• Encontro que discutiu as perguntas e respostas de interrogados na comissão no Senado foi realizado em sala anexa ao gabinete da presidente da companhia
Andreza Matais, Fábio Brandt e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo
A reunião entre servidores da Petrobrás para discutir as perguntas e respostas dos interrogados na CPI da estatal no Senado ocorreu no gabinete da presidente da companhia, Graça Foster, em Brasília. A sala de reuniões integra o gabinete e o acesso é restrito a servidores da alta cúpula da estatal. O espaço é usado por Graça para receber autoridades e fazer reuniões com assessores. O gabinete da presidente ocupa todo o segundo andar do prédio da Petrobrás na capital federal.
Procurada, a estatal não respondeu aos questionamentos do jornal a respeito do uso do gabinete da presidente Graça Foster.
A reunião foi gravada em vídeo e divulgada pela revista Veja na edição do fim de semana. Além do chefe de gabinete da Petrobrás em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, e do advogado da empresa Bruno Fereira, o portal Estadao.com.br revelou que o chefe do departamento jurídico do escritório da Petrobrás em Brasília, Leonan Calderaro Filho, também estava presente na reunião.
A revista não identificou onde o vídeo fora gravado e se referiu a Calderaro como pessoa não identificada.
A conversa gravada sugere que os executivos da Petrobrás tiveram acesso com antecedência às perguntas que seriam feitas aos depoentes da estatal por senadores da CPI no Senado. Barrocas informa aos colegas que encaminhara, por fax, o "gabarito" à presidente da estatal. Ele foi nomeado como chefe de gabinete da Petrobrás em Brasília por Graça Foster. Antes, eles trabalharam juntos na BR Distribuidora, quando Graça era presidente e Barrocas, chefe de gabinete da subsidiária da estatal em Brasília. Pessoas que convivem com os dois disseram à reportagem que Barrocas é fiel a Graça e não toma decisões mais complexas envolvendo a Petrobrás sem o aval da chefe.
Questionário. Um servidor da estatal confirmou ao Estado, em condição de anonimato, como funcionava o suposto esquema para que os depoentes tivessem conhecimento prévio das perguntas dos senadores. Os questionamentos eram elaborados por servidores do PT, com ajuda do servidor da Secretaria de Relações Institucionais, Paulo Argenta. Barrocas buscava o questionário pessoalmente na liderança do Senado. O próximo passo, o que foi gravado em vídeo, era a reunião no gabinete da presidente para discutir as respostas. Ao final, o documento seria encaminhado para o comando da empresa, no Rio.
O chefe do escritório da estatal em Brasília e o assessor da Secretaria de Relações Institucionais Paulo Argenta tinham por hábito acompanhar pessoalmente os depoimentos na CPI.
Ex-presidente da estatal e ex-presidente do PT, José Eduardo Dutra, que hoje é diretor da Petrobrás, também participou de reuniões com a bancada do PT para discutir as investigações.
O líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), protocolou na última segunda-feira requerimentos de convocação para que o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini (PT), compareça ao Congresso para explicar a suspeita de envolvimento de um funcionário da pasta no caso. Os requerimentos foram apresentados nas comissões de Fiscalização Financeira e Controle, de Minas e Energia e no próprio plenário da Casa.
Fontes disseram ao Estado que a cúpula da Petrobrás desconfia que a gravação foi feita pelo advogado Bruno Ferreira. Na segunda-feira, ele chegou a ser sabatinado na estatal sobre sua suposta participação no caso.
'Simulações'. A Petrobrás informou em nota que "tomou conhecimento das perguntas que norteiam os trabalhos das CPI e CPMI da Petrobrás através do site do Senado Federal". Afirmou que, "após cada depoimento, as dezenas de perguntas são desdobradas em novas perguntas pela equipe da Petrobrás de forma a subsidiar os depoimentos subsequentes" de executivos e ex-executivos, que são preparados "com simulações de perguntas e respostas".
Ainda segundo a nota, a estatal informou que "garante apoio a executivos e ex-executivos, preparando-os, com simulações de perguntas e respostas, para melhor atender aos diferentes públicos, seja em eventos técnicos, audiências públicas, entrevistas com a imprensa, e, no caso em questão, as CPI e CPMI". Tais simulações, afirma, "envolvem profissionais de várias áreas, inclusive consultorias externas, de modo a contribuir para uma melhor compreensão dos fatos e elucidação das dúvidas".
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