Líderes marcham até sede regional, em Caracas, e exigem 'firmeza' da entidade
Jamil Chade com EFE, AFP e REUTERS
CARACAS - Um grupo de dirigentes políticos da oposição, estudantes e jornalistas marcharam ontem até a sede regional da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Caracas, para exigir uma posição mais "firme" da entidade sobre a crise política na Venezuela. O grupo entregou uma carta pedindo que a OEA se pronuncie sobre o que está ocorrendo no país.
Uma das líderes opositoras, a deputada María Corina Machado, disse que a reação tem de partir tanto do secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, quanto dos chefes de Estado dos países integrantes, entre eles o Brasil. Corina Machado, ao lado do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, e de Leopoldo López, dirigente do partido Vontade Popular (VP), atualmente mantido em uma prisão militar, iniciaram em janeiro uma mobilização pedindo a queda do governo de Nicolás Maduro. O movimento ganhou força com os protestos populares contra a violência, a escassez de alimentos e a alta inflação. A repressão aos protestos deixaram 18 mortos.
Corina Machado e Ledezma lideraram a marcha de desta segunda-feira. Para a deputada, se a OEA der respaldo ao governo de Maduro neste momento, "estará traindo a Venezuela e enterrando" a própria organização. "Esta é a oportunidade de o secretário-geral Insulza demonstrar que ele não faz parte desse projeto de destruição da OEA", afirmou, alegando que Caracas está "violando" todos os princípios da Carta da entidade.
Eles convocaram novos protestos para esta terça em Caracas e outras cidades venezuelanas. "Vamos nos encontrar para homenagear todas vítimas da repressão brutal deste regime ditatorial", declarou Corina Machado em entrevista coletiva, ao lado da mulher de López, Lilian Tintori.
Em nota, Ledezma disse que a OEA "não foi feita para defender governos". "O secretário-geral José Miguel Insulza foi designado para comandar a OEA, não para defender o seu cargo", disse o opositor.
López, apesar de encarcerado, enviou na segunda uma mensagem por meio de Carlos Vecchio, coordenador político do VP, pedindo que a população continue nas ruas. Ao presidente Maduro, o opositor mandou um recado: "A luta está apenas começando". "Todos os dias anunciaremos novas ações contundentes que irão de menos a mais", disse López em um vídeo postado por Vecchio na internet.
Genebra. O chanceler Elías Jaua rebateu as acusações de violações dos direitos humanos e disse na segunda na ONU que seu país vive uma "guerra psicológica" por parte da imprensa para derrubar o governo de Maduro. Jaua falou ao Conselho de Direitos Humanos e disse que a Venezuela é vítima de uma "campanha de mentiras para justificar uma intervenção estrangeira".
O chanceler se reuniu com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, mas não ganhou o apoio do sul-coreano. "Peço às autoridades venezuelanas que escutem as legítimas aspirações dos que protestam", declarou Ban, que pediu que Caracas lide com a oposição por meio do diálogo.
Ao mesmo tempo, o governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, convocou, pelo Twitter, uma grande mobilização nacional para sábado "contra a escassez". Representante de uma ala mais moderada da oposição, Capriles, que disputou a presidência contra Maduro e foi derrotado por pequena margem, tem se mantido mais discreto desde o início dos protestos em comparação aos demais líderes opositores.
Ontem, Capriles pediu que a população se organize em "comandos de defesa" para multiplicar a mensagem que exige mudança. O opositor disse também ter pedido à ONU que o deixe "informar" sobre a verdade do que ocorre na Venezuela, em resposta à fala de Jaua ao Conselho de Direitos Humanos.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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