Raquel Ulhôa - Valor Econômico
BRASÍLIA - A necessidade de manter a interlocução com uma das Casas do Congresso levará a presidente Dilma Rousseff a buscar uma reaproximação com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Aliados do pemedebista garantem que as portas não estão fechadas, mas que a melhora na relação está condicionada à mudança da condução da economia e da articulação política - que chamam de "refundação do governo".
Por sobrevivência política do grupo, outra condicionante apontada é a melhoria dos índices de popularidade de Dilma. Se ela continuar muito desgastada, terá dificuldade. Renan está dando início aos entendimentos para as alianças eleitorais para 2016. E a aprovação da presidente em Alagoas não é boa. O pemedebista tem aliados em 98 das 102 prefeituras e quer manter essa base.
Para quebrar a aliança de Renan com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rompido com o governo, a ideia de Dilma seria devolver ao presidente do Senado o papel central na articulação política e o de principal interlocutor do Planalto no Congresso que ele teve nos governos Lula e no seu primeiro mandato.
A disposição de Dilma é revelada por interlocutores da presidente, segundo os quais ela finalmente está "mais atenta" à gravidade da crise política e disposta a melhorar a relação com o Supremo Tribunal Federal (STF). Ou seja, fazer aquilo que deveria ter feito no início da Operação Lava-Jato e não fez por subestimar a investigação.
Para governistas empenhados em aproximar Dilma e Renan, poderia haver uma articulação do Planalto com o STF para poupá-lo de eventual denúncia na Lava-Jato. A tese é que "apenas o presidente de uma Casa do Congresso pode morrer; o outro tem que ser preservado". Renan é tido como "mais maleável" e alguém que sempre teve papel importante na relação do governo com o Legislativo. Teria começado a impor derrotas ao governo quando perdeu interlocução, especialmente quando o vice-presidente Michel Temer passou a cuidar da articulação.
Aliados de Renan rechaçam a possibilidade de o pemedebista trocar apoio ao governo por benefício no Judiciário, já que estaria tranquilo com a falta de consistência das acusações contra ele. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse em depoimento que o deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE) negociou com empreiteiros pagamento de propina em nome de Renan. O deputado negou ser emissário do presidente do Senado.
Apesar do discurso de ministros palacianos minimizando as críticas de Renan ao governo em gravação para a TV Senado, o governo teme enfrentar eventual oposição de Renan e Cunha. Eles acham que Renan tem dado sinais de estar aberto a uma aproximação, como o fato de ter adiado para a primeira semana de agosto a leitura do requerimento de criação da CPI do BNDES. Poderia ter lido antes do recesso branco, mas deu mais prazo para senadores que assinaram mudarem de posição.
A análise feita por aliados de Dilma a ela é que impopularidade todo governo tem, principalmente em momentos de situação econômica ruim. Mas o que mantém a impopularidade é a corrupção, representada hoje pela Operação Lava-Jato. "Então, o que o governo pode fazer é distensionar a Lava-Jato", diz um interlocutor de Dilma.
Dentro do PMDB, um aliado fez ontem declarações contundentes sobre o rompimento de Cunha com o governo federal. O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, afirmou que a atitude do correligionário "não soma nada" para o país. "Temos que lutar pela governabilidade."
Presente ao velório do prefeito do Rio, Luiz Paulo Conde, Pezão disse ter conversado com outros governadores, do Sudeste e do Nordeste, que estariam pensando o mesmo. "Tenho feito essa discussão com todos os governadores. Hoje os 27 governadores querem a governabilidade. Estamos fazendo um ajuste fiscal, um esforço imenso para ajudar o país. Acho que o Congresso Nacional, o Senado, a Câmara, também têm que fazer esse esforço", afirmou. (Colaborou Cristian Klein, do Rio)
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