Por Andrea Jubé - Valor Econômico
BRASÍLIA - O Palácio do Planalto e o PT querem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais presente em Brasília para evitar que o PMDB deixe o governo. Petistas temem o desembarque do principal aliado, o que pode ser decidido no congresso do partido convocado para novembro. Lula tem atuado como bombeiro na relação entre a presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer. No último encontro, há dez dias, Lula recomendou a Dilma que se reaproximasse do PMDB.
Lula e Temer se reuniram em São Paulo, no dia 5, na residência do vice-presidente. O encontro ocorreu dois dias depois da declaração do pemedebista que gerou perplexidade no palácio. Lula queria ouvir pessoalmente do vice as explicações sobre sua manifestação de que seria "muito difícil" para Dilma, com 7% de popularidade, completar o mandato. "Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo", declarou a empresários.
Lula disse ao vice-presidente que Dilma errou ao se afastar dele e do PMDB, relataram ao Valor PRO interlocutores de ambos. Por sua vez, Temer retrucou que está do lado do governo, disposto a ajudar, tanto que aceitou assumir a articulação política em abril. Mas relatou ao ex-presidente os boicotes que sofreu do palácio em sua atuação.
A presidente Dilma foi consultada e concorda com a estratégia. Além de assessores próximos, um dos defensores de que Lula passe mais tempo em Brasília é o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, que após discutir o tema com Dilma, levou o assunto a Lula. Pimentel e o ex-presidente se encontraram em Montes Claros, no norte de Minas, há 15 dias.
Contudo, o próprio Lula é refratário à ideia. Primeiro, porque Dilma ouve, mas não executa boa parte de seus conselhos, o que o deixa irritado. Em segundo lugar, porque ele próprio tenta se resguardar em meio aos desdobramentos da Operação Lava-Jato. Na sua edição desta semana, a revista "Época" divulgou que a Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-presidente seja ouvido nas investigações. Nesse cenário, uma ofensiva em Brasília para mergulhar na crise de um governo náufrago aprofundará o desgaste de sua biografia que ele se empenha em preservar. Mesmo assim, Lula disse a interlocutores que cogita voltar a Brasília este mês.
"Eu tenho sentido o Lula distante e desanimado, duvido que ele se disponha a vir mais a Brasília", afirma um petista com trânsito no Planalto e no Instituto Lula. Ele atesta que Lula tem razão quando afirma que apesar das centenas de recomendações, Dilma não se dispõe a colocá-las em prática.
Um dos exemplos mais recorrentes de que Dilma não ouve o antecessor é a recomendação para substituir o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Lula queria o titular da Defesa, Jaques Wagner, em seu lugar. Ao ouvir reclamações sobre a falta de habilidade política do ministro, Lula costuma responder que Mercadante transformou-se no que Dilma foi para ele no segundo mandato, um braço-direito essencial na gestão da máquina. Diz que Dilma deveria fazer como ele, oferecer o ombro para os ministros contrariados com o chefe da Casa Civil deitarem as cabeças.
O ex-presidente está inconformado com a repetição de erros do Planalto. O exemplo mais recente é a reforma administrativa e ministerial, que Dilma conduz a seis mãos com os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do Planejamento, Nelson Barbosa. Assim como fez na montagem do segundo mandato, no final do ano passado, e no debate interno sobre a CPMF, Dilma ainda não chamou Temer ou representantes do PMDB para discutir as mudanças no primeiro escalão, embora a iniciativa tenha sido anunciada há 20 dias.
Apesar da pouca disposição de Lula, um ministro petista disse ao Valor PRO que a aposta principal do governo para sair da crise continua sendo o ex-presidente. "Ele investe todas as fichas no PMDB", diz o auxiliar presidencial. Para a atuação no chamado "varejo" político - negociação de cargos e liberação de emendas parlamentares -, a que Temer renunciou, Dilma quer chamar de volta o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, que é do PT e tem bom trânsito com o PMDB.
Desde o começo do ano, Lula já participou de três encontros com a cúpula do PMDB, sendo que Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) e o ex-presidente José Sarney são os interlocutores preferenciais. Mas o PMDB divide-se quanto à eficácia da estratégia. Um ministro da sigla disse ao Valor PRO que o partido prefere Lula como interlocutor, mesmo que ele não seja integralmente ouvido no governo. "Se você tem Dilma e Lula para dialogar, preferimos Lula", afirmou. Outro cacique do PMDB, contudo, pondera que o antecessor de Dilma não influi mais no governo. "Não sei se poderá ajudar", questiona.
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