• Para jornal britânico, sistema político brasileiro é ‘ podre’, e possíveis sucessores de Dilma são ‘ medíocres’
Levy tem sido minado por outros que acreditam que o Brasil pode voltar a gastar para resolver seus problemas, diz FT
O Globo
O jornal britânico “Financial Times” publicou ontem em seu site um editorial em que diz que “a economia do Brasil está uma bagunça”, que o país vive “a pior recessão desde a Grande Depressão”, ocorrida na década de 1930, e que a eventual saída da presidente Dilma Rousseff do cargo “só resultaria num político medíocre ( sendo) substituído por outro”.
No texto que foi ao ar no meio da tarde, a publicação destaca que a economia brasileira encolherá em até 3% neste ano e 2% em 2016. Sinal de que as finanças públicas do Brasil “estão em desordem”. O jornal lembra que e o endividamento público voltou a crescer e que a agência Standard & Poor’s rebaixou a nota de crédito do país na semana passada para a categoria especulativa.
Olhando para um cenário externo também conturbado — com a desaceleração da China, o colapso dos preços das commodities e a expectativa de alta de juros nos Estados Unidos —, o jornal afirma que “o Brasil está no início de um extremo estresse econômico”. Mas diz que não foram os problemas econômicos e, sim, a crise política que embasou, de forma mais ampla, a decisão da Standard & Poor’s.
“Dilma Rousseff, a presidente, não é querida pelo seu próprio partido e é profundamente repudiada por muitos: é a presidente com menos popularidade na história do Brasil”, ressaltou o “FT”. É isso, frisa o jornal, que faz com que seja impossível a ela responder com propriedade à turbulência econômica. Mas o Congresso também é alvo de críticas da publicação: “está mais focado em salvar sua própria pele da investigação sobre corrupção bilionária envolvendo a Petrobras”.
Para o “FT”, uma ampla renovação política seria uma solução, mas “há pouca chances de que isso ocorra antes das eleições de 2018”. O “FT” diz que o sistema político brasileiro “é notadamente podre” e agora “não está funcionando”.
A publicação enxerga um risco sério no horizonte. “Se outra agência de rating seguir a decisão da S& P, muitos investidores estrangeiros terão de vender suas aplicações no Brasil, tornando as coisas piores”. O texto pontua que cerca de um quinto da dívida do Brasil é de propriedade de estrangeiros.
Citando um senador petista sem revelar seu nome, o jornal abriu seu editorial com uma imagem triste. “Se o Brasil fosse um paciente internado em um hospital, os médicos da UTI o diagnosticariam como um paciente terminal. O fígado não funciona mais, e o coração vai parar em breve”.
O jornal mantém, no entanto, posição contrária à saída da presidente, lembrando episódios recente da história do Brasil. “A impopularidade de Rousseff é razão insuficiente para tirá- la do cargo: se fosse suficiente, o ex- presidente Fernando Henrique Cardoso, que estabeleceu as bases da estabilidade econômica desperdiçada agora pelo Brasil, não teria durado em seu segundo mandato”.
O jornal britânico ainda disparou contra aqueles que constitucionalmente poderiam suceder Dilma. Para o “FT”, sua saída “só resultaria num político medíocre substituído por outro. Na linha sucessória há Michel Temer, o vicepresidente, Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, ou Renan Calheiros, o presidente do Senado. Os dois últimos enfrentam acusações de corrupção”, lembrou a publicação em referência à Operação Lava- Jato.
O ministro da Fazenda Joaquim Levy também foi alvo de análise. O jornal diz que ele “tem liderado as tentativas de cortar o inchado setor público brasileiro”, mas que “tem sido minado por outros que acreditam erroneamente que o Brasil pode voltar a gastar para escapar de seus problemas”. O “FT” conclui, destacando que se Levy deixar o cargo, “os investidores adotarão uma visão sombria da capacidade do governo de endireitar as contas públicas”.
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