• Ao convidar um banqueiro, Dilma só prova que sua propaganda de campanha era pura empulhação
- Folha de S. Paulo
Os pobres do Brasil devem ter soltado um profundo suspiro de alívio ao serem informados de que o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, recusara o convite para ser o ministro da Fazenda.
Afinal, como a maioria relativa do eleitorado votou pela reeleição da presidente, supõe-se que acreditou na propaganda dela.
E a propaganda dizia que um banqueiro no Banco Central, como afirmava que ocorreria se ganhasse Marina Silva ou Aécio Neves, faria com que o prato de comida sumisse da mesa dos pobres, "comido" pelos banqueiros.
Ao convidar um banqueiro, portanto, Dilma praticou um estelionato eleitoral, mesmo que o convite tenha sido recusado e ainda mais se o ministro vier a ser Joaquim Levy, também do Bradesco.
Gostaria muito de saber se os colunistas e blogueiros que endossaram a propaganda dilmista farão agora o devido registro de que era uma empulhação.
Duvido, pois deixaram passar, sem reparos, a evidência cristalina de que um partido que teve o banqueiro Henrique Meirelles como presidente do Banco Central durante oito anos não tinha autoridade moral para fazer a propaganda que fez.
Há um segundo aspecto relevante no convite a Trabuco: o banco que ele preside foi flagrado em malabarismos fiscais, via Luxemburgo, com o que poupou uma baita grana em impostos.
Ao contrário do que ocorre com a Petrobras, o Bradesco não cometeu nenhuma ilegalidade. Jogou dentro das regras.
Acontece que Dilma Rousseff assinou, com seus pares do G20, um papel em que todos se comprometem a implementar um mecanismo que impeça ou dificulte um tal de BEPS ou "Base Erosion and Profit Shifting".
Em português claro, erosão da base fiscal pelo passeio dos lucros do país onde eles se dão para onde não são taxados, tipo Luxemburgo.
Ou seja, Dilma convidou para a Fazenda um cidadão cuja empresa pratica atos que ela quer ver eliminados, mesmo porque o BEPS tira, sim, a comida da mesa dos pobres e até dos não tão pobres, porque permite a elisão fiscal, codinome elegante (e legal) para sonegação.
Se fosse minimamente coerente com a propaganda eleitoral, Dilma deveria convidar para a equipe econômica gente com a clareza de Thomas Piketty, o badalado autor de "Capital no século 21".
Para ele, um Estado de Bem-Estar Social não pode sustentar-se exclusivamente nos impostos sobre salários e renda fixa.
Como lembra em "El País" desta sexta, 21, José Ignacio Torreblanca, do Conselho Europeu de Relações Exteriores, "não pode por motivos de eficiência, já que, com esses impostos, não basta para sustentar políticas de equidade, nem por motivos de equidade, porque a riqueza patrimonial cresceu desproporcionalmente em relação aos salários".
Completa ele: "Basear todos os impostos sobre trabalho e salários é, além de injusto, ineficaz, porque as rendas salariais são fixas e as patrimoniais são móveis, líquidas ou desfrutam de regulações muito favoráveis" (vide o tal de BEPS).
Banqueiros pensariam assim?
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