- O Globo
"É doloroso ver que a luta contra a fome é prejudicada pelo primado do lucro" - Papa Francisco
Há muitas perguntas sobre o escândalo da Petrobras que suplicam por respostas. A mais óbvia: é possível que Dilma ignorasse o mar de lama capaz de afogar a empresa que ela sempre controlou desde o primeiro governo do presidente Lula? Pois antes de suceder a José Dirceu na chefia da Casa Civil, Dilma foi ministra das Minas e Energia. Presidiu o Conselho de Administração da Petrobras de 2003 a 2010.
AO DEIXAR O CONSELHO para concorrer à Presidência da República, Dilma comentou que se sentia feliz pelo que fizera. "É um orgulho passar pelo Conselho de Administração da Petrobras, e, maior ainda, presidi-lo", disse. "Você tem uma nova visão do Brasil. Vê a riqueza do Brasil". De fato, ela viu. O que não viu, como diria mais tarde, foi por culpa dos outros.
NÃO VIU COM antecedência um dos piores negócios feitos pela Petrobras — a compra da Refinaria Pasadena, nos Estados Unidos. Ela pertencia à empresa belga Astra Oil, que a comprara em 2005 por US$ 42,5 milhões. Um ano depois, a Petrobras pagou US$ 360 milhões. E só por 50% da refinaria. Três anos depois, pagou mais US$ 639 milhões pelos outros 50%.
DILMA ALEGOU NO ano passado que se baseara em "informações incompletas" e em um parecer técnico "falho" para aprovar a compra da primeira metade da refinaria. E nós com isso? O procurador-geral da República aceitou a alegação e culpou a diretoria da Petrobras pelo mau negócio. O Tribunal de Contas da União (TCU), também.
NO DIA 29 DE SETEMBRO de 2009, segundo a edição mais recente de "Veja", Paulo Roberto Costa, então diretor de Abastecimento da Petrobras, informou a Dilma por e-mail que o TCU havia recomendado ao Congresso a paralisação das obras das refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Getúlio Vargas, no Paraná, e de um terminal petrolífero no Espírito Santo.
ESQUISITO COMPORTAMENTO, o de Paulo Roberto. Por que se dirigiu a Dilma, se era subordinado a José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras? No dia seguinte, Dilma reclamou da determinação do TCU de paralisar obras públicas do governo federal: "É impossível a paralisação. Os custos são grandes". Lula deu-lhe razão.
QUASE QUATRO MESES depois, Lula vetou uma decisão do Congresso que suspendia a execução de quatro obras da Petrobras salpicadas de fortes indícios de corrupção apontados pelo TCU. Em momento algum, Lula falou em corrupção. Ao justificar seu veto, preferiu se referir vagamente a "pendências", informa o jornal "O Estado de S. Paulo". O veto acabou mantido pelo Congresso de maioria governista.
GRAÇAS À DECISÃO de Lula, a Petrobras injetou mais de R$ 13 bilhões nas refinarias Abreu e Lima e Getúlio Vargas, e em complexos petroquímicos do Rio de Janeiro e de Barra do Riacho, no Espírito Santo. As quatro obras foram superfaturadas. Nos governos de Lula e Dilma, a Petrobras virou o maior cliente das empreiteiras cujos donos e principais executivos acabaram presos há dez dias. Por sinal, Lula viaja pelo mundo à custa deles.
O TCU CALCULA QUE a Petrobras, nos últimos quatro anos, fechou negócios no valor de R$ 70 bilhões. Desse total, cerca de 60% não dependeram de licitação. Um negócio no Espírito Santo, por exemplo, rendeu à empreiteira Mendes Júnior o adicional de R$ 65 milhões pagos pela Petrobras por causa da saúva-preta, uma espécie de formiga em extinção cuja descoberta teria atrasado a obra em 15 dias.
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