• Escândalo na estatal acentuou o desprestígio da economia e das finanças do Brasil, mas é possível conter efeitos colaterais da crise
A pressão dos mercados financeiros elevou-se de modo considerável assim que foi desencadeada a sétima fase da Operação Lava Jato, com prisões e outras medidas coercitivas levadas a cabo pela Polícia Federal no dia 14.
De súbito, o crédito do Brasil, do governo e das empresas deteriorou-se. Subiram as taxas de juros que investidores demandam para manter ou adquirir títulos brasileiros, dívidas do governo e de empresas; o dólar desvalorizou-se, assim como o preço das ações.
A crise acentuou o desprestígio da economia e das finanças nacionais, em tendência de baixa neste ano. Mostrou, ainda que de modo exagerado, como as incertezas geradas pelo escândalo da Petrobras podem contribuir para uma piora adicional das condições do crédito e do investimento no Brasil.
No entanto, assim que se reforçavam as notícias de que a presidente Dilma Rousseff (PT) nomearia uma equipe ministerial rigorosa no trato de assuntos econômicos elementares, a fase aguda de pressão financeira foi atenuada.
Eis um sinal de que a restauração de um mínimo de racionalidade pode conter os efeitos colaterais do inquérito sobre corrupção na maior empresa do país.
Não que o aprimoramento da política econômica vá dissipar de pronto a incerteza sobre estatais, grandes empreiteiras, o futuro das obras de infraestrutura ou do mercado de capitais. Vislumbra-se, todavia, um modo de frear a crise.
A Petrobras ainda é um caso crítico. Terá de registrar perdas devido aos superfaturamentos. Viu-se obrigada pelo governo a seguir um programa de investimentos ambicioso demais enquanto sofre prejuízos por causa da política de compra de insumos nacionais e do controle de preços de combustíveis.
Assim como outras estatais, a Petrobras se tornou instrumento de uma política econômica equivocada e teve de bancar remendos desse plano de ação fracassado.
Há grande desconfiança em relação às empreiteiras, sobre sua capacidade futura de firmar contratos públicos e de se financiar no mercado. A fragilidade nas contas da Petrobras lança dúvidas sobre a continuidade dos investimentos.
A combinação dessas incertezas põe um grande ponto de interrogação sobre as obras de infraestrutura, que emperram o crescimento.
Essas manifestações de descrédito não são mera mancha na reputação do país e de seu mercado. Traduzem-se em dificuldades de financiamento, em taxas de juros maiores e propensão menor a investir no Brasil e em suas empresas.
Há como sair da crise, ressalte-se. Uma política econômica racional e a administração empresarial das estatais pode não apenas conter a marcha do descrédito mas também revertê-la ao fim de 2015.
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