Indicadores recém-divulgados pelo Banco Central e pela Fundação Getulio Vargas mostram que a economia brasileira voltou a encolher no segundo trimestre, embora com expansão em junho.
Pelos critérios da FGV, o atual ciclo recessivo completou nove trimestres, com queda do PIB estimada entre 7% e 8% –o bastante para inscrevê-lo entre os quatro mais graves computados desde pelo menos a década de 1930.
Será exercício inglório apontar o pior deles, dadas as mudanças nas metodologias de apuração e os diferentes contextos históricos envolvidos. Os efeitos de retrações tão severas, ademais, transcendem o mero registro estatístico.
Tome-se a crise de 1930-31, na esteira da Grande Depressão norte-americana, que derrubou as exportações de café nas quais se amparava a renda nacional. O enfraquecimento da oligarquia agrária marcou o fim da República Velha; o país deu início ao processo de industrialização e urbanização impulsionadas pelo Estado.
A ofensiva desenvolvimentista entrou em colapso no início dos anos 1980, quando a dívida externa do país tornou-se impagável. A brusca escalada dos preços e do desemprego conferiu novo relevo ao sindicalismo, com a ascensão de Lula, e intensificou as pressões pelo fim do regime militar.
Ao final da que se convencionou chamar de década perdida, nova derrocada seguiu-se ao Plano Collor, que chegou ao extremo de confiscar depósitos bancários na tentativa de domar a hiperinflação.
Com a deposição do primeiro presidente eleito após o fim da ditadura, inaugurou-se a era das amplas coalizões partidárias e disputas presidenciais polarizadas entre petistas e tucanos.
A recessão iniciada em abril de 2014 parece já ter deixado para trás seu pior momento. O avanço do impeachment de Dilma Rousseff (PT) coincidiu com a melhora dos índices de confiança de empresários e consumidores, e os primeiros sinais de recuperação surgem no setor industrial.
A crise, entretanto, vai muito além das flutuações periódicas do PIB. O aumento contínuo dos gastos públicos, inclusive os de cunho social (base da sustentação dos governos pós-restabelecimento da democracia), ultrapassou limites orçamentários. Acentuou-se o descrédito da classe dirigente, a reboque da exposição dos vícios do presidencialismo nativo.
As sequelas tendem a se perpetuar enquanto persistirem gargalos —do desequilíbrio orçamentário à fragmentação partidária, do corporativismo à corrupção. Em outras palavras, até que o país renove o modo de gerir a atividade produtiva e mediar conflitos políticos.
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