 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar. Mas no quarto dia seguido de manifestações na capital, mais uma vez ficou claro que as queixas são diversas, incontáveis. Parte delas parece ser unânime, como o combate à corrupção, e outras são bem controversas. Algumas, um tanto imprecisas, exigem mudanças vagas. A variedade de reivindicações pode incomodar, mas muita gente prefere que seja assim. O Brasil, dizem, tem problemas em abundância. Na manifestação de ontem, que passou pela Praça da Liberdade e pela Câmara Municipal, no Santa Efigênia, houve menos incidentes do que nas anteriores. Até a 0h, quatro pessoas haviam sido presas. Uma por furto, uma por uso de maconha, uma por agressão e outra por atirar bomba caseira.
"Tem tanta coisa errada, que nem cabe em um cartaz", lia-se na cartolina erguida por Stephanie Messias, de 18 anos. Ela estava acompanhada de outros sete estudantes de direito. "A grande quantidade de objetivos não é ruim. Não dá para resolver tudo de uma vez, mas aos poucos as coisas mudam. A partir de agora, vamos ficar no pé dos políticos", diz a moça. Os colegas concordam. "A principal meta é reduzir o preço da passagem de ônibus, mas há muita coisa errada. A gente está indignada, por exemplo, com o excesso de dinheiro gasto com a Copa do Mundo", disse Blenda Lopes, de 19. "Na verdade, é a união de tudo: corrupção, falta de saúde e educação. A gente não aguenta mais", opina Luiz Fernando, de 19. Ele carregava cartaz criticando a imensa carga tributária brasileira. "Pagamos um monte de impostos e não temos retorno nenhum", apontou.
Como tantos outros, o cartaz segurado pelo vestibulando Wallaggy Ribeiro, de 22, atacava a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37, que retira do Ministério Público o poder de investigar crimes. Já o primo dele, o estudante de ciências contábeis Michel Warley, de 26, levantava outra bandeira: "Não à Copa, sim à saúde". "Há uma mês, fiquei um dia inteiro esperando em um centro de saúde e, quando fui atendido, o médico errou o diagnóstico. Disse que eu tinha virose, mas descobri que era princípio de pneumonia", contou.
O cartaz da estudante de publicidade e propaganda Luísa Teles, de 20, tinha dizeres irônicos: "Por uma saúde e uma educação nos padrões Fifa". Apesar disso, a mudança mais urgente que deve ocorrer no país é outra, na opinião dela. "O principal é tirar o Marco Feliciano (deputado federal que preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara). Você não constrói uma democracia recriminando as pessoas por causa da opção sexual", alegou. A cartolina exposta por uma amiga, a estudante de direito Luiza Barros, de 20, celebrava a realização dos protestos: "País mudo não muda. O gigante acordou". Para a moça, a meta mais importante é outra: "É diminuir o salários dos políticos, os gastos que eles têm à nossa custa. Esse dinheiro precisa ser investido em saúde e educação", disse Luiza. "A galera percebeu que tem muita coisa para ser corrigida. Não tem como concentrar em um único objetivo", acredita.
Outro dizia que "não está certo o que o governo faz com nosso dinheiro". Havia quem antevisse um promissor futuro, ainda que incerto: "Amanhã vai ser outro dia". E outro ameaçava: "Só sairemos da rua quando o último corrupto cair".
Tensão na praça
Apesar dos poucos incidentes, a manifestação de ontem deu mais trabalho à Polícia Militar para organizar o trânsito. A falta de uma coordenação se refletiu em diversos impasses e desvios de trajeto que dificultaram o esquema de segurança para acompanhar o protesto e provocaram engarrafamentos. A primeira indecisão de percurso ocorreu na Praça da Liberdade, na esquina da Avenida Brasil com Avenida Cristóvão Colombo. Alguns manifestantes queriam descer para a Praça da Savassi e outros ir para a Câmara. Foi preciso retornar para a esquina, onde, depois de alguns minutos, o impasse foi resolvido com uma votação que decidiu por uma caminhada até o prédio do Legislativo municipal.
Ao longo do caminho os manifestantes conclamaram a população a piscar as luzes de casa, buzinar e seguir com a multidão. Chamou a atenção a consciência dos manifestantes, que fizeram silêncio ao passar na área hospitalar, próximo aos hospitais Santa Casa e São Lucas. Ao chegar à Câmara, não havia policiais esperando, uma vez que tropas de choque e outras unidades ficaram presas no trânsito. Mas não houve vandalismo. Os manifestantes cantaram o Hino Nacional, escalaram a laje da entrada do prédio e hastearam uma Bandeira do Brasil nos mastros do edifício.
A onda de manifestações impulsiona protestos paralelos, que começam a ganhar as ruas. Entre eles, o dos alunos do ensino médio da Escola Estadual Ordem e Progresso, no Bairro Gameleira, Região Oeste. Durante a manhã e a noite de ontem, cerca de 500 jovens, em cada turno, fecharam a Avenida Amazonas por mais de uma hora. Os alunos protestam contra o uso de um terreno ao lado para a construção de uma sede administrativa do Samu. Os estudantes imaginavam que ali seria um espaço ideal para a expansão do prédio da escola. "As salas estão superlotadas", reclama Mateus Souza, aluno do 2º ano.
Em nota, a Polícia Civil respondeu que a escola tem laboratório de informática, biblioteca, sala de multimeios, entre outras estruturas. "Além disso, toda a infraestrutura da Academia de Polícia Civil (Acadepol), à qual é vinculada, pode e deve ser usada pelos alunos e professores", diz o texto. Ainda segundo a nota, a Acadepol já está acertando com a escola a oferta de outros equipamentos. (Colaboraram Guilherme Paranaiba e Carolina Mansur)
Ator em passeata
O ator Daniel de Oliveira aderiu à mobilização e saiu em passeata pelo Centro de Belo Horizonte, sua terra natal, na noite de ontem. Acompanhado por um amigo, ele seguiu os manifestantes em protesto. Para ele, passou da hora de o povo se unir e cobrar seus direitos.
Fonte: Estado de Minas
Nenhum comentário:
Postar um comentário