• Paulo Ferreira é terceiro responsável pelas contas do partido a ter denúncia aceita por Moro
Cleide Carvalho - O Globo
-SÃO PAULO- O ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira e outras 13 pessoas são agora réus na ação penal que investiga pagamento de propina no contrato para as obras do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Cenpes), da Petrobras, no Rio de Janeiro. O juiz Sérgio Moro aceitou ontem a denúncia feita pelo Ministério Público Federal, que teve como base as investigações da 31ª fase da Operação Lava-Jato. Ferreira é o terceiro ex-tesoureiro do PT a virar réu por envolvimento em corrupção. Ele está preso em São Paulo desde 24 de junho, também acusado de receber propinas da empresa Consist, numa investigação desmembrada da Lava-Jato e que envolve ex-integrantes do Ministério do Planejamento.
Delúbio Soares foi réu no mensalão e responde a uma ação penal na Lava-Jato, acusado de intermediar um empréstimo feito no Banco Schahin, para cobrir dívidas do PT, em nome do pecuarista José Carlos Bumlai. O ex-tesoureiro João Vaccari Neto já foi condenado em duas ações penais da Lava-Jato e é réu em mais seis ações em andamento — a pena de Vaccari, até agora, soma 24 anos e 4 meses de prisão.
Ex-colega de partido virou delator
O envolvimento de Paulo Ferreira no esquema foi delatado por Alexandre Romano, um ex-vereador do PT que usou empresas para repassar propina e se tornou colaborador da Lava-Jato. Em depoimento, ele afirmou ter recebido R$ 1 milhão em propinas do Consórcio Novo Cenpes. Parte do dinheiro foi repassada a Ferreira, que indicava contas para que fossem feitos os depósitos. Além de indicar contas de parentes e de um blog que fazia matérias favoráveis a ele, o petista pediu também que fossem feitos depósitos a uma escola de samba que lhe ajudava a angariar votos.
Segundo Romano, foram feitos depósitos à ONG Sociedade Recreativa e Beneficente Estado Maior da Restinga e a Viviane Rodrigues, madrinha de bateria da escola. Os pagamentos à escola somaram R$ 45 mil — um cheque de R$ 20 mil e cinco cheques de R$ 5 mil. Viviane recebeu por meio de 18 transferências eletrônicas, entre 2010 e 2012, R$ 61.700.
Foi anexado ao processo um link de internet que mostra uma homenagem da escola de samba a Ferreira, em seu aniversário de 53 anos. “Paulo Ferreira é uma figura muito querida junto a Estado Maior da Restinga, sempre auxiliando e apoiando a escola de samba da nossa comunidade, bicampeã do Carnaval de Porto Alegre (2011/2012). E por este motivo a escola não poderia deixar de estar presente nesta festa, levando parte de seus integrantes para fazer um grande show para animar o aniversariante e seus convidados”, diz uma nota, que afirma que ele ajuda a comunidade e conta com o apoio de seus integrantes.
Propina chegou a R$ 20,6 milhões
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, para conseguir o contrato, o Consórcio Novo Cenpes (OAS, Carioca Engenharia, Construbase Engenharia, Schahin Engenharia e Construcap CCPS Engenharia) pagou R$ 20,6 milhões em propinas, entre 2007 e 2012. O valor inicial da obra, previsto em R$ 850 milhões, superou R$ 1 bilhão.
A Operação Abismo incluiu construtoras que participaram esporadicamente do cartel da Petrobras, como Construcap e Construbase, além de outras de grande porte, como Carioca EngeJato. OAS e o Grupo Schahin. Executivos da OAS já foram condenados por participação no esquema de fraudes na Petrobras.
Também foi identificada a participação de profissionais de lavagem de dinheiro, como Adir Assad, Roberto Trombeta e Rodrigo Morales. Os três disponibilizavam dinheiro em espécie às empreiteiras para que fossem feitos pagamentos a agentes públicos ou políticos. Segundo o MPF, Morales e Trombeta teriam lavado R$ 2,8 milhões do Consórcio Novo Cenpes. Adir Assad, por sua vez, movimentou R$ 2,1 milhões recebidos da Carioca Engenharia.
Alexandre Romano, que atuava como operador de propina, recebeu dinheiro das empresas Construba-se (R$ 480 mil), Schahin (R$ 224.094,66) e Construcap (R$ 341.900).
Outros US$ 711 mil foram transferidos por um dos dirigentes da Carioca para um banco na Suíça e, posteriormente, repassados a Mário Góes e Pedro Barusco, que não foram denunciados nesta ação por já serem colaboradores da Lavanharia, Os donos da Carioca também fecharam acordo de colaboração e um deles deixou de ser denunciado pelos procuradores.
Duque também é réu
Além do ex-tesoureiro do PT, é réu na ação o exdiretor da Petrobras Renato Duque, acusado de cobrar percentual sobre os valores dos contratos para repassar ao PT. Assim como Vaccari, Duque também já foi condenado na Lava-Jato e responde a vários processos.
Os oito representantes de empresas que se tornaram réus são: Agenor Franklin Magalhães Medeiros (OAS), José Aldemário Pinheiro Filho (OAS), Ricardo Backheuser Pernambuco (Carioca Engenharia), José Antônio Marsílio Schwarz (Grupo Schahin), Genésio Schiavinato Júnior (Construbase), Erasto Messias da Silva Júnior (Construtora Ferreira Guedes), Edison Freire Coutinho (Grupo Schahin), Roberto Ribeiro Capobianco (Construcap).
A Construbase, a Construcap e a OAS informaram que não vão se manifestar. Ao site G1, a Construtora Ferreira Guedes afirmou que não teve qualquer relação com a Petrobras e que o executivo Erasto Messias da Silva Júnior exercerá seu direito de defesa para esclarecer os fatos. A defesa de Renato Duque informou que irá se pronunciar nos autos.
O contrato do Cenpes teria envolvido ainda corrupção no setor privado. A WTorre, segundo Ricardo Pernambuco, da Carioca Engenharia, teria vencido a licitação, mas teria aceitado receber R$ 18 milhões para sair da disputa. A WTorre negou a acusação. Seus representantes não foram denunciados pelo MPF.
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